Capítulo dezoito - Kao

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Capítulo dezoito – Kao

Encaro a foto em minhas mãos e não consigo entender nada. Procuro o meu pai e pergunto quem é a mulher que aparece beijando a minha mãe na foto. Ele tira a foto da minha mão e tenta fugir da conversa. Caminha até seu quarto e se senta na cama.

─ Filho eu realmente preciso descansar. – diz.

─ Cansei de você tentando esconder as coisas de mim pai. – grito alterado. – Fale agora quem é essa mulher e aproveite dizer os motivos que o fazem odiar o pai do meu namorado. – assim que termino a frase, me dou conta de que falei ‟meu namorado e não Earthˮ. Fico nervoso e meu pai me encara, porém não muito surpreso. – O senhor já sabia?

─ Não, mas já esperava. – diz com muita calma. – Entretanto, eu não aprovo essa sua relação. E, como o seu pai eu exijo que se afaste dessa família imediatamente.

Observo o meu pai e admiro a sua tranquilidade na nossa conversa. Ele diz como se meus sentimentos não importassem nisso tudo. O ignoro e me retiro do quarto. Pelo respeito que tenho prefiro evitar brigar com ele, principalmente agora que está em processo de recuperação. Mas ele segue-me e segura o meu braço, paro bruscamente e me viro para encará-lo.

─ Pai, eu não quero brigar. – me solto das suas mãos e ele grita algo que me deixa sem ação.

─ Sua mãe era amante da Grace, a mãe do Earth.

Viro-me e olho para o seu rosto. Vejo nele uma fusão de tristeza, dor e decepção. Por isso ele nunca quis falar sobre o assunto. A minha mãe o traia com outra pessoa.

Não tem como saber como eu me sinto. Lamento pelo meu pai ter sido traído, qualquer um ficaria decepcionado no lugar dele. Porém não condeno a minha mãe por ter se apaixonado por outra pessoa além do meu pai. Tudo que eu via era dedicação da sua parte, e talvez eles tivessem problemas, mas ela nunca deixou que eu e Sao notássemos.

─ É a outra garota da foto... Você pode não se lembrar, mas há alguns anos elas eram muito amigas. As duas nos aproximaram mais e nos tornamos amigos da família do seu... Amigo. – ele para e me mostra a foto. – Sua mãe sempre guardou essa foto. Quando achei, ela disse que era um desafio entre amigas para tirarem fotos dando beijo na boca. Eu acreditei até que vi as duas aos beijos na minha própria casa.

─ Eu lamento por isso pai.

─Por isso mesmo não quero saber de você com o filho da mulher que acabou com o meu casamento. Eu os odeio e não quero mais nenhuma relação entre eles e a minha famíla.

─ Eu o amo. Não posso simplesmente deixá-lo apenas para deixar o senhor feliz. E a minha felicidade? Será que importa?

─ Se você se considera meu filho me irá obedecer. Mas se você deixou de ser então não o quero mais nesta casa, muito menos perto da minha filha. – grita e eu simplesmente saio da sua frente.

─ Kao! – grita chamando pelo meu nome e eu o ignoro. Fecho a porta e caminho pela rua sem rumo.

Meu pai passou dos limites. Desde a morte da minha mãe nossas vidas se tornaram num inferno. Ele nos culpa por ela ter morrido, passou os últimos anos bebendo e criando dívidas sem se importar com o nosso futuro. Fui obrigado a me tornar responsável por cuidar da minha família ainda adolescente e, mesmo assim, ele não se importa se estou ou não feliz.

Neste momento, sinto que devia odia-lo, por tudo isso que tenho guardado, por cada insulto e cada soco que me dava sempre que bebia. Por cada palavra que proferiu apenas para me lembrar de que por minha culpa a mamãe morreu.

─ AAAAAAAA! – grito e dou um soco na parede ao meu lado. A dor que sinto no punho não se compara a que sinto dentro de mim.

Observo ao redor e me vejo num lugar estranho.

Nem sei como cheguei até aqui. Um prédio abandonado e sombrio.

Se a minha mãe estivesse aqui minha vida teria sido diferente, eu não estaria me matando para compensar minha culpa, muito menos para pagar as dívidas do meu pai.

Por causa do álcool ele gastou lentamente tudo que ele conquistou com a nossa mãe. Ele jogou na lixeira todo o seu sacrifício, inclusive o da minha mãe.

─ A senhora teria ficado feliz por eu ter me apaixonado pelo Earth. – digo segurando a vontade que tenho de chorar. – Teria dito ‟faça ele felizˮ por ele ser o filho da mulher que amava.

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Pensei tanto antes de tomar essa decisão, mas eu preciso saber mais sobre o assunto. Quero ouvir da boca da Grace toda a verdade. Eu preciso saber por que a minha mãe traiu o meu pai.

Toco a campainha e respiro fundo.

‟Seu chefe é o marido delaˮ - penso após tocar e fico ainda mais nervoso.

Se for para perder o emprego, então eu me arrisco. Sinto que mereço a verdade.

Uma mulher abre a porta e me deixa entrar. Conduz-me até a sala enorme e observo atento para todos os detalhes. É tudo muito lindo e caro. Nem consigo me lembrar da época em que nossa casa se assemelhava a essa. Infelizmente o meu pai vendeu quase tudo para satisfazer os seus vívios.

Escuto passos e me viro. Assim que nos encaramos ela para e parece reflectir por alguns segundos. Com certeza está surpresa com a minha presença nesta casa. Somente depois de perceber os meus olhos vermelhos é que ela continua a descer as escadas.

─ Kao. – diz e sua voz por algum motivo me tranquiliza. Lembro-me de quão doce era a voz da minha mãe. – Sente-se, por favor.

─ Obrigado! – digo e ela se senta ao meu lado no sofá.

─ Por que está assim? Aconteceu alguma coisa?

Antes que eu diga algo, o meu chefe aparece e meu nervosismo volta.

‟Eu vou perder o meu precioso emprego e a chance de pagar a faculdade da minha irmã. ˮ

─ Não fique nervoso Kao, aqui eu não sou o seu chefe. – ele fala como se tivesse escutado os meus pensamentos. – O que te traz aqui?

Não digo nada apenas mostro-lhes a foto que o meu pai tanto odeia. Eles me encaram preocupados e ficam sem dizer nenhuma palavra.

─ Ela era o amor da minha vida. – Grace fala quebrando o silêncio usando palavras lindas. Do nada sinto imensa falta da minha mãe e não consigo segurar as minhas lágrimas. Ela me abraça e, assim como as suas palavras, o seu abraço me acalma e o seu cheiro me lembra a minha mãe. – Eu sinto muita falta da sua mãe Kao.

Essa situação me deixa mais emocionado. Se elas se amavam tanto por que não ficaram juntas? Afasto-me e ela me encara sorrindo.

─ Seus olhos são uma cópia perfeita dos da sua mãe. – continua sorrindo. – Ela teria muito orgulho do homem que se tornou.

─ O seu cheiro é semelhante ao dela. – lembro-me da presença do marido dela e fico sem graça. – Me desculpe, eu não quis...

─ Não se preocupe com isso. – pega o celular no bolso e continua. – Vou avisar ao Earth que o amigo está aqui.

Ele se retira da sala nos dando a chance de conversar. Eu quero saber mais sobre a minha mãe. Acredito que se ela estivesse viva teria dito a verdade. Não quero que a opinião do meu pai acabe com a reputação dela, minha mãe foi a melhor do mundo disso eu tenho certeza.

Na Passarela Do Amor (KaoEarth) - ConcluídoOnde histórias criam vida. Descubra agora