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Boa leitura!

Noah Franklin



Seu olhar estava devoto aos quadros. Acho que, naquele momento, nada mais importava para Catherine. Não queria olhar para onde ela tinha os olhares vidrados, apenas segui a encarando, me aproximando aos poucos, cautelosos e quando estava perto o suficiente, eu pude tocar em suas costas descobertas, com calma para não a assustar. Catherine estremeceu com o meu toque e desviou o olhar de suas artes para me encarar.

Ela parecia radiante, levemente emocionada e pude ver como estava feliz, mas não sabia discernir exatamente o que a deixava aliviada daquele jeito, enquanto que, em meu íntimo, eu me sentia mal por causar todo o sofrimento que a fez se aliviar em suas obras de artes.

Suas mãos rodearam em minha cintura, em um abraço carinhoso. Estávamos longe dos olhares de todos e aquela demonstração de carinho era esperado. Catherine está mais à vontade desde que a gente voltou para a cidade e mesmo um pouco envergonhada, ela segura a minha mão ao público e por vezes, aceita ser beijada com pessoas por perto, mas quando estamos sozinhos, ela sempre toma a iniciativa.

— Você demorou! — Constatou com a cabeça encostada no meu pescoço.

— Tive que a procurar, pois, uma mulher talentosa se escondeu de mim. — Respondi calmo enquanto aproveita o carinho que recebia.

— Queria que você me procurasse. — Disse ela, se afastando para me olhar nos olhos. — Para onde estavam os meus desenhos preferidos.

Estremeci com a sua confissão. Eu sabia que aqui estariam seus desenhos preferidos e tentei me convencer de que sejam apenas alguns não especiais em sua colecção. O brilho no olhar dela me deixava triste, de alguma forma, como se estivesse preste a afogar no brilho que eles transmitiam.

— Por que são os seus preferidos? — Indago, com medo de sequer olhar para eles e tento a todo o momento não encarar o que estava bem a minha frente.

— Porque foram as três fases mais preciosas e difíceis que aconteceram na minha vida há onze anos. — Respondeu com sinceridade.

— Quais foram essas fases? — Pergunto, querendo entender.

— Quando eu o conheci, quando achei que você me abandonou e quando eu me sentia presa. — Disse ela suspirando, como se todo aquele sofrimento havia dissipado e falar dele não doesse tanto mais.

Eu sabia como era algo importante para Catherine e para mim. Conhecer seus sentimentos, senti-los e vê-los, são coisas totalmente diferentes e o medo de me sentir pior ao olhar para as imagens, de como eram seus sentimentos, podem me causar enormes sensações, boas e também ruins.

— Amor… — Sussurro, feliz e com ao mesmo tempo, com o coração pesado. Eu não sei como falar para ela, talvez eu sempre tive medo de conhecer seus sentimentos de perto, mas queria que ela conhecesse os meus.

— O que foi? — Ela questiona a minha relutância.

— Eu não consigo olhar para esses quadros. — Confesso olhando directamente seus olhos confusos. — Tenho medo do que posso ver e se for…

— Está tudo bem. — Me interrompeu, tocando suavemente meu rosto com sua mão pequena. — Um desses quadros você nunca teve acesso, mas sempre pensei em dá-lo.

Semicerro os olhos confuso, tentando me convencer de que estava tudo bem e os olhos de minha namorada, confiantes de que estava realmente tudo bem. Ela abre um sorriso compreensivo para mim e elevo o meu olhar para o quadro do centro.

A surpresa foi a primeira reacção inesperada que me ocorreu quando os meus olhos avistaram o quadro no centro. Catherine tinha um sorriso nos lábios quando a olhei de relance, surpreso por ter um quadro meu quando era um adolescente magro, com roupas surradas e como se tivesse pousando para uma máquina fotográfica, mas apenas, imagens de quando eu era um garoto que não sabia que estava apaixonado pela garota que estava fazendo um retrato de si mesmo.

Parecia uma fotografia, mas era um esboço bem feito e eu não me lembrava que existia esse desenho meu feito pela mulher que sempre amei. Havia uma menina com cabelos loiros, sentada enquanto fazia os esboços, com um sorriso nos lábios para o garoto que a encarava, e me dei conta de que tinha uma cara apaixonada e nem sabia disso.

— Foi ali, quando eu percebi que amava que você pousasse para que eu o desenhasse. — Disse ela, com a voz serena de sempre e a olho admirado.

— Quando foi que você fez? — Pergunto com a voz baixa.

— No seu aniversário de dezessete anos. — Contou.

— Por que não me deu quando fiz dezessete? — Questiono fazendo uma careta e me dou conta quando antes de me respondeu, desviou o olhar para a tela. — Agora sei, mas você a guardou por todo esse tempo.

Quando fiz dezessete anos, foi na época em que Theodore insistia em me manter afastado e nossas horas comuns para estar na companhia um do outro, foram reduzidos em cinco minutos em que Joshua deixava que conversasse com Cathie, antes que outros guarda-costas dessem conta e o tempo em que me mantinha escondido dos meus.

Aos meus dezessete anos, foi difícil a gente poder estar junto, mas piorou quando descobri que seria mandado para longe de todo o mundo e a partir daquele momento, tudo desandou para o precipício. Sequer podia me aproximar, ligar ou sequer ter a oportunidade para olhar para ela, e comigo longe, não tinha mais esperanças.

— Não tive coragem de me desfazer dele. — Respondeu baixo e seguro suas mãos, apertando leve. — Mesmo sem esperanças de voltaríamos a ter o que tínhamos antes, eu sempre, no fundo do coração, havia um freixo de luz que me mantinha entrelaçada no passado contigo.

— Sempre estivemos entrelaçados, no passado ou presente, ainda estaremos juntos daqui para a frente. — Falo e beijo seus lábios. — Eu te amo, Cathie.

— Também amo você, Noah. — Disse ela me abraçando. Eu realmente amo essa mulher e não sei o que seria de mim por mais tempo que passei sem ter ela por perto.

Não olhei para outros dois quadros em sentidos opostos. Quando me afastei, tive a oportunidade para os outros quadros. Um deles, era totalmente fora da minha percepção e Catherine me explicou que aquelas rasuras e misturas de cores complexas, eram como seus sentimentos estavam por muito tempo, entre desespero, medo, raiva, decepção e sentimento de abandono a acompanharam por muito tempo, até entender o que aconteceu conosco, foi tudo parte do destino.

Fiquei triste quando ela me explicou o que sentiu por longos anos, mas o que me deixou mais abalado, foi o último quadro, a mulher presa em uma jaula, em volta da escuridão e uma chave com um pequeno freixo de luz iluminando ela, mas a mulher continuava ajoelhada lá, com o rosto escondido e presa em sua própria agonia.

— Eu sinto muito! — Sussurrei.
— Já passou, não dói mais tanto assim lembrar. — Disse ela me olhando com um sorriso nos lábios.

— Mas lembrar dói, tanto a mim quanto a ti. — Disse eu, a encarando sério — É tudo culpa minha, se pelo menos eu lutasse contra….

Se eu tivesse a coragem de enfrentar o meu pai, me opusessem contra a ordem de alguém tão perigoso quanto Theodore Smith, talvez Catherine não passassem por todo o sofrimento.

— Hoje sei que não fui a única ter passado por isso, a culpa nunca foi sua, ambos fomos vítimas do orgulho de nossos pais. — Catherine respondeu me olhando com a expressão séria. — Eu não sei dos detalhes, mas os meus pais e o seus tiveram alguma coisa a ver com tudo isso, estou certa!?

Eu poderia simplesmente responder com um movimento da cabeça, concordando com sua linha de raciocínio, mas eu nunca serei o tipo de homem que colocará ela contra os próprios familiares. Seria tão rude deixando ela descobrir sozinha?

A surpresa por poucos segundos me fez arregalar levemente os olhos, seguido por um suspiro, foi o tempo necessário para que eu pensasse em alguma resposta para o seu interrogatório. Catherine quer saber o que está por trás de toda má sorte entre os nossos sentimentos.

— Não vamos falar disso agora. — Mudo o assunto, a puxando para mim respirando fundo — Irei comprar todos esses quadros, são especiais.
Catherine encara e suspira, não tocando mais no assunto, ela me conta que irá chamar alguém para colocar o selo de que os quadros foram vendidos. Seguimos pela galeria e me mostra todos os seus quadros.

Não irei fingir que nada me afligiu quando olhava para cada pintura no meio daquele enorme salão. Era, na sua maioria, pinturas deprimidas, melancólicas e era uma fase que Catherine estava passando e pelo o que parece, a maioria está com selos de que já foi vendido por alguém que se encantou.

Muitos adoraram as pinturas, mesmo sem sabendo a história por trás dela, muitas vezes fomos interrompidos por amantes da arte para parabenizar a minha namorada pelas obras de artes. Na maior parte do tempo, Catherine parecia até tímida, tinha o rosto corado e eu, como um homem bobo e apaixonado sorria a cada reação causada por um elogio.

Ela estava linda, brilhava no meio de tantas pessoas, com os seus quadros fazendo sucesso. Me custou milhões os três quadros, mas nada se compara a vida que havia nos custados para podermos finalmente estar juntos, se amando de perto depois de tantos anos.

Durante a noite toda, fiz questão de manter-me ao lado de Catherine e ela parecia fazer o mesmo, pois, a cada a vez que era chamada por alguém, ela me puxava para ir junto. Me apresentavam como namorado dela, o que foi uma surpresa, pois, eu era quase da família Smith e as relações da minha família com a dela, já vai a gerações.

Algumas vezes eu via os meus pais nos observando de longe, cautelosos e preocupados, já a família dela, apenas uma pessoa me encarava com raiva. Eu havia estragado os planos de Theodore Smith, mas nada se compara como quando ele estragou a minha me separando por anos da sua filha.

— Não acredito…. Aquela mulher está reclamando por não ter conseguido ficar com o meu quadro. — Allan aparece berrando, inconformado ao nosso lado e Lilian estava ao seu lado.

— O que aconteceu? — Catherine pergunta encarando o irmão.
— Aquela louca está fazendo uma confusão por causa do meu quadro para a tia Mel. — Respondeu Allan, emburrado.

— A Suyen amou aquele quadro e quando deu as vistas nele, encontrou o selo. — Explicou Lilly dando de ombros e se volta para olhar no quadro na parede.

— Infelizmente ela terá que se contentar com outros, pois, já foi comprado. — Catherine fala tranquila.

— Mas mana, ela quer um igual ao meu, mas eu comprei esse quadro porque a Lila gostou dele. — Allan conta e semicerro os olhos tentando analisar quem era Lila.

— Quem é Lila? — Pergunto para directamente para a minha namorada que me olha e sorri.

— A garota que Allan havia atropelado. — Ela responde como se tivesse algo engraçado no meio de sua resposta — Ao que parece, o meu irmão gostou dela e está fazendo tudo o que a garota desejar.

— Eu não conheço a garota. Ela está aqui? — Indago por curiosidade e olho para Allan que parece vermelho nos encarando e sorrio, gostando da situação.

— Não, está no hospital, em dois dias, ela finalmente terá alta e os meus pais estão pensando no que fazer para quando Lila deixar o hospital. — Respondeu Catherine.

— Lila é sozinha no mundo, como a minha cunhada estava. — Disse Lilly se voltando para nós.
— Sofreu muito, mas ainda bem que eu a atropelei. — Allan fala com um sorriso idiota nos lábios. O garoto está apaixonado.

— Ela está vindo para cá! — Constatou Lilly, nos fazendo olhar para a direcção de Beth Suyen, uma menina rica, filha de empresários e sócios nos negócios da família.

Allan sobressalta e corre para perto da irmã lhe falando no ouvido para não aceitar nada do que a Suyen falar. Ela se aproximava com os passos mirados em nossa direcção e vejo Melanie olhando para elas e suspira, talvez cansada por ter que insistir tanto para aquela menina de que não podia fazer nada, já que o quadro estava vendido.

Catherine apenas ouvia o que o irmão falava sem expressar nada. Allan se afastou de seu ouvido quando Beth chegou perto, já com a mão na cintura, mostrando sua indignação. De todos os convidados que apreciavam os quadros, apenas Beth se mostrava insatisfeita e deixava mostrar a todos o tamanho de sua chateação por não ter o que quer.

— Catherine, querida, como está? — Ela saúda, mas sua expressão forçada por um sorriso era engraçada.

— Estou óptima e você? — Catherine respondeu educada.

Na verdade, a menina ignorou completamente todos nós e apenas se dirigiu a Catherine. Allan revirou os olhos e manteve os braços cruzados, esperando o momento em que sua irmã irá dar o baque para a bela jovem mimada.

— Estou super irritada com o seu irmãozinho aí. — Ela fala directa, apontando para Allan que semicerra os olhos e de braços cruzados — Custa esse idiota me dar o seu selo?

— Não me chame de idiota, sua… —Allan responde descruzando os braços, de cenho franzido.

— Olha a língua, seu infantil!
— Infantil eu, olha só… — Allan gargalha quando fala — Quem não quer aceitar que o quadro já foi vendido aqui, é você.

— Desde a faculdade, você sempre se colocando no meu caminho, eu juro que um dia ainda mato você. — Beth bufa raivosa, esquecendo completamente a Catherine no meio dos dois.

As pessoas já começaram a perceber o pequeno barulho que os dois estão causando em um lugar que deveria ser silencioso. Beth é da mesma faixa etária de Allan, fizeram faculdade na mesma universidade, apesar de ser mimada, Beth é inteligente, mas crescer em um ambiente com muitos benefícios, a deixarem desse jeito.

— Isso você queria, mas você não é esperta o suficiente para me superar. Supera, louca! — Allan fala e sai caminhando para a direcção oposta.

Ela revira os olhos, respirando fundo e fecha os olhos por alguns segundos e quando as abres, ela nos encara, se dando conta da cena que fez. Lilly está pouco ligando para o que está acontecendo e seus olhos fixam para o quadro a sua frente, parece que ela o gostou.

— Desculpa, é que o seu irmão me deixa desconcentrada. — Ela pede, se dando conta do seu pequeno ataque histérico.

— Está tudo bem, sei o quanto o meu irmão pode ser irritante. — Catherine fala, sorrindo.

— Olha só, Cathie, eu amei aquele quadro, de verdade. — Beth fala sincera e segura as mãos de Catherine, implorando. — Pode fazer com que o seu irmão ceda ele para mim só dessa vez?

— Beth, eu sinto muito, mas aquele quadro é para uma pessoa importante para o meu irmão. — Catherine fala compreensiva, mas decidida de que aquele quadro foi comprado para dar para Lila.

A decepção no olhar dela era nítida. Fiquei com pena dela. Beth algumas vezes parece uma garota extremamente mimada, mas noutras vezes, ela se parece como uma garota normal que só quer chamar atenção e se gostar realmente de algo, ela fica triste.

— O Allan está namorando? — Perguntou triste.

— O quadro é mais como um pedido de desculpas, nada mais além disso que eu possa saber. — Cathie responde não dando muito a entender para ela.

— Não pode fazer um igual para mim, por favor? — Ela pede esperançosa.
— Eu preciso conversar com o meu irmão primeiro, talvez, ele não quer que eu faça outro igual, ou tenha mais de um no mundo. — Catherine usa as palavras com cuidado, usando a suavidade na voz como sempre, para dizer não a uma pessoa.

Mesmo a contragosto, Beth assente triste e agradece saindo do nosso lado e ir ter com os pais. Catherine suspira e aninha sua cabeça no meu peito. A seguro em sua cintura e beijo sua testa, abraçando apertado. O dia foi cansativo para ela e faz mais de três horas que estamos aqui, ela deve ter estado aqui mais cedo.

Talvez a levar para o meu apartamento nessa noite, a faria descansar melhor, sem intenções indecorosas, apenas quero que ela tenha uma noite melhor, longe de qualquer problema. Talvez quando todos os convidados deixarem a galeria e Catherine agradecer, eu a levo comigo, longe dos olhos de seus pais.

— Amor, quando encerrarem a venda, irei te roubar por uma noite para descansar. — Falo baixo, para que ela apenas ouve.

Catherine não me responde por alguns segundos, com a cabeça escondida no meu peito, ela respira fundo e assente, murmurando um sim. No meu pedido não tem nada indecoroso, somos namorados, nos amamos desde quando éramos miúdos e tudo que fizemos até agora foi trocar beijos e carinho, nada além disso e vai continuar até ela permitir passar para outra fase.

A noite seguiu tranquilamente, ao que parece, Beth ainda estava chateada, mas se encantou com um outro quadro que comprou correndo e parecia satisfeita por ter conseguido. Lilly acabou por ficar com o quadro que observava com tanto afinco, e quanto as nossas famílias, não me aproximei dos meus pais, apenas tive contacto com os trigémeos, minha irmã, Allan e Bea.

Quando todos os quadros foram vendidos, alguns que não conseguiram, saíram decepcionados por não terem uma das obras tão belas de Catherine Smith, mas tiveram a oportunidade de vê-las e no próximo lançamento, serão os primeiros a comprarem, nem que fosse em um leilão.

Por um momento me separei de Catherine, pois, ela precisava conversar com a mãe e penso que, ela vai contar que não irá voltar para a casa com eles, mas sim comigo e pude comprovar quando a senhora Brittany arregalou os olhos para a filha e me encarou de longe. Theodore não estava com eles, talvez foi por isso que Catherine foi conversar com ela.

Os convidados começaram a deixar a galeria e sempre elogiando a artista. Todos pareciam felizes pelo que presenciaram, são verdadeiras obras de arte. Os filhos de Theodore e Brittany Smith nasceram com dom, um superinteligente e outra, muito talentosa.

Quando não sobrou mais nenhum convidado, apenas membros da família estavam presentes e comemorando pelo sucesso. Não podia tirar ela daqui assim do nada, pois, ela é o motivo dessa comemoração e decido aguardar por mais uma hora, mas quando olho para Cathie, o cansaço é vidente e receio de que ela deve ter exagerado demais a perna e está usando botas. Apenas alguns minutos será o suficiente e depois a levarei comigo.

Entrelaçados No Passado - No Meio Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora