|| Visita ||

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"Espero que você saiba que eu não tenho nada contra você e seus amigos. Apenas quero conversar com você sobre assuntos pendentes. Como já deve ter percebido, não tenho más intenções. Ass: Virgínia."

Uma última carta estava no chão da garagem naquela manhã. Passei os dedos pelo papel sentindo as marcas onde alguém pressionara tanto a caneta, quase rasgando o papel.

As letras se apresentavam puxadas e erradas, como se tivesse escrita por alguém preguiçoso e sem uma causa certa, talvez até quebrando a caneta aos poucos por pura falta de delicadeza e pressa.

Teria uma certa vez ouvido falar dessa tal "Virgínia". Muita gente a conhecia, porém eu não a conhecia ao ponto de ler uma carta da própria. Meus amigos deveriam nem a conhecer de tanta forma, os fazendo se perguntar a mim mesmo o por quê da carta. Eu podia sentir a pressa e talvez frustração vindas daquelas palavras escritas contra o tempo.

Andava até a cozinha tentando achar por alguém que me ajudasse a avaliar a carta estranha. Renan era o único que se fazia presente, sentado na mesa de cara para seu celular com brilho mínimo. Minha voz travou, chamaria após pouca proximidade, mas uma música me interrompeu, poderia conhecê-la em qualquer lugar.

Meu celular estava tocando ao seu lado sobre mesa. Renan logo reagiu.

- Léo! - ele berrou. - Ah, você tá aí, é o seu pai - ele me entrega o celular num átimo. Eu o olhava em desespero, embora não percebese.

- É m-meu pai? - gaguejei, uma resposta retórica para ter certeza que não haveria pânico.

"Por que meu pai estaria ligando?"

Atendi ao telefone com receio. Ele me perguntava se estava bem, se já havia terminado a lua de mel e entre outras que o faziam perguntar por interesse. Uma conversa curta para fazê-lo acordar pra vida, garanti a ele que eu estava bem. Como antes. Inesperadamente ele me pediu para que pudesse vir para cá, "Não poderia dizer não ao meu pai, principalmente quando se trata de ver o próprio filho" pensei comigo mesmo. Por impulso, deixei que ele pudesse vir ainda hoje a tarde

Dei a notícia breve aos meus amigos que meu pai viria. Thiago logo se pronunciou, tentando me auxiliar em que eu deveria tomar cuidado na sua presença.Thiago tinha tantas coisas naquela mochila, que cada objeto poderiam salvar uma vida em segundos. Ele retirou uma lente de contato castanho-escuro para esconder o brilho dourado dos meus olhos, para que meu pai não suspeitasse do ocorrido trágico.

- Léo, presta atenção - Thiago chama minha atenção, terminando de colocar a lente em meu olho próximo. - Deve piscar seus olhos três vezes a cada vinte segundos - afirma, distanciando-se. - Também, caso você for abraçá-lo, não faça força - ele sorri.

- Tenta não parecer suspeito - Renato afirma cruzando os braços, e então recostou na porta da Lounge.

- E quanto a Leah? - pergunto inseguro, apertando minha coxa com a mão direita.

- Pode mostrá-la sem medo. Pode dizer que a adotamos - Renato responde, sem medo na base da resposta.

Poderia jurar que eu aceitaria a proposta de manter meu parto em segredo, mas ainda assim não me senti confortável. Por mais que

- Ok, tô pronto - respirei fundo.

Meu coração estava a fundo em um poço fervente de lava, parecia se derreter por completo quando eu imaginava. O que eu iria falar? Como iria reagir? Se ele me perguntasse o que aconteceu, o que eu diria? Tudo isso me incomodava ao ponto de tentar me esconder em meu quarto, e deixa-lo plantado na frente do portão.

Esperei sentado na lounge roendo as unhas, estava nervoso, sozinho e quase correndo de lá. Mais uma hora a verdade sempre vem a tona, revelando-a mesmo que você não queira. Eu teria de falar uma hora, e essa é a hora.

As pedras que se espalhavam pelo asfalto se quebravam fazendo um barulho significante, as rodas do carro de meu pai passavam por cima delas. Meu coração acelerou novamente, e logo em segundos, se adaptou com a situação, me deixando mais calmo e corajoso. "Mais o que eu vou dizer a ele?" Meus pensamentos me perturbavam.

- Acho que ele chegou - Renan murmura, colocou seu celular no bolso de trás e correu. Saiu da lounge num instante.

Esperava no sofá roxo enquanto os passos leves se aproximavam.Renan entrou primeiro,olhando para trás e sussurrando para alguém próximo,cujo não a via.

Meu pai entrou devagar, olhei para ele atenciosamente. Ele fitou seu olhar em todo meu corpo, talvez procurando marcas e sinais que indicariam algo, algo que seria fácil de perceber a olho nu.

- Oi, pai - grunhi, seu olhar me fitava continuamente.

- Oi meu filho. Que saudade - respondeu, nem sequer me abraçou. - Tá tudo bem com você? - ele pergunta, sentado-se ao meu lado no sofá.

- Tá tudo bem, pai. A lua de mel correu muito bem. Me diverti bastante, comi bastante e sai para muitos lugares. - suspirei - Deu tudo certo esses últimos dias, não precisa se preocupar - afirmo, ainda nervoso do que poderia ser suas palavras.

- Que bom - murmurou, parecendo não pregar interesse sob o assunto. - Eu vim, por que, um amigo, o Coronado, me disse que você mudou e queria saber como você estava. Não parece diferente para mim - cruzou os braços, analisando.

Engoli o seco, meu coração saltitando. Me tranquilizei já que ele não havia visto sequer uma alteração.

- C-como assim o Coronado - minha voz falhava,mal saberia Coronado a encrenca que tinha me colocado.Por que ele diria alguma coisa ao meu pai?O que será que fiz a ele?As dúvidas se formaram em enxame,com medo do que meu amigo mais próximo poderia dizer,ou revelar um segredo a qualquer pessoa que o convém.Pelo menos eu acho,acho com todas as minhas forças,que não tenha dito uma coisa pior.- Pai,você não confia em mim?eu disse que tá tudo bem,isso não já basta? - pergunto,embora tenha receio do que estaria fazendo,levantando suspeitas contra ele ou até pior.

- Ah - ele bufa, se levantando do sofá. - Eu sabia que me perguntaria isso. Parece que não é meu filho, quero dizer que pessoalmente é uma forma igual, mas pelo o que você tá falandobnão parece a mesma pessoa. - Alex esperava uma explicação franzindo os lábios, parecia estar decepcionado.

- Pai, eu não quero esconder nada de você - respondo enquanto me levanto, ficando de frente a ele. - Realmente eu estou de volta, só esquece o que o Coronado te disse, ok? É certo que eu mudei um pouco porém não é uma coisa tão incrível pra você ficar desse jeito. Só preciso que acredite em mim - tento o puxar para um abraço breve, ele aceitou, me levando até seus braços.

Alguém descia as escadas, um som que não chamava tanta atenção. Me concentrei no abraço caloroso de ambos os lados. Renato chegou na lounge despercebido, Leah estava em seu colo pronta para se apresentar ao meu pai. Poderia dizer que me pai já era avô.

- Alex - Renato murmura.

Alex se vira a ele, quase sedento por uma resposta.

- Essa é a Leah, nossa filha - o mesmo sorri, olhando ao rosto da pequena sorridente.

- Nossa, que linda. Posso pegar ela? - meu pai disse empolgado, estendendo os braços para pegá-la.

Ela foi recebida em seus braços. Sua expressão de felicidade era encarnada, pondo os seus dedos sobre o curto cabelo de Leah, a observando cada detalhe único e perfeito, sorrindo e surpreso pela incrível garota.

- Quando ela ficar um pouco maior, vou deixá-la em sua casa para cuidar dela - eu o provoco, retirando seu sorriso do rosto.

- Pode deixá-la quantas vezes puder, sabe que eu teria prazer de ficar com ela. Ainda mais agora - ele pergunta, apertando a criança continuamente, a sufocando.

Meu sorriso extravagante saiu de mim depois de sua fala.

Renato me fitou, sorrindo alto.

Por um motivo desconhecido,meu pai não citou a palavra "adotada", talvez ele teria entendimento que aquilo fosse falta de respeito, que me deixaria para baixo. Seria uma história e tanto para contá-lo. Depois eu teria de conversar seriamente com o Coronado, só esperava o meu momento de visita se encerrar até uma conversa séria e repentina.

MY LIFE | LeonatoOnde histórias criam vida. Descubra agora