2.3K 202 30
                                    

Catherine










— Cathie! — ouço alguém me chamando e me volto ver que é Noah, mas ele parece um adolescente ainda, com o cabelo cobrindo metade do seu olho. Ele parece um modelo e só usava roupas escuras e surradas, quando vejo se aproximar de mim, em passos calculados. — Desculpa se te assustei, mas não tinha outro jeito de falar com você sem ser impedido.

— Joshua irá desconfiar. — Minha voz sai como um sussurro e nem tenho certeza se ele ouviu mesmo.

— Não irei demorar. — Ele fala  preocupado. — Tenho algo pra você.

Noah fala e caminha até a cabine onde estava e volta com um embrulho grande e o coloca por cima do lavatório. Quando a pousa, olha para mim e vejo uma tristeza nos olhos. Ele parece lutar consigo mesmo e me deixa mais tensa ainda. 

Caminha até perto de mim, apenas alguns centímetros de distância o que dificulta um pouco olhar para ele. Noah é alto, magro e muito charmoso, diferente de mim, pequena ainda, nem tenho seios formados, apenas alguma coisa pequena no peito o que me deixa um pouco irritada e me mostra que sou muito pequena para ele. Noah já é um homem adulto e eu apenas uma criança.

 — Eu sinto muito por isso. — Ele trava a batalha no seu interior e me pega desprevenida, juntando suas mãos no meu rosto e me puxando para um beijo. 

O meu primeiro beijo!

— Feliz aniversário, Catherine! — Do mesmo jeito que foi o beijo rápido, me felicitou e saiu do banheiro apressado. 

Minhas pálpebras se abrem lentamente, olhando diretamente para o teto branco e me viro na cama olhando para a janela do meu quarto iluminado pela clareza do sol nascendo na manhã de sábado. Sonhei com ele outra vez, no meu vigésimo oitavo aniversario, como tantos os outros que passara desde que ele se foi.

É o meu aniversário, o meu vigésimo oitavo aniversário e em todos, eu tenho esses sonhos de quando tivemos a nossa última conversa já tem dezasseis anos. O nosso último adeus foi naquele dia dos meus sonhos, o seu olhar opaco, triste e tentando se controlar, era a maneira dele dizer “adeus”.

Eu tinha doze anos na época e ele tinha dezoito e era seu último ano na escola quando ele foi embora sem me dizer nada. Foi para a faculdade, mas não voltou e já se passou tanto tempo e quando ele voltou, alguns meses atrás, foi como um soco ouvir que ele tinha voltado, mas o pior foi ver ele e meu coração quase que saiu do lugar.

Ele estava adulto, muito másculo e não parecia nada como aquele garoto das roupas surradas e ele amava o jeito que vestia, enquanto eu, usei em toda a minha vida roupas que escondesse a minha perna mecânica.

Noah se tornou num homem bonito e frio. O seu olhar para mim foi o mais doloroso de todos. Ele não me cumprimentou, não falou comigo ou se explicou porquê nunca manteve contacto, mas que tolice a minha cobrar algo que já faz tempo e ele nem deve se lembrar do beijo que me deu antes de ir embora.

Respiro fundo e me ergo, pegando na prótese ao lado da cama e coloco para caminhar até ao banheiro. Em poucos minutos, Allan vai invadir o meu quarto e me atormentar. É o nosso aniversário, ele está completando vinte e cinco anos de idade, sou dois anos mais velha que ele, mas Allan parece um adolescente de dezassete que não para de ser um chato.

Fiz um desenho abstrato para ele. Sei que ele pede em todos os anos alguma pintura sobre ele, mesmo dando uma outra coisa, ele sempre pede algo que implica as minhas mãos com um lápis e fazendo algo para ele.

Entrelaçados No Passado - No Meio Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora