4 HORAS E 1 MINUTO PARA O FIM DO MUNDO
-Eu ainda não consigo acreditar que é hoje à noite.
Nanna disse, deitada em sua cama, olhando para o teto branco manchado. Se perguntou como aquelas manchas se formaram.
-Acredite, querida – Peter disse, na frente da estante de CD's de Nanna. Procurava algum para ouvirem naquela noite.
Já era noite. 19:59.
Ainda não conseguiam aceitar o fato de que, depois de trinta e dois dias intermináveis esperando, o mundo finalmente iria se desintegrar por completo e a raça humana entraria em extinção.
Nanna fez o almoço naquele dia. Fez, pela primeira vez, ratatouille – igual ao do filme – e crème brûlée. Tomaram o resto de vinho que tinha na geladeira. Durante todo o almoço, relembraram das coisas que sentiriam falta quando morressem. Quando terminaram de comer, ligou para seu melhor amigo, Josh. Deu um último adeus para uma das únicas pessoas que o apoiou em tudo em sua vida.
Peter pegou um CD do Connan Mockasin, e o colocou para tocar no aparelho de som.
-Tira esse CD agora, por favor – Nanna pediu, de olhos fechados, enquanto massageava suas têmporas – Esse cara me dá medo. Acho as melodias das músicas satânicas. Nem sei porque gastei cinquenta dólares nessa obra do diabo.
Peter riu, e tirou o CD. Enquanto procurava algum outro não diabólico, Nanna cantava baixo alguma música teen que ela gostava e ele não. Mais alguns minutos procurando, e Peter desistiu de tentar escolher. Deixou o destino escolher.
Fechou os olhos, e passou sua mão pelos CD's da estante. Por um momento, parou e sentiu o plástico em sua pele. Provavelmente, seria a última vez que faria aquilo: escolheria algum CD enquanto Nanna fazia qualquer outra coisa.
Sua mão parou em um CD do Beirut.
A janela estava um pouco aberta, e uma ventania forte e congelante entrava para dentro do quarto. Um pouco de neve entrava também. Um floco de neve caiu em cima do nariz de Nanna, e ela riu.
Por alguma razão, ela riu.
E aquela foi a risada mais honesta e verdadeira que ela havia dado desde a notícia do fim do mundo.
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3 HORAS E ALGUNS MINUTOS PARA O FIM DO MUNDO
Desde que acordaram, estava nevando.
Nanna quis brincar de guerra de bolas de neve mais uma vez em sua vida antes de morrer.
Ela e Peter foram até o quintal atrás da casa da garota, e começaram a brincadeira. Peter venceu a última guerra deles, depois de muitas vitórias consecutivas de Nanna.
Pelo jeito, o desastre inevitável era um incentivo a mais para ter forças e determinação para ganhar.
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20 MINUTOS PARA O FIM DO MUNDO
Meia noite.
Muitos da cidade de Yonkers, e do mundo inteiro, estavam em suas casas. Alguns outros bebiam, fumavam, se drogavam, dançavam e cantavam ou até mesmo andavam. Andavam durante o fim do mundo.
Mas não era o caso de Nanna e Peter.
Os dois estavam em casa. Na casa de Nanna, no quarto dela. Deitados em sua cama, olhando um para o outro, com Sorry aninhado no meio da perna deles. Peter usava seus óculos e mesmo assim, Nanna conseguia ver a imensidão dos oceanos do garoto.
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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
Ficção AdolescenteNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...