|| Motivos Para Lutar ||

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Nunca pensei em como morreria. Embora nos últimos meses tivesse provas o suficiente,não teria imaginado que seria assim.

Olhei fixamente, sem respirar, para o grande campo nublado, dentro dos olhos escuros do caçador que retribuía satisfeito ao meu olhar.

Sem dúvida era uma boa forma de partir no lugar de uma pessoa que amava. Seria uma atitude nobre. Até. Teria de valer a pena por tudo que passei.
Eu sabia que se nunca tivesse tido um filho minha vida não teria um rumo ao certo. E nunca estivesse diante a morte. Desta vez os objetivos eram claros.

Embora eu estivesse apavorado meu olhar era perfurante diante aos olhos do caçador sombrio. Por isso me lembrei, quando a vida lhe oferece um bom motivo para se morrer, seria irracional me lamentar quando fosse partir.

O caçador sorriu de uma forma simpática a mim enquanto sinalizava seu exército gigantesco a me atacar.

"A vovó, chapéuzinho vermelho e o caçador ficaram aliviados e felizes.

Chapéuzinho então prometeu.
- Nunca mais entrarei na floresta sozinha e nem darei ouvidos a estranhos!
E finalmente os três sentaram-se na mesa e comeram o bolo e doces que Chapéuzinho trouxe em sua cesta"

Peguei no livro velho e áspero que encontrei em minha estante lotada. Leah escutava as palavras suaves que saiam da minha boca, deitada na cama ao meu lado. Era tão clássico ler uma história para uma criança até que você a olhasse e visse que ela estava dormindo.

Terminei a última frase virando meu olhar a criança que estava abaixo, os olhos fechados e respirando fundo. Fechei o livro e tentei sair devagar. Apaguei o abajur que me auxiliava na leitura breve.

Discretamente, sai da cama, mas uma voz baixa me pegou de surpresa.

- Pai? - Leah murmurou, o tom quase despercebido.

Observei seus olhos quase se abrindo, a respondi em instantes.

- Hm?

- Meu tio Henrique, ele foi embora por que todos vamos morrer? - ela perguntou chorosa, virando seu olhar entristecido a mim.

- Não. Claro que não - me deitei novamente. - Ele foi embora para tentar te deixar a salvo do Rezende. Eu nunca vou deixar ninguém machucar você - respondi convicto, alisando seus cabelos macios enquanto a mesma sorria discretamente.

- Agora vamos dormir - lhe deixei um beijo rápido em sua testa.

Trouxe-a para perto de mim. Segurei sua mão para lhe trazer segurança enquanto seus olhos se fechavam brevemente.

Depois de uma pequena demora, me soltei de seu corpo me levantando vagarosamente. Minhas botas que um dia tivera uma mania de usá-las me atrapalharam um pouco enquanto me aproximava da porta. O quarto rosa iluminado deixou seu brilho depois de fechar a porta, coberto pela sombra negrume da porta branca.

Andei pelo corredor que se localizavam os quartos. Tentei passar a limpo pela sala iluminada pelo fogo da lareira, deixando um calor satisfatório pela casa. Desisti de entrar no meu quarto indo me sentar no sofá em frente ao fogo, me deixando relaxado. Os passos pesados de sempre se localizavam por trás de mim. Esperei que Renato se pronunciasse.

MY LIFE | LeonatoOnde histórias criam vida. Descubra agora