9 DIAS PARA O FIM DO MUNDO
-A supernova Eta Carine atingirá a Terra na madrugada do dia cinco de março, às 00:20 – O mesmo jornalista que tinha dado a notícia do fim do mundo naquela loja de conveniência no dia dois de fevereiro disse, no telejornal que Peter e Nanna assistiam – É recomendável que todos fiquem em suas casas nessa noite.
-Por que eles falam que é "recomendável" nos ficarmos nas nossas casas? – Nanna indagou – O fim do mundo é no mundo inteiro. Em qualquer lugar que estivermos, vamos morrer.
-Eles falam isso porque é o que todos querem ouvir quando o fim do mundo está a nove dias de distância, Nanna. Não é a culpa deles – Peter disse, sem ânimo.
A garota revirou os olhos, e fingiu que nem havia começado a falar sobre o assunto.
Continuaram a assistir o jornal, sentados no sofá da casa do garoto, com Sorry no meio deles; o cachorro estava se apegando bastante aos dois adolescentes que conhecia não fazia nem a uma semana. E Peter e Nanna também estavam se apegando bastante ao pequeno animal.
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-Da pizza do Papa John's, dos meus CD's, ir visitar meus avós, andar de bicicleta no verão, meus cigarros, de ir no médico, de...
-Ir no médico? Quem é que sente falta de ir no médico? – Peter interrompeu Nanna.
-Eu sinto falta! Eu gosto da estética de hospitais e consultórios médicos, é tudo branco, pálido, mórbido. Eu gosto disso.
-Você é muito retardada.
-Você é mais, lembre-se.
-Mas do que você não vai sentir falta?
-Acho que da minha depressão. De minha tia me acordando cedo em domingos para limpar a casa. Da minha tia Dolores, aquela mulher é o anticristo. Não vou sentir falta do Natal. E de muitas outras coisas, mas principalmente da minha depressão. E você vai sentir e não sentir falta do que?
-Não vou sentir falta das ressacas do dia seguinte. Nem das bad trips, já tive várias. Também não vou sentir falta de ervilha, cenoura, ter que acordar cedo em dias frios para ir para a escola. E vou sentir falta da minha mãe, das comidas que ela fazia, ficar acordado até tarde vendo filmes, e de você. Principalmente de você.
Peter e Nanna estavam deitados no carpete da sala da casa do garoto. Estavam discutindo a horas as coisas que iriam e não iriam sentir falta quando morressem.
Era estranho como eles falavam que iriam sentir saudade de algo quando morressem, sendo que não estariam vivos para sentir falta de qualquer coisa. Era uma coisa tipicamente humana: se acharem imortais.
Depois de duas horas deitados naquele carpete verde e muito gasto, subiram para o quarto de Peter.
A primeira coisa que ele fez foi colocar uma música do Train para tocar em seu computador. Sabia que Nanna odiava falsamente aquela banda, pois suas músicas eram muito "do tipo que toca em comédia romântica onde a mulher trabalha com alguma coisa relacionada a escrever". E Peter sabia que ela amava principalmente aquela música.
Nos primeiros acordes, os músculos da garota ficaram tensos.
-O que foi Nanna? – Peter perguntou, com um sorriso nos lábios ao ver a menina parada como uma estátua no meio do quarto. Aproximou seu rosto ao dela, a provocando – Não gosta dessa música.
-Eu te odeio, Peter. E que se foda, você sabe que eu amo essa música! Just a shy guy, looking for a 2-ply hefty bag to hold my love!
-When you move me, everything is groovy, they don't like it sue me. Mmm the way you do me! – Peter cantou junto com ela.

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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
Ficção AdolescenteNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...