Enquanto você dorme na chuva

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Os dedos de Naruto brincavam com a lata pendurada na janela. Ela produzia um ruído seco a cada vez que se chocava contra a parede, embalando seus pensamentos. Não havia ninguém do outro lado, mas a lata ainda estava ligada ao quarto da casa vizinha. Naruto refletia sobre até quando ela ficaria lá, se os novos moradores da casa, que eventualmente apareceriam, iriam notar a latinha pendurada na janela.

De repente, ele a colocou no ouvido, movido por uma vontade súbita. Só havia o silêncio, alto e constante. Só havia um dia que Sasuke tinha virado a esquina, na janela do carro preto, mas o silêncio de sua ausência já era ensurdecedor.

— Naruto? — Minato bateu com os nós dos dedos na porta aberta, fazendo o coração do garoto disparar. Rapidamente ele soltou a lata, fazendo-a se chocar contra a parede. Como se fosse a forma natural de seus lábios, o pai sorriu, entrando no quarto.

Ele se sentou na beirada da cama, tendo os movimentos acompanhados pelos atentos olhos azuis do filho. A primeira coisa que fez foi segurar a lata entre os dedos, analisando-a como Naruto fazia, tratando-a como um tesouro.

— Quando eu era criança, eu tive alguns bons amigos — começou, com os olhos ainda na lata — Nós tínhamos nossas próprias brincadeiras e manias, nosso próprio mundo e criações. Em uma época até aprendemos código morse para conversar sem que as pessoas soubessem o que falávamos. — Ele riu, com um olhar distante.

— O que houve com eles? — perguntou o menino.

— Algo como o que houve com você e Sasuke — respondeu, mas com um tom mais sério. Finalmente Minato olhava para o filho. — Não foi tão súbito, mas também foi uma separação.

Naruto continuou olhando para o pai, sem entender muito bem. O homem notava aquela confusão, a curiosidade que vagava pelos olhos do filho, pois era recorrente. Porém, assim como todas as outras vezes, não sabia como simplificar as ideias o bastante para que ele entendesse. Também não queria deixá-lo sem resposta alguma. Por isso, trouxe o menino para perto, abraçando-o.

— Sabe, Naruto, as pessoas vão e voltam. Quando temos um amigo na infância, não é fácil mantê-lo por toda a vida, por mais que você o ame, entende? — Sua voz era suave.

— Talvez. Por que eu não posso ser amigo do Sasuke para sempre?

— Não é que não possa… Só é difícil. Além das distâncias que podem acontecer, mudanças de casa ou cidade, também há as transformações em você. Talvez o Naruto do futuro não se dê bem com o Sasuke do futuro, porque vocês não serão mais os mesmos — disse Minato, calmamente. Ficaram em silêncio por um momento, em que os olhos de Naruto estavam baixos, observando os padrões de tons de laranja em seu pijama. O homem podia ver em seu rosto que o garoto pensava seriamente.

— Pai — falou, por fim — Eu vou ser amigo do Sasuke para sempre.

Minato sabia que Naruto tinha apenas dez anos, mas a determinação com que disse aquelas palavras ficou marcada em sua mente. O garoto não parecia ser uma criança quando fez aquela promessa. Talvez nem os adultos que Minato conhecia jamais tivessem dito algo com tanta certeza.

— Eu acredito em você — disse, com sinceridade. O rosto de Naruto se suavizou, aliviado. Tudo o que ele queria era alguém que acreditasse naquilo, assim como ele acreditava. Assim, tornava-se real — Bom, guarde bem essa promessa, Naruto.

— Não vou esquecer.

O homem apertou o filho contra si uma última vez, antes de beijar sua testa e se levantar da cama. Ele via o olhar de admiração do garoto para si, mas não sabia que Naruto também notava o olhar de admiração que o pai o lançava.

A Cidade no QuintalOnde histórias criam vida. Descubra agora