Um momento de paz

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Draco

Eu realmente achei que nunca mais precisaria vê-la, ou falar com ela, mas tendo amigos em comum, isso seria impossível. Eu só havia encontrado com ela três vezes na minha vida: duas a gente havia brigado e na terceira, ela me ignorou. Mas ali, sentado ao seu lado, ela sorrindo comigo sem brigas ou insultos, eu sabia que não conseguiria ficar longe. E depois da trégua que tivemos no shopping, eu sabia que podia tentar ser ao menos seu amigo.

Mas como ela havia dito, a primeira impressão é a que fica.

Estava deitado na minha cama. A noite estava quente e eu não conseguia dormir. Rolava de um lado para o outro, mas o sono não vinha. Eu estava só. Blás e Theo haviam saído.

Peguei o celular e olhei a hora, ainda era cedo, quase meia noite. Havia uma mensagem de Astória.

"Oi, como andam as coisas por aí?

Sinto sua falta :(

Com amor, Ast."

Respondi mesmo achando que ela já estaria dormindo aquela hora.

"Por aqui tudo bem. E por aí?

Também sinto falta de você."

D.M.

Não era mentira. Eu sentia falta da paz que Astória me transmitia, de conversar com ela e de fazê-la rir com minhas piadas ruins. Eu não estava apaixonado por ela, mas de alguma forma, eu gostava da sua companhia.

Levantei da cama e fui ao banheiro.

Percebi que havia uma luz acessa em um dos boxes, me aproximei e ouvi alguém chorando. Não queria me intrometer, mas aquele choro me pareceu tão triste e cortante, eu só queria saber quem estava ali, naquele estado. Queria poder ajudar.

Entrei no box ao lado do que a pessoa chorando estava, apoiando as costas contra a parede e colocando os braços sobre as pernas. Percebi que a pessoa havia parado de chorar. Esperei que ela dissesse algo, mas ninguém disse nada.

— Oi?

Nenhuma resposta. Novamente, a pessoa começou a chorar.

— Está tudo bem aí?

Quando, depois de alguns momentos, não houve resposta, resolvi que o melhor seria ir embora. Me levantei e abri a porta do box. Antes que eu pudesse chegar a porta do banheiro, a outra porta abriu. Virei e vi quem era a pessoa.

Era ela.

Hermione estava com olhos vermelhos e inchados, o rosto completamente molhado. Usava um pijama de unicórnios, que levando em conta a sua delicadeza e tamanho, provavelmente foram comprados na sessão infantil. Achei aquilo completamente adorável. Quem a visse naqueles trajes, não diria que ela era completamente agressiva e desiquilibrada. Sorri para ela.

— Eu juro que não sabia que era você.

Falei, caso ela achasse que eu estava invadindo sua privacidade de novo.

— Tudo bem -- ela deu um sorriso fraco, me olhando da cabeça aos pés — Por que você está aqui a uma hora dessas?

Eu usava apenas uma calça de moletom e uma camisa fina. Dei de ombros.

— Eu não conseguia dormir. Só achei que um banho me faria relaxar, mas aí eu vi que tinha alguém aqui, chorando...

Olhei para ela e seus olhos estavam cheios de lágrimas novamente.

— Ei, o que houve?

Falei me aproximando dela. Coloquei minhas mãos sobre seus cotovelos, os segurando. Ela olhou pra mim e seu rosto ficou vermelho. Depois engoliu em seco e respondeu:

— Eu só tive um pesadelo -- Sequei a lágrima na sua bochecha com os dedos e ela se afastou com o toque — Mas agora eu já estou bem, obrigada.

Ela foi até a pia e começou a lavar o rosto.

— Você não precisa se afastar a cada vez que eu toco você.

Falei olhando pra ela pelo seu reflexo no espelho.

— Eu não sei do que você está falando.

Ela baixou os olhos para a pia, jogando mais água no rosto e em seguida pegando uma toalha de papel e o enxugando.

— Cada vez que eu toco em você, ou que eu estou por perto, você se afasta e fica na defensiva. Você evita me olhar nos olhos. Igual está fazendo agora.

Ela me encarou com uma expressão fechada.

— Por que você não evitar ficar perto de mim então? Eu já disse que não...

Dei uma risada alta e ela arqueou as sobrancelhas.

— Por favor, não diga que você não gosta de mim. Eu sei que não é só isso. Vamos pelo menos tentar ser amigos, sim? Meus amigos são amigos das suas amigas. Então, será impossível fingir que não existimos. Vamos pelo menos tentar manter a paz por enquanto.

Falei levantando as mãos em sinal de redenção. Ela me olhou desconfiada.

— Você não vai desistir, não é mesmo?

--  A gente poderia tentar se ignorar, se você preferir, mas isso seria cansativo e chato. Eu prefiro pular toda essa parte.

Eu sorri e estendi a mão para que ela apertasse.

— Amigos?

Ela olhou minha mão estendida e mordeu o lábio, depois cruzou os braços e bufou.

— Amigos.

Ela disse finalmente, mas sem apertar sua mão na minha. Ri baixinho e balancei a cabeça.

— Agora posso saber por que você estava chorando?

Eu disse me encostando no balcão perto dela. Ela me encarou por dois segundos e deu de ombros sutilmente.

— Bom, isso não é da sua conta.

Ela sussurrou por fim.

— Somos amigos agora, não somos?

Hermione revirou os olhos e riu consigo mesmo.

— Eu tive um pesadelo, já disse, mas é que parecia tão... real -- Ela sussurrou, fechando os olhos -- Há dias eu não sonho com isso, mas aconteceu uma coisa... e tudo voltou. É complicado demais.

— Foi a pessoa que você viu no bar?

Perguntei curioso.

— Como você...

Ela disse com o rosto surpreso. Dei de ombros.

— Eu só percebi.

Ela suspirou e se afastou da pia, passando as mãos nervosamente no pijama.

— Olha, não é nada, okay? Nada que tenha importância para você. Eu vou deitar. Foi muito... produtiva, a nossa conversa. Agora, se me der licença, preciso dormir.

Dizendo isso, ela saiu em direção a porta, mas não sem antes virar e me olhar. Dei um sorriso que ela não retribuiu no momento.

— Boa noite, Malfoy.

Ela disse baixinho e deu um sorriso claramente forçado.

— Boa noite, Granger.

Eu sabia que seria difícil conquistar sua confiança, mas agora éramos quase amigos, e isso já era um grande avanço entre nós. O sorriso dela me fazia querer sorrir também, sua companhia me deixava leve e não era algo como o que acontecia com Astória. Eu realmente estava começando a gostar de Hermione, e só Deus sabia os motivos disso.

Impossible - DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora