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IZABEL

[...]

Novamente aqueles sonhos nebulosos assombram-me sem trégua. Senti meu corpo tremer e tentei acordar e voltar ao meu estado consciente. Quando enfim consegui tal libertação, suspirei profundamente ao sentir meu corpo tornar-se mais leve.

Permaneci com os olhos fechados enquanto tentava esquecer as cenas daquele pesadelo recorrente. Ao fundo pude ouvir uma voz que agora já não era tão estranha. Me remexi na cama tentando pegar no sono novamente, mas ao abrir um dos meus olhos vi a sombra de Leon parada diante da porta de vidro que dava acesso a sacada da cobertura e tal cena vez com que meu cansaço desaparecesse no mesmo instante.

Leon vestia apenas sua calça jeans , sua silhueta fazia constantes com seus ombros largos. Músculos bem distribuídos e nada exagerados o deixavam extremamente atraente. Senti um calor crescer em meu corpo ao lembrar que horas antes aquelas mãos apertavam fervorosamente cada pedaço de pele existente em mim. Que aquele corpo esteve por cima do meu por vários minutos e de diversas formas diferentes enquanto balbuciava atrocidades em meu ouvido... Droga! Eu realmente poderia viver naquele quarto por mais um mês na companhia daquele homem.

Ele parecia estar em uma ligação importante, eu não conseguia compreender nada pois Leon falava em seu idioma de origem, aquela situação me deixava inquieta. Certamente nunca conseguiria me acostumar com aquilo.

-Porcaria... -Resmunguei ao balançar minha cabeça negativamente. Me remexi na cama por mais alguns segundos enquanto ouvia aquele falatório em grego. Bufei pesadamente ao erguer meu corpo e ir em passos lentos até Leon que pareceu não notar que eu já havia despertado. Sorri de maneira maldosa ao abraça-lo por trás, minhas mãos apertaram seu tórax que mesmo diante da falta de roupa exalava um calor próprio. Senti seu corpo tornar-se mais tenso diante do meu toque. -Leon? -Murmurei ao inclinar minha cabeça para frente e beijar lentamente suas costas. Repeti esse processo por mais quadro ou cinco vezes enquanto prensava meu corpo ao dele. Minhas unhas traçaram um caminho repetitivo entre seu tórax e abdômen, quando toquei no cós de sua calça pude ouvir um riso baixo escapar de suas lábios e ele rapidamente finalizou a ligação.

-Izabel... -Leon me repreendeu ao segurar em meu pulso. -Que jogo sujo é esse? -Seu tom de voz sério e vago parecia querer brincar comigo. Ainda estávamos na mesma posição de minutos atrás, seu corpo ainda estava preso diante dos meus braços e ambos pareciamos satisfeitos.

-Tenho que agir usando as armas que possuo, certo? -Retruquei ao puxar meu pulso em um único movimento. Me desvecilhei de Leon e circulei seu corpo, parando ao seu lado enquanto mirava meu olhar para a vista privilegiada que aquele endereço fornecia. Ainda era madrugada e as luzes da cidade pareciam ainda mais brilhantes naquele momento.

-Perdeu o sono? -Leon questionou após algum tempo de completo silêncio.

-Sim.

-Vou voltar para o meu país. -Falou abruptamente. -Daqui dois dias. -Completou.

Devo confessar que ouvir aquilo me deixou mais preocupada do que eu realmente gostaria. Quero dizer... Eu sabia que ele estava de passagem no país, assim como Eros e todos os outros. Mas os últimos acontecimentos fizeram com que eu desejasse que Leon permanecesse ali por mais algum tempo. Ele fazia com que eu me esquecesse temporariamente da minha realidade. Suas falas e ações permitiam que meu verdadeiro eu aflorase. Não precisa agir como uma acompanhante ou coisa do gênero. Éramos apenas uma mulher e um homem que partilhavam uma tensão sexual pra lá de intensa. Sem cobranças, sem preconceito ou posicionamentos.

-Já? Pensei que ficariam por mais tempo... -Indaguei com a voz num tom mais baixo do que eu esperava. Um lamento perceptível.

-Já ficamos mais que o necessário nesse lugar. -Respondeu parecendo estar desgostoso com aquela situação. -Nosso lugar não é aqui. -Completou.

-Entendo. -Me limitei a responder.

-Izabel? -Leon tocou levemente meu braço e eu o encarei.

-Hum?

-Seu lugar é aqui? -Questinou. Em seu rosto uma expressão enigmática e olhar atento faziam com que uma confusão se instalasse em minha cabeça.

-Como assim? -Perguntei.

-Seu lugar é aqui? -Repetiu. -Meu lugar é lá na Grécia, onde dominamos boa parte do lugar, somos respeitados e temidos... Aquele lugar é nosso, consegue entender? -Leon me encarava. -Esse lugar, esse país... São seus ou você apenas os usa? Você possuí algo realmente seu? O que te prende aqui? Quais são suas ambições?

Compreendi totalmente o que todos aqueles questionamentos buscavam.

Existia uma resposta?

O que me prendia ali?

O que eu possuía?

Meu olhar vagou pelos edifícios comerciais e hotéis de luxo da cidade e percebi o quão insignificante eu era. Por mais que eu constantemente afirmasse para mim mesma o quanto eu era única e importante... Aquilo não era verdade. Pelo menos não naquele momento. Aquela Izabel que passei anos criando e moldando a minha maneira não passava de uma mulher comum e sem nenhum atrativo que me deixasse em grande
vantagem diante das diversas outras mulheres daquele lugar.

Eu sou um grão de poeira perdido naquela selva de concreto.

-Seu silêncio diz muita coisa, Izabel. -Ele ponderou ao notar meu martírio interno. E indo contra todos os meus achismos e dúvidas, Leon me surpreendeu ao questionar-me novamente com uma naturalidade assombrosa. -Quer vir comigo?

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