11°

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Catherine









O silêncio dos meus pais, o olhar frio, carregado de muitos segredos que nem sequer tenho uma breve noção do que percebo ao olhar para o meu pai. Ele está sentado no banco passageiro, ao lado do motorista e eu a minha estamos sentadas atrás, caladas e a cada momento, percebo pelo retrovisor lateral a expressão pensativa do meu pai.

Seus olhos estão semicerrados, não dá para entender com evidencias, mas ele parece preocupado. Durante toda a trajetória ele não disse sequer uma palavra apesar de sair bravo da casa dos Franklin, normalmente, ele estaria tagarelo e reclamando até estar em casa, mas hoje, o meu pai está agindo diferente.

Talvez esteja bravo comigo. Pela primeira vez, eu o desobedeci. Fui contra o seu pedido e tudo o que queria era saber do estado do Noah e não me dei conta do quão rude tinha sido com os meus pais. Não vou dizer que nunca tinha feito nada escondidos deles, quando eu e Noah eramos amigos, nos víamos em segredos depois de uma regra da escola que frequentávamos impediam que alunos do médio não podiam se misturar com as outras classes.

As regras eram rígidas e quando as aulas terminavam, era difícil eu ver o Noah ou alguns dos meus primos. Todos tinham algo a fazer depois das aulas e Noah sempre seguia para um treinamento com o pai e quase não nos víamos direito, até que ele decidiu quebrar a regra que a escola colocou e nos encontrávamos as escondidas.

Nossos guarda-costas eram contra a todo o custo sobre os nossos encontros, mas consegui convencer Josh a me ajudar. Ele sempre foi como um babá para mim e me ajudou a não contar nada para o meu pai e seus subordinados tinham que obedece-lo como manda as regras da organização.

Noah despistava os seus homens para podermos nos ver em algum canto escondido da escola para conversar ou almoçar juntos. Os dias com ele eram sempre os melhores e toda a vez que me lembro das nossas brincadeiras, um sorriso sempre brotava em meus lábios com essas recordações, mas ele morre no instante que percebo que tudo o que vivemos acabou e não haverá mais voltas.

O toque suave da minha mãe no meu braço me liberta dos devaneios sobre o meu passado e a olho confusa vendo que o carro já não estava em movimento. Encaro a minha volta e vejo que já estávamos em casa, nem tinha percebido quando havíamos chegado e avisto meu pai me encarando curioso, com as mãos guardada no bolso da calça.

— Para onde viajou, filha? — ouço a minha mãe perguntar e a encaro de volta.

— O quê?

— Estava distraída! — constatou — No que estava pensando?

— Em nada, mãe. — falo baixo desviando os olhos dos dela e me viro para sair do carro.

São tantas informações que preciso de algum tempo para poder processar e entender qual será o meu próximo passo antes de encarar Noah novamente. Talvez, devido esse acidente os planos para o casamento da Stelany pode mudar drasticamente os planos, mas se ela aceitar, eu posso fazer par com o meu irmão se não tiver outra opção.

Caminho lentamente para dentro de casa sob os olhares atentos dos meus pais. Theodore Smith me encara em silêncio quando passo por ele entrando pela casa andando diretamente para o meu quarto. Só preciso ficar sozinha por algum tempo.

Duas malas feitas no canto do meu quarto me dando conta de que Karine organizou as minhas malas como minha mãe disse que mandaria ela arrumar as nossas malas. Me deito na cama de barriga para cima, olhando para o teto decorado com as luminárias. Suspiro um pouco aborrecida e ansiosa para esses dias que terei que passar naquele lugar isolado e ter que encarar Noah nesse tempo todo.

Ver Noah frágil e sensível naquela cama, com o rosto pálido e os lábios secos me fez perceber como essa guerra silenciosa está afectando nós dois. Lembro como eu fiquei meses depois de Noah ter-se ido embora e questionei a minha mãe procurando por uma resposta que me reconfortasse, mas nada adiantou e perdi peso e sofria dores constantes porque não saia mais do quarto.

Entrelaçados No Passado - No Meio Da MáfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora