Até mais, meus amigos

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As pétalas das flores de cerejeira rodopiavam sobre eles antes de caírem sobre a cama-elástica, cobrindo-a de tons rosados. Era como um ninho de pétalas. As mãos de Sasuke repousavam sobre a barriga e seus olhos estavam fechados, em uma expressão serena. Dormir na cama-elástica não era algo que tinha em seus planos para seu último dia em Nikko, mas havia acontecido. Era impossível evitar com a brisa suave do quintal o refrescando naquele verão, as fragrâncias nostálgicas da infância, a consciência de que Naruto estava deitado ao seu lado. Quando enfim entreabriu os olhos, notou que era observado.

— Você parecia em paz — murmurou Naruto. Sasuke estava em paz. A paz que só poderia ser obtida com a resignação frente à realidade, a aceitação. Da última vez que fora embora, olhando pela janela do carro o menino loiro parado no meio da rua, seu coração havia ficado ali. Compreendia, agora, que a vazia tristeza desoladora tinha o acompanhado em Hokkaido por não ter aceitado a realidade. Era jovem demais para entender que não existiam eternidades.

— Eu estou, porque sei que não é o fim do mundo — respondeu, por fim. O garoto loiro ainda não parecia ter aceitado completamente, a julgar pelo cenho franzido, os olhos azuis que pareciam prestes a transbordar. — Nós somos como uma estaca e um elástico — começou Sasuke — Eu estou na ponta do elástico, esticando-o quando vou para longe. É cansativo, doloroso e é, consideravelmente, mais fácil apenas ficar próximo da estaca. Você é a estaca que me faz ter um lugar para voltar, que me prende, mas que também me dá paz. Caso contrário, eu seria só um elástico solto por aí.

Naruto riu. Não era a intenção de Sasuke que ele risse, mas era melhor que fazê-lo chorar. O garoto loiro apoiou o queixo em seu ombro, seus cílios dourados baixos. Ficaria tudo bem, eles sobreviveriam.

— Isso não é muito comum, mas eu não sei o que dizer — falou Naruto, que sempre sabia o que dizer, mesmo que não fosse exatamente a coisa certa na maioria das vezes. — Você vai voltar em todas as férias e feriados?

— Vou tentar, mas não garanto. Talvez eu precise usar os feriados para estudar… — disse e Naruto revirou os olhos — E você, não saia namorando qualquer garota que estiver chorando em uma escada por ficar comovido.

— Ei! Desde o fundamental eu só namoro por amor! — resmungou e Sasuke sorriu, acariciando seus cabelos. Naruto ficou sério novamente, parecendo se lembrar de algo. — É injusto que isso doa tanto.

— Naruto… — Sasuke não olhava para ele, mas para o céu. Sentia falta de seus pais, de sua avó, muitas vezes de seu irmão. Tudo o que ele amava, em algum momento, lhe era tirado e sempre doía. Porém, ele ainda estava ali, vivendo pelo que restava, e o garoto ao seu lado o mantinha na estrada. — Você não tem ossos de vidro. Pode suportar os baques da vida.

— É — respondeu, simplista, voltando a olhar para o céu também, entrecortado por flores de cerejeira. Naruto ainda não entendia o que Sasuke tinha dito em toda sua magnitude, porque nada havia lhe sido tirado até aquele momento e, mesmo assim, não seria permanente. — Quando é que ficamos tão dramáticos?

— A gente sempre foi, não? — Sasuke deu um risinho anasalado com a própria resposta.

— Não, nem sempre! Deve ser só o peso de estarmos saindo do ensino médio. Eu estava acostumado em ter todos os meus amigos por perto, acostumado a estar sempre em Nikko e esse é meu mundo. Agora o futuro parece meio enevoado, não sei. Isso me dá um pouco de medo do que vem daqui pra frente.

— Eu sempre soube o que fazer depois do ensino médio e já planejei até quase a minha aposentadoria — disse Sasuke, em tom orgulhoso, e Naruto fez uma careta. — Mas eu entendo um pouco você, pobre mortal.

— Planeja a minha vida então! — resmungou. — Porque eu sinto como se estivesse correndo por um caminho tranquilo, até ver uma bifurcação. Os dois caminhos que posso escolher estão cheios de névoa, então não sei qual escolher. Então eu me sento e espero por alguma coisa, algum sinal de para onde ir. Fico parado até que um dragão de três cabeças cuspindo fogo apareça nas minhas costas e me obriga a escolher.

A Cidade no QuintalOnde histórias criam vida. Descubra agora