|| Jantar de Falsificação ||

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Por que eu faço essas coisas?Colocar minha vida pessoal em risco seria uma péssima opção.

Eu estava a caminho do meu compromisso,naquele trânsito barulhento que me cercava. Meu carro novo atraiu olhares indesejados quando eu me mantia parado a espera do sinal abrir. Era uma sensação estranha, me sentia o centro das atenções como se eu tivesse um sexto sentido ao perceber estranhos pregando seus olhos em mim.

Espero que ninguém esteja olhando pra mim.Garanti a mim mesmo. Eu espero muito que ninguém esteja olhando pra mim.

Como eu não conseguia mentir de um modo convincente a mim mesmo, como sempre eu tive de verificar.

Era estranho ver Letícia Romero na rua essas horas, uma repórter que trabalhava na TV Londrina a muito tempo, tanto tempo que a conhecia desde minha adolescência. Ela estava dentro de uma SUV branca, grande e bonita, me fazendo atirar o olhar em poucos segundos.

Ela parecia estar paralisada, olhando para mim sem disfarçar, eu me encolhi no banco abaixando minha cabeça, me perguntando por que ela não desviaria o olhar demonstrando constrangimento - isso não se aplicava para mim?

Logo lembrei que as janelas eram tão escuras que seus olhos não conseguissem enxergar ali, a fazendo não perceber que aquele lá dentro era eu, logo quando eu flagrei seu olhar. Talvez fosse meu carro que a capturasse. É só o meu carro. Suspirei.

Olhei para o meu lado e gemi. Três pedestres estavam paralisados, talvez olhando o carro enquanto perdiam a oportunidade de passar na faixa. Desviei meu olhar tentando não me entregar lá dentro. Atrás deles estava um homem encarando o meu carro feito um espião na vitrine da loja de roupas, ao menos não estaria com seu nariz achatado sobre o vidro - ainda.

O sinal ficou verde e na pressa eu pisei rápido no acelerador, com o objetivo de escapar daquele show de horrores que tanto sofria. Como normalmente eu teria feito com meu carro antigo, o Camaro.

O motor rugiu como um animal em caça, o carro deu um solavanco tão grande sendo capaz de me empurrar contra o banco brutalmente, fazendo meus órgãos internos se revirarem por dentro como uma confusão extremamente difícil de controlar.

- Ai... - arfei, me acalmando enquanto procurava o freio rapidamente, diminuindo a velocidade apenas tocando o pedal. O carro deu uma pequena sacudida estranha me fazendo pensar em que morreria em instantes.Voltou a sua velocidade normal, respirei fundo e continuei meu caminho - calmo por enquanto.

Era difícil reparar nas reações ao redor de mim. Se houvesse alguma dúvida sobre quem estivesse dirigindo o carro não existiria mais. Por precaução toquei o pedal do acelerador levemente, embora o carro se lançasse para frente denovo.

Consegui finalmente chegar ao meu destino, a casa grande do Rezende, ela era realmente exagerada ,parecia ser um palácio sonhado por muitos. Devo ter exagerado em alguns detalhes porém realmente me impressionei bastante.

O muro da frente cobria toda minha visão da casa.Me finquei no banco e pensei o que viria pela a frente,alguém que mal saberia quem era me receberia no portão.Um estranho que nunca teria visto iria falar comigo " Ah,o que eu vou fazer agora" Meu corpo se prendia ao banco,permanecendo ali enquanto pensava sem voltaria para trás e esquecer tudo.Saquei as lentes dentro do porta-luvas,as colocando com um pouco de desajuste.Uma irritação se apresentara,se aliviando em poucos segundos.- Ok... - murmuro,fechando meus olhos e imaginado. - Essa é a hora - desço do carro,batendo a porta com força sem ao menos perceber.

O interfone implorava para toca-lo,isso me incomodava,não tendo escapatória logo apertei o botão frouxo,parecia ser tão velho ao ponto apresentar esse estado.Ou não.Vai saber quantos visitas ele recebe,apertando o botão com força até afunda-lo.Esperei um pouco,nervoso pela voz que sairia de lá.

MY LIFE | LeonatoOnde histórias criam vida. Descubra agora