I felt sad for no reason [EDITADO]

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-Como você está? – Peter perguntou, se aproximando dela.

-Eu estou bem. Um pouco. Não muito. Quase nada.... Nada. Mas não é fisicamente.

Nanna deu um sorriso forçado para Peter. Ele se aproximou dela e levou sua mão até o pescoço da garota; o acariciou, e beijou a testa da garota. Peter e Nanna se olharam profundamente, um no olho do outro, até que ele perguntou, com a voz serena para não assustar ela:

-Por que você tentou fazer isso? – Nanna ficou receosa com a pergunta, Peter conseguiu perceber, mas acabou respondendo.

-Eu tenho depressão desde os meus 14 anos. Eu pensava que era por causa da morte dos meus pais, mas não era. Eu ficava triste sem motivos. Me sentia solitária. – A voz da garota tremia – Minha tia me levou num psicólogo, comecei a tomar remédios. Nunca cheguei a me cortar, nem pensei em fazer isso, mas pensei em me suicidar várias vezes. Já tive muitas recaídas: ficava no meu quarto fazendo nada, olhando para a janela e comendo sorvete o dia inteiro. Era horrível, Peter. E quando a gente começou a conversar.... Eu senti que tudo estava passando. Tive algumas crises, mas nada tão forte. Até.... Isso acontecer. – Nanna apontou para o corte costurado em seu braço.

-Por que você nunca me contou? – A voz de Peter ainda era gentil.

-Porque eu tinha medo de você me achar ridícula, fraca. Ou de você ficar com pena de mim.

-Eu nunca vou te achar ridícula ou fraca. Nem vou ficar com pena de você. Nanna, você me conhece, sabe que não sou desse tipo.

-Mas eu tinha medo – Ela sussurrou, olhando pela janela.

-Não era preciso.

Peter segurou a mão dela. Disse que sua tia havia pedido para ela ligar, e ele emprestou seu celular para Nanna. A garota ligou para Amélie; as duas não conversaram por muito tempo, mas choraram muito. Enquanto ela falava com a tia, Nanna ainda segurava a mão de Peter.

A ligação acabou e ela devolveu para Peter seu celular. Peter pensou em perguntar para Nanna sobre a tal irmã que Amélie tinha citado, mas resolveu não fazer aquilo. Já tinha feito perguntas de mais para um dia só.

Os dois conversaram por mais alguns minutos até que dois enfermeiros entraram no quarto e tiraram Peter a força de lá. Enquanto o garoto era arrastado para fora, ele gritou:

-Amanhã eu volto, eu prometo!

Nanna deu um pequeno sorriso ao a promessa.

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Peter cumpriu sua promessa e voltou no dia seguinte. Enquanto ia para o hospital, passou em uma loja de conveniência e comprou uma lata de Coca-Cola, um pacote pequeno de Doritos e um maço de Marlboro Lights; mesmo sabendo que ela não poderia fumar no hospital, ele comprou um para quando ela saísse de lá.

Naquela noite, não conseguiu dormir direito. Não conseguia parar de pensar em Nanna, e estava ansioso para vê-la novamente.

Chegou no hospital no início da tarde. Parou em frente a recepção e não conseguiu ver o rosto da recepcionista, que estava virada de costas mexendo em alguns papéis. Peter pigarreou, e ela tomou um susto, se virando. O menino sorriu ao ver quem era.

-Olha só quem está aqui! – Lindsay exclamou – O loverboy! Veio ver a.... Nanna, certo?

-Sim, ela mesmo. Posso ir ver ela?

-Ela deve estar almoçando agora, mas é possível sim. Só assine aqui e já pode ir – Enquanto assinava, Lindsay chamou uma jovem que passava perto da recepção – Ei, Margareth! Você pode levar o senhor aqui até o quarto da senhorita Mars?

Margareth assentiu com a cabeça. Ela era uma moça de vinte e poucos anos, cabelos pretos e curtos, olhos verdes. Era uma enfermeira; isso era perceptivo pelas roupas brancas que usava, a não ser pelos sapatos pretos com pequenos saltos. Peter e a enfermeira chegaram no quarto de Nanna; a moça se despediu com um sorriso.

O garoto abriu a porta e viu Nanna olhando com nojo para um prato de sopa em seu colo. Peter riu, e a garota virou o rosto assim que ouviu o som. Ela sorriu abertamente para ele.

-Pelo jeito, você não vai conseguir comer essa comida aí. Ainda bem que eu trouxe comida de gente para você – Peter disse, entrando dentro do quarto e tirando as comidas dentro de uma sacola de plástico.

-Ó, Peter, meu cavalheiro de armadura brilhante, o que posso fazer para recompensá-lo? – Nanna perguntou, pegando a latinha e a abrindo.

-Um beijo já basta, senhorita.

-Idiota – Ela bebeu um gole da Coca-Cola e em seguida beijou Peter, que naquele momento já estava sentado na cadeira ao lado da cama de Nanna – O que a gente faz com a sopa?

-A gente joga ela pela janela.

-Boa ideia.

E assim Peter pegou o prato, abriu a janela e jogou toda a sopa amarela à baixo; assim que o liquido tocou o chão, ele instantaneamente congelou.

O garoto se sentou novamente e entregou o maço de cigarros para Nanna. Ela o escondeu dentro de seu travesseiro, dizendo que fumaria na madrugada, enquanto todos pensassem que ela está dormindo.

Nanna contou sobre sua primeira noite no hospital: teve que dormir com a luz acesa e com uma enfermeira dentro do quarto, no caso de acontecer algo. O médico disse para ela que só receberia alta dentro de cinco a sete dias, pois tinha que ficar em observação primeiro. Naquela manhã teve uma conversa revigorante com a psicóloga do hospital, e estava se sentindo bem naquele momento.

Peter disse que era uma merda ela ter que dormir com uma enfermeira no quarto, e que só levaria alta daqui uma semana, mas logo em seguida mudou de assunto. Os dois conversaram durante a tarde inteira. Peter ficou lá quando as enfermeiras vieram pegar o prato de Nanna, quando trocaram a atadura no pulso dela e colocaram uma bolsa de soro para correr em suas veias. O corte no pulso da garota estava muito vermelho, e agora, ele conseguia ver o quão grande ele foi.

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Na segunda-feira, Peter saiu do colégio e foi direto visitar Nanna. Ele estava determinado a perguntar sobre a irmã misteriosa dela. Ao chegar no hospital, falou com a recepcionista – que, naquele dia, não era Lindsay, mas sim uma cinquentona com cabelos grisalhos chamada Louise – e foi para o quarto de Nanna.

Ela estava sozinha no quarto, lendo um livro que uma das enfermeiras havia emprestado para ela ler. Era um típico romance água-com-açúcar, um tipo de livro que Nanna adorava mas tinha vergonha de admitir.

O garoto começou a puxar assunto com ela, até resolveu soltar a bomba de uma vez:

-Sabe, quando eu liguei para sua tia, ela não parava de dizer que você não podia morrer igual sua irmã – Os músculos de Nanna contraíram – Que irmã é essa, Nanna? – Gentilmente, Peter perguntou.

Ela ficou em silêncio. Peter não a apressou, deixou ela tomar seu tempo. Dois minutos depois, começou a falar:

-Eu tinha 5 anos quando ela morreu. O nome dela era Cecilia... Cecilia Vincent Mars. Ela tinha 15 anos quando morreu. Eu não me lembro muito dela, mas lembro que ela era muito legal comigo e me fazia ouvir todas as bandas que gostava, que são a maioria das que eu gosto hoje em dia. Quando eu tinha 12 anos, eu perguntei para o meu pai por quê Cecilia se suicidou. Meu pai disse que não sabia, que nunca havia percebido que ela estava triste por algum motivo. Ela partiu sem deixar um aviso. Simplesmente foi embora sem dizer tchau.

-Quais bandas ela fazia você ouvir?

-Belle and Sebastian, The Smiths, David Bowie, Wilco... A gente colocava umas roupas engraçadas e dançávamos pelo quarto dela, enquanto minha mãe gravava nós duas. Era bem legal.

-Eu gosto quando me conta sobre sua vida.

Nanna sorriu de lado, e começou a falar sobre algo totalmente aleatório, porque ela era assim: começava a falar de cereais e como odiava quando eles ficavam moles por causa do leite quando não queria mais falar de um assunto. E Peter respeitou aquilo.

Little Trouble Girl, Little Trouble BoyOnde histórias criam vida. Descubra agora