Capítulo 23

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--- Emily, minha filha! Que saudades. - Lúcia fala, emocionada.

Ela se aproxima rápido e me dá um abraço apertado e caloroso. Ela começa a fazer um cafuné em minha cabeça. Eu me senti em paz, acolhida como eu já não era.

Me ajeito na cama para poder encarar ela melhor.

Lúcia estava um pouco diferente, seus cabelos que antes eram pretos, estava quase brancos. Seu rosto ao passar do tempo já começava à mostrar suas marcas de expressão, seus olhos verdes hipnotizantes, tudo continuava lindo.

Seu carinho por mim parece que não tinha mudado.

--- Eu fiquei sabendo de tudo, quem pensaria que aquele homem chegaria a esse ponto, não? Você está bem? Está sentindo dor?

Algumas pessoas deveriam achar que eu não conseguiria a encarar depois de tudo que aconteceu, mas ninguém sabe realmente o que aconteceu.

Nenhum deles sabe o que eu passei.

--- Eu estou bem, sim. Não se preocupe. Já faz algum tempo que não sinto dor. Creio que eles vão me dar alta para finalmente voltar para casa.

Provavelmente para ficar vegetando na cama, já que movimentação não era uma opção no momento.

--- Que ótimo! Tenho uma outra ótima notícia! Emanuelle está aqui.

--- Sério!? - Pergunto entusiasmada. Estava com saudades dela.

--- Sim! Aconteceu um imprevisto com sua passaporte e ela não pôde vir antes, mas fez todo o possível e veio. - Explica.

--- Ah, fico muito feliz! Finalmente vou poder revê-la.

--- Eu admiro muito o vínculo que vocês criaram em pouco tempo. Ela sempre me fala de você.

Sorrio em resposta.

Emanuelle era realmente uma grande pessoa e amiga.

Não tive tempo para conhecê-la profundamente, mas não precisou, ela provou ser uma boa pessoa assim que nos conhecemos.

Sua calça, - provavelmente era alguns números menor que o dela. - que acabou se rasgando na rua. Ela fazendo uma expressão "safada" ao ver meus livros. Eu me identifiquei com ela naquele momento. Suas falas e sorrisos espontâneos, tudo era muito especial nela.

Lúcia, Emanuelle e Miguel, todos com semelhanças que encantam.

--- Você ainda não falou para ele, não é? - Pergunta de repente, mudando totalmente o assunto.

Eu sabia do que ela falava.

--- Eu tentei... Juro que tentei, mas não fui capaz de contar. Eu não consegui. Em nenhuma das poucas tentativas. O que eu podia fazer? Chegar do nada, e falar "Oi, Miguel. Eu fugi, mas voltei cinco anos depois para falar que te amo."? Meu cérebro fica vazio toda vez que penso nisso. Toda vez que fico frente
a ele, eu penso em tudo, menos em falar o que eu vim falar. - Falo rápido.

--- Você não fugiu, você se protegeu, você nos ajudou! Há diferenças. - Seu sorriso singelo era reconfortante. --- Eu também não consegui falar, ele me pediu para não tocar em seu nome nunca mais. E foi o que eu fiz. - Revela, não me deixando surpresa, mas inevitavelmente magoada. Sei que não foi culpa dele, ele tinha todo o direito. --- Mas... Eu sei que ele te perdoou, mesmo sem saber dos motivos que te levaram até aquela circunstância, ele não esqueceu o que sentiu na época, só escolheu não guardar raiva.

Meus motivos... Eu ter ido embora por causa do que aconteceu e não ter feito algo, talvez tenha sido burrice, mas não tinha outra escolha. Eu precisava fazer.

Fire - Em ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora