As estrelas brilhavam em frente aos seus olhos, pontilhadas em um infinito azul profundo, quase preto. Noites de verão eram com certeza as preferidas de Naruto, porque o céu era limpo, a temperatura era quente e a brisa, fresca. Ele podia deitar em sua cama e olhar o brilho das estrelas dali, a quilômetros de distância delas. Olhar para os pontos tremeluzentes era como ver o passado e, naqueles momentos, o garoto notava o quanto era pequeno.
Naquela noite de início de outubro, Naruto pensava sobre as estrelas, como adorava fazer, mas também pensava sobre o quanto estava feliz. Por muito tempo ele tinha esperado por Sasuke, sem estar sentado em uma sala de espera ou em uma fila, é claro, mas esperou subconscientemente. Tê-lo de volta, seu mais antigo amigo, era como se tudo voltasse a estar certo. Tudo o que sentia era a necessidade de compensar o tempo perdido.
A lata pendurada na janela tremulou sutilmente primeiro, atraindo a atenção do garoto loiro. Quando ela saltou, chocando-se contra a parede, Naruto sentiu seu coração disparar com o susto. Aquilo absolutamente não era o vento.
Ele pegou a antiga lata de feijão enlatado e olhou pela janela. O fio estava esticado, mas Sasuke provavelmente permanecia deitado na cama, porque Naruto viu apenas o escuro no interior do cômodo. Então, colocou a lata no ouvido, bem a tempo de ouvir uma voz baixa, murmurada como se a senhora Uchiha, mais conhecida pelo loiro como "Velha Bruxa", estivesse dormindo no quarto ao lado.
— Naruto? — Não era mais a voz estridente e infantil do outro lado, mas muito mais densa e encorpada. A voz adulta do novo Sasuke.
— Quase caguei nas calças de susto, caralho! — exclamou, fazendo o garoto do outro lado soltar uma risada contida, mas que ainda pode ser ouvida.
— Ficou com medo de ser um fantasma? — murmurou. Aquela pergunta trouxe à tona algumas lembranças de infância, mas Naruto as empurrou antes que se alastrassem.
— Eu jamais tive — declarou o garoto loiro, em um uma mentira bastante clara. Ele só conseguia ouvir a respiração de Sasuke do outro lado e, subitamente, percebeu que se questionava sobre o que ele estava pensando. Então, tomou coragem para fazer uma pergunta. — O que você andou fazendo enquanto estava longe, Sasuke?
— Não foi fazendo amigos, obviamente — brincou o garoto, mas, vendo que Naruto não disse nada, continuou. — É estranho pensar que você fez algo enquanto eu não estava aqui. Existe aquela ideia de que nada existe além do que está abrangido pelos nossos sentidos. Se desligar o telefone, como posso ter certeza de que você ainda existe?
— Por que eu existo, oras — o garoto loiro resmungou. Não era muito paciente com qualquer metáfora filosófica. — É sério, o que você andou fazendo?
— Bom — começou —, nos momentos em que eu deixei de existir para você e você para mim, eu apenas continuei. Ainda tinha uma pequena esperança de voltar para Nikko, retomar minha antiga vida, comprovar que você existia. Enquanto isso eu ia à escola e voltava infinitamente. Ouvi muitas músicas e li alguns livros também, mas, com você perguntando agora, não sei o que é realmente importante dizer. — Seu tom de voz era monótono, apesar das palavras que só poderiam ser proferidas por alguém que também olhava as estrelas. Naruto sentiu que Sasuke só poderia dizer aquelas coisas pelo telefone de lata.
— Você dizer isso faz eu me sentir um pouco culpado — murmurou o garoto loiro. — Eu acho que tenho muitas coisas importantes a dizer sobre esse tempo, mas nenhuma delas tem qualquer relação com você. Eu só continuei vivendo.
— Eu sei disso — disse, apenas, fazendo o silêncio perdurar, talvez um pouco desconfortavelmente, entre eles. — Mas você terminou a cidade.
— Eu terminei a cidade — repetiu Naruto, sorrindo, mesmo que Sasuke não pudesse ver.
Mesmo que a cidade tivesse, com o tempo, passado a ser uma espécie de hobby para o garoto e não só o cumprimento de uma promessa, ele ainda se lembrava do amigo de infância sempre que trabalhava nela. De alguma forma a cidade havia ajudado a manter um elo que normalmente se desconecta. O natural seria que o laço se desfizesse, mas algo ainda o manteve parcamente. Agora, fio a fio, eles tinham a chance de remendar o que antes existiu.
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A Cidade no Quintal
Fiksi Penggemar[CONCLUÍDA] Sasuke sempre ia para o quintal de Naruto pela tábua solta na cerca, escondido. Ali, ele sempre sentiu que podia ser criança de verdade, longe do mundo cinza, próximo a toda cor e som que emanava do garoto de cabelos loiros. Eles sempre...