|| A Clareira ||

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Tinha acabado de começar a garoar na noite de Natal. O acumulado de nuvens formou-se no céu como Clone havia previsto anteriormente, o céu sombrio, de uma forma que nos incapacitou de enxergar sem a ausência de luz. Thiago acendeu uma fogueira no meio das barracas. Na barraca mais distante de onde estávamos Leah estava dormindo com o Coronado —  Coronado roncando tão alto que me perguntei como Leah não acordava. Renato e Thiago organizaram nossas testemunhas em volta da fogueira, mais cedo eles tiveram um trabalho de arrastar dois grandes troncos para que todos pudessem se sentar, e ainda assim a maioria ficou em pé — não era nada que os incomodasse. Fiquei olhando de longe, ao lado da barraca de Leah esperando que ela acordasse.

Depois de um tempo, Coronado saiu da barraca deixando Leah ainda dormindo para se juntar ao círculo de testemunhas. Conversavam sem parar.

Quando ela acordou eu a ajudei a se vestir com roupas quentes e confortáveis, afinal estavam fazendo dezessete graus. Não queria a deixar com roupas inapropriadas, e então tive de comprar algumas novas. Me certifiquei de escolher as que pareciam resistentes para que não revelasse nenhum tipo de desgaste — mesmo que a pessoa as usasse enquanto andava encima de uma moto por todo o país, sem sequer um descanso. Pus a mochila azul que preparei dentro da caminhonete com o dinheiro, documentos, passaportes e as cartas que escrevi para ela e Coronado. Tive certeza que todas essas coisas não seriam um fardo pesado para ela.

Sua pequena mão suava enquanto ela lia minha angústia ao tocar meu rosto.

Retirei sua mão de meu rosto e a apertei levemente. Ela me imitou. — Eu amo você, filha. Lembra do que eu te disse uma vez? Nunca vou deixar ninguém te machucar — eu disse a ela.

— Eu também te amo, pai — ela me respondeu, a voz trêmula. E depois segurou o medalhão que eu lhe dera na semana passada, que após uma alteração, havia uma pequena foto dela comigo e com Renato. —  Nós sempre estaremos juntos com você.

— Eu sempre estarei com vocês — ela acrescentou com um sussuro muito baixo. Ao dizer isso, seus olhos se inundaram em lágrimas.

Antes que eu a abraçasse e despojasse todo meu amor e conforto, tive de deixar uma coisa muito clara. — Amanhã preciso que você fique com o Coronado, quero que você fique segura, e só ele pode me assegurar disso.

Lutei para engolir meu choro; minha garganta parecia entalada. As lágrimas de Leah escaparam, seus olhos negros brilhando. — Vem aqui... — murmurei, a puxando para perto de mim. Depois ela passou os braços como um torno em meu pescoço. Eu a apertei.

Ainda entrelaçados daquela maneira, eu a tirei da barraca e a levei para fora.

Renato On

Thiago e eu ficamos imóveis atrás das testemunhas, estavam numa formação frouxa. Nos dois troncos exatamente dez pessoas estavam sentadas — o que foi totalmente o contrário do que planejamos. San e Lucas sentaram-se na grama. Eu as examinei por um tempo, e depois mirei na barraca mais distante das outras, o polyester azul-marinho luzente com a iluminação vinda do interior. Ao olhá-la tive tempo em pensar o que realmente trazia todas aquelas trinta pessoas aqui. Por que? Será que estavam aqui para me salvar? Ou era apenas uma oportunidade para confrontar seu maior inimigo? Eu não só estava amedrontado por causa de minha família, mas também de suas vidas, de nossas vidas.

Em um dos meus piores pesadelos eu não estive ao lado do homem que eu amava, o homem que traria algum sentido em minha vida. Mas amanhã, distante de meus pesadelos, desejo que seja diferente, lutarei pela que ele continuasse ao meu lado, junto a Leah.

— Não acredito que todos essas pessoas estão aqui por que engravidei o Léo. Todos estão aqui por um erro que cometi — eu protestei.

Thiago suspirou. — Não se culpe por isso, Renato. Todos estão aqui por um motivo, tanto para enfrentar o Rezende ou para te ajudar, para salvar sua família — sua conclusão foi delicada e suave. Ele voltou a fitar o círculo.

MY LIFE | LeonatoOnde histórias criam vida. Descubra agora