CAPÍTULO X

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BOA LEITURA ❤️

SAN DIEGO/CALIFÓRNIA (EUA)

Puxo o ar, buscando desesperadamente senti-lo adentrar nos meus pulmões. Mas não o sinto, apenas água queimando minhas narinas, e descendo por minha garganta.

Eu me debato, o instinto de sobrevivência falando alto. Tento sair da banheira, porém as mãos fortes de Carlos de afundam, meus olhos ardem devido aos produtos que estão dentro da água. 

Minha vista começa a ficar turva, pontinhos brancos aparecem em meio a escuridão que tenta me tomar. Meu corpo começando a ficar leve.

Em um impulso, sinto o ar voltando a correr em meus pulmões, inspiro o máximo que consigo. Apreciando. Sentindo o quanto é bom voltar a respirar.

Não sinto mais as mãos do meu padrasto em meu corpo, uma sensação momentânea de alívio me invade. Sensação essa que se dissipa no ar, quando escuto o soar do zíper.

Olho para o lado, e lá está. O monstro com quem sou obrigada a conviver, com o desejo estampado no rosto, a excitação evidente em seu membro.

A calça e cueca jogada em algum canto do banheiro, meu estômago começa a se agitar. Olho para minhas mãos, estão enrrugadas. Não sei quanto tempo passei aqui na banheira, a água já está fria. Então presumo que a muito tempo.

Olho ao redor, o banheiro está um caos, água espalhada por todo o piso, sinal da tortura que passei a alguns minutos atrás.

Me sinto estranha.

Carlos me puxa da banheira, estou aérea demais para ter alguma reação. Ele apoia minhas mãos na pia. Ele fala algo, não consigo entender, meus ouvidos parecem tampados, e meus pensamentos trabalham em uma lentidão gigantesca.

E mais uma vez, ele abusa de mim, sinto seu membro me invadindo. A dor gritante me invade. Tento não pensar, mas como posso fazer isso?

Como posso fingir que isso não está acontecendo comigo, quando sinto uma dor enorme na minha intimidade, quando sinto o órgão genital do meu padrasto me invadindo, quando sinto um buraco tão grande dentro de mim, que tenho vontade de morrer.

Levanto a cabeça, e olho para frente, o espelho reflete a imagem de um ser que eu não conheço! Do que restou de uma pessoa, uma pessoa totalmente quebrada. Sem esperanças, sem alegrias. Sem ninguém. Me sinto sozinha.

O buraco no meu peito se expandindo, as lágrimas descem desenfreadas no meu rosto. Eu não quero mais isso! Me tirem daqui! Alguém por favor!

Alguns dizem que os olhos são as janelas da alma. Bom, eu não sei se ainda há alguma coisa em mim. Porque a única coisa que vejo através dos meus olhos é escuridão. Uma escuridão que está me tomando. Me levando embora. Levando para sempre a menina sonhadora, que um dia habitou em mim.

Vejo no reflexo Carlos vestindo as roupas e saindo do banheiro. Eu continuo lá, olhando para o que ainda resta de mim.

Não sinto dor, nem tristeza, nem.... Nada!
É isso que estou sentindo, nada. Apenas um oco, como um casúlo sem importância, onde a borboleta que havia nele, foi embora, e só resta um vácuo enorme.

Pego o roupão que estava ali, me enrolo e saio do banheiro. Um passo de cada vez. Tento pensar em apenas um motivo, um único motivo, pelo qual eu deveria viver sequer um dia a mais nesse inferno.

No quarto o silêncio se instala, um silêncio tão ensurdecedor, que eu seria capaz de  ouvir um alfinete cair no chão. Meu coração se parte, quando nesse silêncio eu encontro a resposta que eu tanto ansiava, mas não queria acreditar que poderia realmente ser verdade. Não tenho algo ou alguém a que me prender. Algo que me dê esperança, esperança que amanhã será um dia melhor, que me faça querer levantar, e lutar por isso.

Sinto a dor se instaurando no meu peito, me mostrando que estou sozinha. Sozinha sem ninguém que me ame, que me proteja. Sem ninguém para lutar comigo, ou até mesmo por quem eu lutar. Olho ao redor do meu quarto, muitas lembranças, a maioria delas dolorosas demais para serem recordadas.

No teto as estrelinhas que meu pai pintou, brilham lindamente, me lembrando das palavras que Carlos me dissera, em uma das surras que ele me dava.

"Nem mesmo teu pai te quis."

O desespero começa a me tomar. Ando de um lado para o outro. Me afogando em mágoa.

"Ele te abandonou."

Como eu queria não acreditar naquelas palavras, mas por mais que meu coração não quisesse acreditar, meu cérebro gritava que era verdade.

"Ninguém te ama de verdade."

Paro de andar. As palavras do meu padrasto rodando em minha cabeça como um carrossel. E me acertando no fundo do coração como um punhal afiado.

Eu não sabia de onde vinha tantas lágrimas. Mas elas brotavam dos meus olhos, em minha garganta um bolo começava a se formar.

Olho para a porta do banheiro, decidida a entrar lá, trancar a porta, pegar a lâmina de barbear, cortar os pulsos e sangrar até não haver mais nenhuma gota de sangue no meu corpo.

Disposta a jogar tudo pro alto, e finalmente por um fim nos meus tormentos. Um sorriso se estica em meus lábios, quando me pego imaginando como deve ser, sem dor, sem abusos, sem surras.

Dou o primeiro passo, e a vontade de fazer isso aumenta.

Segundo passo, e a euforia de realmente conseguir um pouco de paz, me atinge.

Terceiro passo, e mais nada ao meu redor importa.

Chego a porta.

Agora é só entrar lá, e acabar com isso, Elisabeth!

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Bjs jujubas ❤️😍⭐

O silêncio de Elisabeth (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora