CAPÍTULO I

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BOA LEITURA❤️

      Não sei ao certo que horas são, por volta das três da manhã ao acho, não consigo dormir, já virou rotina. Dormir tarde, acordar cedo. Através da janela, pequenos raios prateados da lua iluminam meu quarto, o ar gélido entrava. Encarando o teto do meu quarto percebi o tamanho da saudade que sinto do meu pai. Ele me chamava de "minha estrelinha". Quando era mais nova, ele criou esse quarto inteiro para mim, desde a planta, até a pintura ele pensou em tudo. Essa, é uma das poucas coisas que ainda resta dele nessa casa.
     
     Meu pai foi embora de casa, depois de uma briga com minha mãe... Quando eles se separaram eu tinha cinco anos de idade. Naquele dia uma parte de mim foi embora com ele.

   Desde aquele dia nunca mais vi meu pai. Ele era meu herói, a pessoa que eu me espelhava. Um homem de caráter, que amava a família, trabalhador e o mais importante: meu PAI.

   Ele sumiu, não me ligava, não me escrevia, eu só sabia que ele estava vivo, porque minha mãe as vezes me atualizava de notícias suas, coisa que acontecia quando ele depositava minha "mesada", que era um pouco exorbitante comparada com as demais. Acho que ele se sentia culpado por te me abandonado, e tentava pelo menos me dar uma boa vida.

   Miguel é o nome dele. Meu pai é um grande CEO, sua empresa fábrica carros. É graças a isso que estou em uma das melhores universidades do país.

  Eu sentia saudades dele. Talvez se ele tivesse me levado com ele, eu não teria a vida que tenho hoje.

Talvez eu fosse feliz.

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     O dia está amanhecendo, raios amarelados invadem meu quarto. Mais um dia! Eu me pergunto quando eles vão acabar. Pessoas normais ficam felizes, por terem acordado vivas...
    
       Bom, eu não sou assim, a cada novo dia, eu só peço para que alguém pegue minha vida. Sou tão imprestável e fraca, que não consigo ao menos cometer um suicídio, não que nunca tenha tentado. 
Eu não iria reclamar se alguém me matasse, seria um favor imenso! Mas, quando esse dia chegar, eu torço para que minha morte faça mais sentindo que a minha vida!

Mais um dia!

    Com um suspiro profundo levanto da cama, meu corpo todo está dolorido. Eu estou cansada, física, emocional e psicologicamente! Minha cabeça dói, consequência de mais uma noite mal dormida! Em passos lentos vou até ao banheiro, tiro meu pijama e me olho no espelho.
   
    Uma pessoa normal se assustaria se visse meu reflexo, mas para mim, já é algo comum! Meus olhos estão opacos  com olheiras fundas, e arroxeadas. Em minhas costelas marcas roxas, e vermelhas, sinais da minha última surra! Em minha bochecha tem uma marca vermelha, meu lábio inferior está cortado. Ao redor dos meus seios tem marcas de mordidas, e chupões, como no resto do meu corpo!

  Observo meu corpo. Eu era considerada bonita pela maioria das pessoas, com cabelos longos, e pretos. Olhos castanhos claros, pele branca. Puxei esses traços do meu pai. Mas, eu não me achava bonita, e essa "beldade" que a maioria via, era como uma maldição pra mim.
 
    Entro no box do banheiro, e enquanto a água gelada passeia por meu corpo, eu me pergunto até quando eu vou viver assim! A resposta, bom eu ainda não sei. Mas peço dia após dia para que essa tortura acabe logo!
     
    Tomo um banho demorado, minha pele se enruga com a constante água gelada. Pego uma esponja, e sabonete. Esfrego minha pele com força, tudo que eu queria era não sentir mais. No entanto, eu ainda sinto seu toque asqueroso em minha pele. É como se ele ainda tivesse me tocando, e isso faz com que eu me esfregue mais!
   
   Desligo o chuveiro e saio do box, minha pele está vermelha, com respingos de sangue e enrugada. Eu não sinto a dor. Volto para a pia, escovo os dentes e penteio o cabelo.
  
Meus olhos encontram um pequeno objeto brilhando em cima da pia. Minha companheira. Pego a lâmina de barbear, e a levo até meu braço, mil coisas passam por a minha cabeça. Meu padrasto, minha mãe, meu pai, minha vida patética. Os cortes recém sarados se abrem novamente.

Vai. Volta. Vai. Volta.

Não sei quantas vezes a lâmina já correu pelos meus braços, inúmeras eu acho, já não consigo ver minha pele. Apenas sangue.

    Lembro da primeira vez que me cortei. Primeiro o medo de alguém perceber, depois o choque por ter feito aquilo comigo, no fim o conforto de depositar pelo menos uma parte da minha dor em algo. Automutilação é como um vício, primeiro você começa, achando que pode parar a qualquer momento, é só você querer. Não é verdade, depois de um tempo, você percebe que é dependente da lâmina para aliviar sua dor.
   
     Fico algum tempo olhando o sangue descer, e pingar na pia. Pinga. Pinga. Pinga, escorre pela cerâmica branca, e some no ralo. Ouço passos no corredor e acordo do meu transe. Minha mãe já acordou. Lavo meus braços, pego uma toalha, saio do banheiro e vou me trocar. Uma calça jeans preta, moletom preto, e um tênis.
    
      Olhos a hora, pego meus fones, minha mochila e saio do quarto. Desço as escadas, na cozinha está minha mãe de costas mechendo algo no fogão. E meu padrasto na mesa, quando nota minha presença ele me olha de cima a baixo, e me lança um sorriso nojento, cheio de malícia.
     
      Estremeço diante da cena. Meu corpo fica tenso, e minha respiração presa na garganta.
     
   -- Bom dia Elisabeth! __ sua voz me faz tremer ainda mais! __ maneio com a cabeça. Seu olhar fica escuro, e seu maxilar tenso.

   -- Bom dia Carlos.__ Ele me lança um sorriso, sei que ele não vai deixar isso barato, e depois vai querer me punir por não querer respondê-lo. Ou ele vai simplesmente procurar alguma razão para praticar tal ato.

   -- Bom dia filha! __ Minha mãe está com um sorriso gentil no rosto. E é isso que me faz ter o mínimo de força para levantar da cama. É esse sorriso que não me deixa tirar a minha vida.

    Ela coloca panquecas no prato. Eu não tenho apetite, mais sei que se não comer, ele vai me bater depois.

    Sento na mesa e tomo café preto, e como uma panqueca. Eu sinto Carlos me olhando. E isso me faz me encolher cada vez mais na cadeira. Quero sumir!
   
   -- Tchau mãe. __me levanto da mesa as pressas, mas antes que eu atravesse a porta da cozinha, sua voz chega aos meus tímpanos.

  -- Até logo Elisabeth!__  Para muitos, isso pode até ter uma simples despedida. Para mim não, isso é uma promessa. Que apenas nós dois sabemos o significado. Meu corpo estremece, e minha garganta fica seca.

    -- Tchau Carlos. __ Saio quase correndo de casa. Dirijo meu carro pelo tráfego da cidade, o trânsito não está tão movimentado, ainda não é o horário de pico. Eu sempre saio cedo de casa! Quando mais cedo sair, menos eu tenho que olhar para ele!

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     Estaciono em uma das vagas da universidade. Coloco meus fones, puxo meu capuz e saio do carro. Varri o estacionamento com os olhos, mas não encontro o carro de Will. Bato a porta do automóvel, e saio andando em direção a Universidade.
    
    Will é meu único amigo. Eu não sou muito sociável, desde que Carlos entrou nas nossas vidas, minha e da minha mãe. E ele também não me quer com amigos. Então, tenho apenas William.
   
  Will é um cara legal, ele não desistiu de mim quando eu tentei me afastar dele. Tentei várias vezes, e de diferentes maneiras. Eu já sou amiga dele tem uns dois anos, mas, ainda tenho medo, por que por mais que Will tenha preferências por homens, meu padrasto ainda é um lunático, tenho medo do que ele pode fazer.
   
   Ele não sabe tudo sobre mim, ou o que acontece quando eu estou em casa, não falo sobre nada. Mas, acho que desconfia. Ele faz psicólogia, então costuma ser bem atento a tudo que acontece a seu redor. Ele já  tentou dá uma de psicólogo pra cima de mim, o que causou uma baita briga entre nós dois. Hoje ele não toca mais no assunto.

   
        🛑RECADO IMPORTANTÍSSIMO!🛑
   
    Se você já sofreu, ou sofre algum tipo de violência, seja ela física e/ou sexual, ou sofre tortura psicólogica. NÃO SE CALE, DENUNCIE!
   
    Seja ela (Violência) dentro de casa ou não. E não importa se foi seu pai, seu avô, seu tio, amigo, ou até mesmo sua mãe. DENUNCIE!!!
   
   Você não está sozinho nessa! Precisa de ajuda? Ligue para as autoridades.
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    Deixa a estrelinha, e comenta o que cê tá achando da história.
   
    Sei que é um assunto pesado.
   
Meu coração ficou pequeninho de tão apertado por escrever esse capítulo. 😭😭😭💔

O silêncio de Elisabeth (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora