30 DIAS PARA O FIM DO MUNDO
Nanna arrumava sua mochila para a viagem até Morse Beach, a praia em West Heaven onde ficaria por alguns dias com Peter.
Colocou dentro da mochila uma calça jeans, um suéter, duas blusas de tecido grosso e manga longa e sua jaqueta de couro. Pegou seu CD do David Bowie para ouvir durante o caminho. Procurou por sua carteira, e a colocou no bolso da frente da mochila preta e finalmente a fechou por completo.
Calça preta, All Star preto, blusa de gola rolê preta e o suéter verde de Peter era sua roupa do dia; mesmo levando uma mochila cheia de roupas, vai saber se poderia pelo menos trocar a que estava em seu corpo.
Nos últimos dias, Nanna estava usando muito o suéter que Peter deu para ela. Era um meio de ficar mais perto do garoto, mesmo estando com ele. É isso que o fim do mundo faz com as pessoas: as deixa desesperadas a não se sentirem sozinhas
Antes de sair do quarto, se olhou no espelho. Sua franja estava um pouco separada no meio, porque já estava crescendo. Os olhos castanhos estavam um pouco inchados, e o rosto mais pálido que o normal. Nanna deu de ombros, e foi até a sala.
Deixou sua mochila junto com a do garoto, e foi até a cozinha, onde Peter estava; usava uma calça jeans clara, blusa branca de gola rolê – igual a de Nanna – e sua jaqueta de couro. Seus cabelos pretos estavam bagunçados na frente; desde que acordou, não tinha nem penteado eles.
Ele estava encostado na pia, comendo um pouco de mac and cheese direto de um pote de plástico.
-Já está pronta? – Ele perguntou, com a boca cheia de comida.
-Estou. E não fale de boa cheia, é falta de educação, e eu sei que você recebeu educação dos seus pais.
-Tá bom, mãe – Peter reclamou, agora com a boca vazia.
Nanna foi até o lado dele, pegou o garfo da mão de Peter e comeu um pouco do mac and cheese. O garoto olhou para ela com reprovação, mas ela nem notou o olhar dele. Deu de ombros, e continuou a dividir o macarrão com ela.
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Peter e Nanna cantavam, Soul Love, do David Bowie, com todo o folego que tinham enquanto iam para West Heaven. Haviam acabado de entrar na rodovia I-95 Norte, e teriam que ficar nela por uma hora e mais alguns minutos.
-All I have is my love of love, and love is not loving! – Cantaram juntos, o mais alto que puderam.
As janelas estavam abertas, e o vento frio e puro da estrada entrava dentro do carro, cortando o rosto deles e penetrando seus pulmões. A música estava altíssima, igual a voz dos dois. Naquela hora, poucos carros percorriam a rodovia, mas todos que passavam ao lado do porsche 911 old school preto de Peter olhavam para dentro do carro, para verificar se dentro tinha pessoas ou gralhas.
Mas Peter e Nanna não se importavam.
A música acabou, e enquanto tocava Moonage Daydream, Nanna abaixou o volume e disse:
-Cansei de Bowie, você trouxe seus CD's?
-Só trouxe o do Lou Reed. Está no bolso da frente da minha mochila, pode pegar.
Nanna assentiu e se esticou até o bando de trás, e pegou a mochila azul de Peter. Se sentou novamente no banco de carona, e abriu o bolso da frente. Pegou o CD e viu uma mancha vermelha que a chamou atenção.
-Que bandana é essa? – Ela perguntou. Peter tirou os olhos da estrada e viu uma bandana vermelha na mão de Nanna.
-Era do meu pai – A garota sorriu, e prendeu a bandana ao redor da cabeça dele.
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Little Trouble Girl, Little Trouble Boy
Fiksi RemajaNanna Mars nunca teve amigos. Nunca. Nem ao menos um. Já teve alguns namorados, mas nunca alguma "melhor amiga para quem pudesse contar tudo e chorar vendo comédia romântica de madrugada". Não tinha realmente reparado em Peter, até que ele começou a...