O sol já estava se pondo às cinco da tarde. Isso acontecia quando as estações frias chegavam em Nikko. Apesar disso, Sasuke já havia se acostumado com aquele pôr-do-sol adiantado, por ter vivido em Hokkaido por sete anos. Naquela leve penumbra de fim de tarde, o garoto caminhava a passos lentos para casa. Não era atípico que ele caminhasse devagar, para atrasar sua chegada ao lugar vazio e frio, mas daquela vez havia mais motivos. O garoto tinha os olhos no celular, hipnotizado com a mensagem que havia recebido: "Estou pensando em ir te visitar no Natal."
"Por quê?", Sasuke digitou em resposta, guardando o celular no bolso logo depois, por notar que seu irmão estava online naquele momento. Não estava com muita vontade de saber o motivo, seja ele qual fosse. Se Itachi dissesse que estava com saudades, seria uma mentira. Se dissesse qualquer outra coisa, Sasuke se sentiria vazio.
— Por que não me esperou para ir embora?! — De repente, sentiu mãos em seus ombros, fazendo-o se sobressaltar. A mensagem de Itachi tinha deixado Sasuke tão desnorteado, que ele simplesmente tinha saído da escola sem esperar Naruto para ir embora. Tinha se esquecido que sempre voltavam juntos. — O que foi?
Naruto notou sua expressão distante e sabia identificar quando o amigo estava preocupado. Sasuke fazia a mesma expressão desde que eram crianças. O garoto de cabelos negros não conseguia olhar diretamente para o rosto radiante do outro, perdendo o brilho pouco a pouco enquanto via o incômodo em seus olhos. Não queria fazê-lo se sentir daquela forma.
— Eu me distraí e vim andando — respondeu, olhando para Naruto seriamente. Um carro passou por eles, jogando água, que tinha se empoçado da última chuva, muito próximo de onde estavam.
— É melhor a gente ir andando, ou vão acabar nos molhando — resmungou o loiro, lançando um olhar irritado para o carro que se afastava. Ele tinha segurado a manga da blusa preta do uniforme de Sasuke, para fazê-lo andar. — Fala o que aconteceu de verdade, porque sua cara não tá nada boa!
Normalmente Sasuke iria rebater com algum comentário sarcástico, mas apenas manteve a expressão cansada no rosto. Naruto balançou a manga da blusa, para chamar a atenção do outro garoto
— É sério, Sasuke. Se não começar a me contar suas merdas, vai acabar explodindo. Mesmo você me achando idiota, ainda sou o único que você tem para contar as coisas — disse o loiro. Ele tinha começado a andar de costas de frente para Sasuke, mas ainda não tinha soltado a manga de sua blusa.
— Que animador… — Sasuke estremeceu e Naruto fez uma careta.
— Estou falando sério.
— Tá, mas para de andar desse jeito! É irritante — estabeleceu, puxando o loiro pelo braço, para que ficasse ao seu lado. Podia sentir os olhos azuis sobre si, ansiosos, enquanto passavam pelas lojas em direção ao rio. Um raio iluminou o céu, seguido por um trovão. Era quase noite, uma noite sem estrelas. — O meu irmão disse que vai me visitar no Natal.
Naruto ergueu as sobrancelhas e sorriu.
— Isso é ótimo! Eu sempre me preocupo de você ficar sozinho naquela casa e eu nunca vi o seu irmão! Vai ser muito bom ele vir te ver, não é?! Ele se parece com você? Já está na faculdade? — Uma onda de afirmativas e perguntas veio, como Sasuke esperava. Então esperou até que Naruto terminasse.
— Isso não é ótimo, Naruto. Não faz o menor sentido.
— Como não faz sentido? Ele estava com saudades e quer te ver, não é simples? — seu rosto estava verdadeiramente confuso.
— Ele não pode sentir saudades de quem abandonou — A voz baixa de Sasuke, ressentida, fez Naruto entender bem mais do que as palavras ditas.
Mais um trovão irrompeu em meio aos sons de Nikko, mas, dessa vez, foi seguido por uma chuva fina. Aquela época do ano, para Naruto, era irritantemente úmida e sombria, não tinha conexão alguma com ele. Porém, Sasuke se misturava perfeitamente aos tons frios e azulados, já que o laranja e amarelo começavam a deixar as árvores.
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A Cidade no Quintal
Fiksi Penggemar[CONCLUÍDA] Sasuke sempre ia para o quintal de Naruto pela tábua solta na cerca, escondido. Ali, ele sempre sentiu que podia ser criança de verdade, longe do mundo cinza, próximo a toda cor e som que emanava do garoto de cabelos loiros. Eles sempre...