Fire - Em Chamas

Capítulo 1

Quente.

A roupa especial não te poupa do calor. Respirar passa a ser difícil depois de um tempo. Você está fervendo.

Mas a única coisa que eu não posso fazer, é desistir.

A promessa que eu fiz para a mãe desta criança em meus braços não pode ser uma simples promessa vaga.

Eu entrei sozinho, depois de já estar lá fora. Arriscando novamente minha vida.

O apartamento estava em chamas. As pessoas saiam descontroladas antes do fogo se alastrar por todos os lados.

No momento em que eu fiz a promessa eu sabia que iria cumprir. E vou!

— Merda. - um armário coberto de fogo cai sobre minhas costas. — Titio sente muito por gritar. - dou um sorriso para a pequena criança em meus braços, mesmo que ela não veja claramente.

A dor de ter algo pesado e quente em suas costas é enorme. Ter que dar um sorriso enquanto está quase caindo de dor é pior ainda. Não sabia se ele podia ver meu rosto por conta da máscara de proteção, mas eu estava tentando confortar ele. Se ele entrasse em desespero seria pior, para nós dois.

— Vamos sair daqui, garoto. Não se preocupe.

Faço força para empurrar o armário para longe do meu corpo, e tenho sucesso na primeira tentativa.

Procuro uma saída mais "segura" possível e logo vejo a janela. Provavelmente emperrada, mas eu vou dar um jeito.

Depois de muito esforço eu consigo abri-la. Pego o garoto que estava agarrado em minhas pernas como eu deixei para abrir a janela.

— Nós vamos para a escada, ok? - ele arregala os olhos. — Para salvar sua vida vou te dar para outro tio. - tento explicar.

Aponto para a escada que está vindo em direção a janela com outro bombeiro em cima.

— Tio. O Mike está lá dentro. - Tem mais pessoas aqui? Porra!

Jesus!

— Onde está o Mike? - pergunto em desespero.

— Preso na casinha. - preso? Na casinha? — Ali.

Sigo com o olhar a direção em que seu dedo aponta e vejo uma pequena casa que me parece ser de gato.

— Ok. Você vai com o outro tio agora.

Entrego a criança nos braços de outro bombeiro que estava na escada. Apoiado nas barras de ferro.

—  Acho que tem um gato ou um cachorro aqui. Eu vou pegar. - grito e sem esperar resposta alguma me viro.

Eu sou um bombeiro. Meu trabalho e dever é salvar vidas. Não me importo se for gato ou cachorro... Tenho a obrigação de salvar.

Ignoro ao máximo a dor que sinto em minhas costas, sigo em direção a casinha tirando coisas do meu caminho que são impossíveis de se identificar com fogo e fumaça se acumulando neste pequeno espaço.

Pego a pequena casa e olho através das grades que funcionavam com uma porta e vejo se tratar de um gato preto. Parece que é um filhote e está desmaiado. Provavelmente falta de oxigênio.

— Vamos cuidar de você, gatinho.

Refaço meu caminho em passos largos e paro em frente a janela onde a escada de metal já estava pronta novamente depois de descer o menino.

Depois de hoje... Provavelmente eu iria para um hospital.

Odeio hospitais!

⁰⁴ de novembro de ²⁰²⁰²
⁴ de outubro de ²⁰²²