|| Derrame de Sangue ||

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Clone e outro homem, Heitor, caminharam até a linha tênue diante a nós. Vinham da floresta ao sudoeste. Andavam ininterruptamente sem o objetivo de fazer silêncio algum, Heitor vinha ao outro lado de modo que eu não pudesse o ver, mas depois percebi seus olhos estreitos e ferozes. Clone, como sempre, demonstrou como sua expressão era branda e suave. Ao avistar Carol em nossa linha de frente ambos trocaram um sorriso, desmanchados após uma longa distância. A maioria das pessoas em nossa força o olharam confusos, notei que seria por falta de afeição.

Antes de aproximarem-se da esfera dois homens vieram de encontro, esbarrando neles e os segurando pela frente.

— Henrique. Eu estava esperando por você — disse Rezende ainda com a boca aberta, impressionado com sua presença.

— Tenho algo que prove a você que Leah não será um problema — Clone alegou, estendendo sua mão entre os braços que o prendia.

Rezende, ainda maravilhado, gesticulou para que os dois homens o libertasse. Heitor ainda estava aprisionado, remexeu-se bravamente para tentar se soltar, mas os homens resistiram. — Tá tudo bem — Clone sussurrou a ele.

Ele ajustou seus óculos grandes e aproximou-se de Rezende, e depois, segurou o rosto dele com as duas mãos, ambos se manteram calados. Rezende fechou os olhos. Clone, ainda com os olhos abertos, empinou seu queixo e apontou seu nariz no ar, como se estivesse se esforçando ao máximo para algo. Seus olhos também se fecharam.

Narrador On

E então, depois de uns minutos, Clone pronunciou-se:

— Não adianta, mesmo que você visse, ainda assim não mudaria de ideia — enquanto ele falava retirou suas mãos agilmente do rosto de Rezende. A força lá atrás grunhiu como um coral. Rezende assustou-se.

— Meu amigo, Henrique, não há como mudar de ideia — Rezende boquejou enquanto segurava suas mãos por trás das costas. Ele sacudiu a cabeça lentamente, e depois lançou-lhe um sorriso leve.

Clone virou-se rapidamente para o Léo, os olhos por trás das lentes lampejavam atormentamento. — Tira ela daqui — ele sussurou baixinho, quase sem som. Léo teve dificuldade em entendê-lo. — Agora — ele disse mais uma vez para que Léo o compreendesse.

Os olhos de Léo arregalaram-se e ele congelou. Renato dominado por temor o balançou para que ele mostrasse alguma reação. E depois, ele virou-se para Coronado e disse:

— Você tem que tirar ela daqui. Já chegou a hora.

— Tem certeza de que vão ficar bem? — Coronado preocupou-se e segurou o ombro de Léo. Ele ajustou a mochila azul em suas costas.

— Sim — Léo o garantiu mesmo que nem ele tivesse certeza do que acabara de afirmar. Depois, ele abaixou diante a Leah, a qual estava entre as pernas de Coronado, e a deixou um beijo caloroso em sua testa. — E vou voltar pra você — Léo a prometeu, dando-lhe um abraço. Leah estava chorosa demais para que conseguisse proferir uma palavra.

— Cuida da minha filha — disse Renato.

Coronado moveu-se rapidamente até a XJ6 dourada estacionada atrás da formação, carregando Leah em seu colo. Sentou-se no banco e ajeitou Leah na garupa, pediu-a que agarrasse como um torno em sua cintura, e então, ele deu partida, sumindo dentro da densa floresta. Léo e Renato assistiram sua saída, a tristeza nublando ambas as feições. Ainda assim, eles não deram aos mãos como o habitual, prefeririam preparar-se e ficarem em posição.

Na força adversária, a infinidade de homens que uma vez pareciam desfalecidos agora estavam levemente mais ríspidos. Os bramidos vinham tanto da retaguarda quanto da linha extensa á frente. Múltiplos rugidos rasgavam a clareira.

— O que estão esperando, vão atrás deles — João ordenou a alguém não específico.

Depois, Clone virou-se agilmente para Rezende, e inesperadamente ele girou todo o seu corpo e desferiu um golpe na região de seu estômago, o jogando no chão até que ele deslizasse até o fim de sua formação. Os homens ladearam o perímetro em que ele caiu, e então, esbravejaram como nunca antes, dando um passo a frente até que encurralassem o Clone e o prendesse novamente. Dois homens saltaram até ele e seguraram em ambos seus braços, o puxando para trás.

Thiago soltou-se do braço de Tamires ferozmente, a deixando com as pernas bambas e confusa.

— Soltem ele! — um grito rompeu em sua garganta, alto o suficiente para que ecoasse nas extremidades da clareira. Ele correu como uma fera até o outro lado sem que desse tempo para que os outros se juntassem a ele.

Rezende, já em pé, com sua expressão perversa sedento por violência, empurrou com força os homens posicionados a lhe proteger, tomando a frente sem que houvesse segurança. Ele correu velozmente em encontro com o Thiago. Com grande velocidade, ambos esbarraram-se, mas continuaram em pé. Rezende sacou um objeto pontudo de seu bolso e o afincou no pescoço de Thiago, rasgando-o sutilmente. O pequeno corte teria sido o suficiente para que fosse fatal. Lentamente, o corpo robusto caiu sobre o chão, a respiração ausente.

Dessa vez, todos no aglomerado ao sul desabaram, um impacto ainda mais destruidor e contagiante atingiu-lhes no peito como um meteoro. Tamires desesperou-se e soltou um grito estridente, tampando sua boca enquanto seus olhos cerravam. Todos ao sul da clareira ficaram mudos e baqueados — como da última vez —, agora foi possível enxergar o demasiado horror em todas as expressões, tanto na linha de frente quando atrás. Renato apertou o braço de Léo com força, sem acreditar. Léo estava horrorizado demais para que o visse naquele estado.

Rezende voltou para sua formação calmamente como se em instantes um desastre não tivesse acabado de acontecer. Depois ele virou todo o seu corpo para a formação ao sul e lançou-lhes um sorriso malévolo, manobrando a faca prateada entre os dedos, agora manchada, e a guardando em seu bolso novamente.

Um grunhido raivoso escapou da garganta de Renato, e ele começou a avançar primeiro. Era um sinal. E junto a ele todas as trinta e sete pessoas avançaram sem sequer exitar. Carol ainda mais irritada e tomada por fúria, disparou-se de sua formação como um guepardo faminto prestes a fincar os dentes em sua presa. Léo disparou para frente, a feição nublada por um tamanho ódio jamais visto. Tarik e Altair, sorrindo por expectativa desde que chegaram, abriram-se ainda mais. San findou os pés no chão com tanto vigor que o possibilitava abrir crateras, os olhos cintilavam furor. Por detrás da formação sinuosa, os cães preparam-se para avançar; o que parecia o líder, um presa canário negro e grande, soltou um grunhido feroz e saltou para frente. Os outros onze que restavam o acompanharam como se houvesse uma corrente os conectando.

Rezende percebeu o movimento e agiu. Gesticulou para a grande linha numerosa e eles dispararam unanimemente. Assemelhavam-se à uma multidão frenética. Rezende não avançou e manteu-se estático junto a oito pessoas, quatro o guardando e o restante aprisionando Heitor e Clone.

A trinta metros até o grande impacto, os cães espalharam-se entre a formação do sul, agora bagunçada. Não havia mais uma junção de acordo com cada afeição.



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⏰ Última atualização: Aug 23 ⏰

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