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EROS 

Estava enfurecido e inquieto com aquela situação na qual Leon havia criado na frente de todos. Ele fez de mim um fraco e sem controle. Eu realmente não deixaria aquilo passar.

-Eu realmente não consigo compreender vocês. -Kai preferiu enquanto mexia em seu celular. 

-Quem? -Questionei mesmo sabendo o enredo que aquela história teria.

-Abel e Caim. -Retrucou com ironia ao guardar o celular. -Não me venha com seu cinismo, Eros. -Ele me encarou. -Sabe que isso não funciona comigo, certo? -Respirei profundamente num gesto carregado de irritação e impaciência. Kai sempre repetindo aquela velha e exaustiva cartilha.

-E o você espera que eu faça, Kai? Leon desde sempre se mostrou um renegado... Não tenho tempo e paciência para aturar aqueles dramas, não estamos no colegial e isso aqui não é uma brincadeira banal.

-São irmãos e... -Bati na mesa fortemente o interrompendo.

-Não somos irmãos. -Apontei o dedo em sua direção. -Ele sente asco pela nossa família. -Indaguei ao desapontar alguns botões da camisa. -É quase um traidor... Só vocês ainda não perceberam, ele não é fiel, estão alimentando o próprio carrasco.

-Não diga isso, primo. -Kai carregava em seu rosto uma expressão carregada de lástima. -O pai dele fez vários sacrifícios por nossa família e possuímos uma dívida de sangue com Leon.

-Era o trabalho dele. -Retruquei.

-Ser fiel é algo que vai muito além de um simples trabalho... Pensei que já houvesse compreendido tal ensinamento. Vivemos em uma realidade onde a lealdade é a peça chave da nossa sobrevivência. -Kai levantou e veio até mim. -Vamos imaginar nossa vida como... -Ele olhou para o lado parecendo buscar um bom exemplo para ofertar e quando pareceu encontrar, sorriu de maneira leve ao direcionar sua atenção para mim novamente. -Vamos imaginar nossa situação atual como um simples jogo de xadrez... Nessa partida existem várias e várias peças que protegem  o rei e a rainha. -Kai pegou um papel e começou a ilustrar seus exemplos. -Para proteger o rei e a rainha existem outros aspectos que também são de extrema importância... -Ele começou a escrever. -Existem as torres, cavalos, bispos e por fim os simples e inofensivos peões... Eles não são levados muito a sério e são descartados e sacrificados para que o jogo funciene.

-Kai... -Peguei a caneta de sua mão e a joguei para longe. -Não me venha com suas fábulas. -Ergui meu corpo e fui até as bebidas.

-Deixe que continue a demonstrar meus pensamentos, Eros. -Kai ainda mantinha sua voz e postura serena.

Kai sempre foi assim. Mesmo diante das piores situações ele agia de maneira calma e controlada. Mas engana-se quem pensa que aquele sorriso trazia consigo apenas coisas boas, Kai era um estrategista de berço e possuía sangue frio.

-Continue. -Falei sem demonstrar muito interesse enquanto gesticulava com as mãos.

-Os peões vão a guerra e limpam o caminho para as principais peças possam passar. Sem eles... O rei a rainha ficam em evidência e se tornam alvos fáceis. -Concluiu ao tomar o copo da minha mão. -Vá sentar e deixe que eu prepare sua bebida, Eros.

-Está dizendo que o Leon é um peão? -Questionei.

-Não. Cérbero é um peão.

-E Leon?

-Você não tem a mínima visão de jogo, Eros. -Kai suspirou. -Está com o jogo diante de seus olhos e mesmo assim não enxerga nada... Todos estão jogando livremente enquanto você permace parado e confiando unicamente em si mesmo. -Kai sentou-se ao meu lado e entregou o copo. -Vai acabar perdendo. -Concluiu ao piscar.

-Eu vou perder nada. Nem para o Leon e nem para ninguém. -Falei convicto ao beber um longo gole de uísque. -Posso ter errado nas primeiras tentativas, mas o jogo continua e eu ainda possuo muitas peças.

-Então o que faremos? Qual sua estratégia, Eros?

-Primeiro voltaremos para casa, não estamos em vantagem jogando um terreno desconhecido e sem aliados. -Falei.

-Fala do elemento surpresa? -Kai me encarou e eu assenti.

-Vamos ganhar em nosso terreno.

-E quando voltaremos? -Kai parecia estar satisfeito com minhas respostas.

-Preciso de no mínimo dois dias para ajeitar as pontas que ficaram soltas e no fim... Queimá-las.

-Vai mesmo fazer isso? -Ele esboçou um sorriso tórrido e eu retribui enquanto concordava.

-Morte aos traidores, certo? -Proferi ao olhar para frente. -Foi assim que fomos ensinados. -Conclui.

[...]

-Encontrou? -Kai questionou Cérbero assim que o mesmo adentrou na sala.

-Está com aquela garota. -Cérbero sentou-se ao lado de Kai.

-Izabel? -Perguntei de imediato. Cérbero e Kai direcionaram seus olhares em minha direção.

-Sim. -Respondeu de maneira sucinta.

-Qual o segredo dessa garota? Acho que irei me arrepender de não tê-la como companhia durante uma noite. -Kai lamentou ao balançar sua cabeça negativamente.

-Posso pega-la para você. -Cérbero rapidamente se prontificou.

-Não aja como um ser primitivo, Cérbero. -Kai deu alguns tapas no ombro do amigo. -Onde ficaria meu orgulho e honra se eu obrigasse um mulher a dormir comigo? Além disso... Deixe que Leon se divirta essa noite, ele está precisando de distração.

-Já falou com o piloto, Kai? -Desconversei.

-Sim.

-E então? -Foi a vez de Cérbero mostrar-se impaciente.

-Sairemos daqui em dois dias. -Kai respondeu de maneira indiferente.

-Finamente. -Finalizei.

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