Amor quando é amor não definha
E até o final das eras há de aumentar.
Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado.William Shakespeare.
Acordei um pouco cedo em uma manhã ensolarada. Tranquila, monótona e pacífica. Os raios solares me trouxeram conforto. Foi um tanto estranho acordar a essa hora e não escutar o estrondo habitual dos meninos no primeiro andar. Vesti uma roupa adequada e depois desci até a cozinha. Tia Irene havia chegado ao mesmo tempo que eu, entrando pela porta da garagem; ela tinha acabado de chegar com os pães que havia comprado para o café da manhã.— Bom dia, tia Irene — disse num tom baixo, como alguém que teria acabado de acordar.
— Bom dia, Léo — ela respondeu languidamente.
Me sentei na mesa e comecei a tomar meu café da manhã. Notei o pão com um aspecto de velho, mas eu estava muito esfomeado para que pudesse reclamar.
Depois de fazer as refeições, fui até a Lounge para falar com meus amigos. Vi apenas o Boquinha, o qual estava gravando um vídeo mostrando coisas que havia comprado, mesmo assim falei com ele.
— Eae, Boquinha! — eu cantarolei, fiz uma imagem em mim mesmo para que pudesse aparecer no vídeo.
— Oi, Léo! — ele me respondeu da mesma forma, e depois, mirou a câmera para meu rosto. Eu acenei.
Esperei que Boquinha encerrasse seu vídeo para que eu pudesse falar com ele, enquanto isso acessei o meu Instagram. Notei o silêncio, só ele estava lá. Me sentei no sofá lilás atrás dele. Em instantes, ele havia terminado a gravação e tive de verificar.
— Ei, Boquinha, você viu os meninos hoje? Ou eles ainda estão dormindo? — eu perguntei.
— Vish, todos eles sairam a noite e até agora não voltaram. Eles nem te chamaram? Ontem eles me chamaram mas eu tinha compromisso para hoje.
— Ninguém me disse nada — eu lastimei, a cabeça abaixada.
— Estranho né, Renato sempre te chama quando vai sair — Boquinha disse, e depois meditou.
— Então, nem falei com ele direito ontem... Beleza então, Boquinha, vou subir, quando eles chegarem você me avisa porque eu quero uma explicação — levantei-me agilmente do sofá e fui até a porta.
— Pode deixar — ele me lançou um joinha.
— Você sabe se o Gui também foi? — virei-me para ele novamente, lançando um olhar cheio de expectativa.
— Não sei, Leo.
— Vou olhar no quarto dele então.
Subi as escadas e fui direto verificar o quarto do Gui, e para minha surpresa, ele também não estava lá. Foi triste saber que nenhum deles me chamou. E agora começei a pensar se eu tinha feito algo errado. Quando cheguei em meu quarto, começei a dar uma olhada em meu canal pra ver se estava tudo correndo bem. Os números crescendo surpreendentemente. Depois de um tempo olhando o canal eu decidi olhar o Instagram novamente, e logo me deparei com um vídeo de mim com o Renato, a tag abaixo escrita Leonato. Enquanto o vídeo passava tive tempo de pensar em tudo que a gente passou, mas, em minha vasta mente, era apenas amizade, e por um momento tive certeza que nossos fãs entendiam que isso explicava nossos breves momentos. Ponderei. Atrás de mim, fortes batidas na porta ressonaram.
— Os meninos já chegaram, você não ia falar com eles? — Boquinha brincou, escancarando a porta.
— EU VOU É AGORA! — eu exclamei, o som de minha voz aumentou o bastante para que eu pudesse sentir uma veia saltando em meu pescoço, mesmo que num tom de humor.
Boquinha continuou rindo, e depois descemos para a Lounge.
Chegando lá, me deparei com todos os meninos, sendo eles o Gui, Renan e o Renato. Havia me esquecido de como ele era intimidador — e isso se aplicava apenas para mim — talvez demoraria um pouco para que eu entendesse. Cambaleei até eles.
— Bom dia meus amigos! — eu gritei, a voz ainda fraca por conta da sonolência. Todos os três me responderam com um Bom dia languidamente. Renato foi mais solene que eles.
— Oi, Reh, onde vocês estavam? Nem me chamou — eu disse choroso.
A boca de Renato curvou-se.
— Eu fui num churrasco com os meninos, lá na casa do Rezende. Mas você estava em casa? Pensei que você tinha saído, eu só te dei bom dia ontem — ele franziu.
— Nossa Reh, eu fiquei no meu quarto a tarde inteira.
— Foi mal, Léo — sua conclusão foi suave e sincera. Ele fez biquinho.
Naquele momento senti um pudor subir em meu rosto. Meu coração acelerava incessantemente, e isso me fez lembrar o que houve na sexta-feira; ele foi até meu quarto e insistiu para que eu assistisse um filme com ele, um filme que havia sido lançado recentemente, e por algum motivo, algo que parecia me impedir, eu não consegui negar friamente. O tempo inteiro ele se certificou de colar sua perna na minha — meu rosto virando escarlate.
— Da próxima vez não se esqueça de mim — eu murmurei, num aparte breve.
Renato seguiu até a cozinha e despediu-se com um sorriso. Não pude deixar de acompanhar sua feição airosa: a esfera de seu queixo, a curva suave dos lábios cheios — que segundos atrás estavam retorcidos num sorriso —, seu nariz corpulento e como um extra, do tipo que lhe ansiava para adquirir em seu jogo favorito, seus olhos calorosos. Eram grandes e profundos, onde contia uma franja grossa de cílios escuros; as minúsculas esferas negras como carvão. Olhar em seus olhos sempre fazia eu me sentir extraordinário — como se aquilo fosse essencial para que eu sobrevivesse a qualquer situação. Ao mesmo tempo a confusão tomava conta de minhas linhas de pensamento, que quando finalmente pareciam estáveis, tornavam-se umas grandes linhas de irresoluções.
Recuperei o fôlego, ainda um pouco tonto, e entrei para dentro.
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MY LIFE | Leonato
RomanceO que diria ao seu melhor amigo quando você o ama de verdade? Palavras como "eu te amo" soaria como uma pronúncia estranha aos outros ao meu redor. Mas eu não estou falando de um amor de "amigos" como uma vez pensaram, é um amor maior, ele me consom...