Dormindo na cama elástica

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As pálpebras finas de Naruto estavam fechadas e os últimos raios de sol do dia beijavam as suas bochechas. Algumas flores de cerejeira tinham caído ao seu redor, na cama elástica, como se ali fosse um ninho de pétalas. Os olhos de Sasuke, tão escuros quanto carvão, esquadrinhavam o rosto do menino adormecido. Analisava o nariz arrebitado, assim como a pele bronzeada de quem passava os dias no quintal, sob o sol. Ele tinha medo de se mexer e acordá-lo.

De repente, porém, Sasuke notou os olhos de Naruto se moverem sob as pálpebras e, rapidamente, fechou os próprios olhos. Não queria que o amigo notasse que andava sendo observado enquanto dormia, porque seria constrangedor. A brisa de fim de tarde tocava a sua pele agradavelmente, o que o fez ter vontade de voltar a dormir. Aquele momento, ali, na cama elástica, era um dos que gostaria que durasse para sempre.

Alguns segundos depois que Sasuke fechou os olhos para fingir que dormia, sentiu a cama elástica se mover. Naruto de fato havia acordado e, ao contrário dele, não se importava em incomodar ou não o sono de Sasuke. Ou pelo menos era isso que o garoto de cabelos negros pensava.

ㅡ Sasuke!!! ㅡ O grito cortou a calmaria da tarde, fazendo o menino que estava sendo chamado dar um pulo e se sentar na cama elástica. Ele e Naruto se entreolharam, com os olhos arregalados.

ㅡ Ela vai me matar ㅡ afirmou, arrastando-se para sair do brinquedo. O sol se escondia no horizonte, entre as árvores do passeio de casa.

ㅡ Fala que você tinha ido ao banheiro! ㅡ sugeriu Naruto, acompanhando o amigo rapidamente até a cerca que separava as casas um do outro. Era uma cerca de pouco mais de dois metros, pintada de branco e feita de tábuas.

ㅡ A minha avó com certeza me procurou no banheiro, Naruto! Eu não deveria ter dormido ㅡ disse, preocupado.

ㅡ Foi sem querer! ㅡ argumentou o menino loiro. Mas não tinha sido. Eles tinham pulado tanto, que ficaram cansados o suficiente para se deitarem na cama elástica e dormirem sob a sombra da cerejeira plantada no quintal de Naruto. Sasuke sabia que deveria ter ido embora naquela hora, para que a avó não percebesse que ele tinha saído.

A tábua estratégica, o portal, era a quinta contando da direita para a esquerda. O prego da extremidade de baixo havia se soltado misteriosamente e agora ela girava, apoiada apenas pelo eixo de cima. Era estreita, mas larga o suficiente para que os dois meninos de dez anos pudessem passar de um quintal para o outro sorrateiramente. Era a passagem secreta que havia transformado os seus mundos.

Sasuke abriu a passagem e Naruto segurou a tábua para que o amigo pudesse passar. Quando já estava do outro lado, com os olhos fixos na porta de trás da casa, a qual a conectava ao quintal, o garoto de cabelos negros teve o seu braço agarrado.

ㅡ Ei, vai falar pelo telefone comigo hoje à noite? ㅡ sussurrou o menino de rosto tipicamente travesso. O outro bufou, mas acabou sorrindo de canto.

ㅡ Eu puxo a linha. Fica atento  respondeu, tendo o braço solto. Naruto deu um tchauzinho antes de colocar a tábua no lugar, deixando Sasuke sozinho.

ㅡ Sasuke!!! ㅡ gritou novamente a avó, fazendo o garoto suspirar e, a passos pesados, se encaminhar em direção à casa.

ㅡ Já vou! ㅡ gritou de volta, dando uma última olhada em seu quintal tão vazio, cinza e morto em comparação ao do amigo. O lugar do outro lado da tábua era onde Sasuke verdadeiramente era criança.

***

Naruto encarava fixamente a latinha pendurada no parapeito da janela, no interior do quarto, quando ela se moveu. Sempre era Sasuke que o chamava, porque ele tinha medo que você o contrário e a avó ouvisse o som da lata batendo contra a parede. O garoto segurou o "telefone" e olhou pela janela, distinguindo o rosto branco no escuro quarto há alguns metros do seu. A linha estava esticada entre as casas, então a conexão poderia acontecer.

A Cidade no QuintalOnde histórias criam vida. Descubra agora