Dói. Sangra. Arde. E respira.

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Sasuke acordara bem, a sensação que preenchera seu peito do dia anterior ainda estava presente e ele se sentiu um pouco ansioso para encontrar o loiro no colégio. Pela primeira vez em muito tempo olhou para seu reflexo no espelho e não sentiu como se fosse um peso morto, talvez se algum artista de rua o parasse para pinta-lo ontem e hoje notaria um grande progresso. Havia vida em seus olhos. Mas o desespero e a dor também estavam lá, então logo desviou o olhar de si e desceu as escadas.

Ele seguiu até a cozinha sem se dar o trabalho de olhar para figura de seu pai sentada à mesa. Estava quase abrindo a porta da frente para sair quando ouviu seu nome ser chamado.

_Sasuke.

O rapaz caminhou de volta para onde o homem estava e o encarou.

_Quero você aqui hoje mais cedo. Saia da escola e venha direto para casa.

_Por que?

_ Apenas faça o que estou mandando, garoto.

Sasuke sentiu uma raiva crescer dentro de si e sua garganta começar a sufocar de tantas coisas que gostaria de dizer. De repente se viu atingindo de uma coragem que não sabia de onde viera.

_Não consegue mais esperar até a noite para ficar tonto o suficiente e então ter coragem de fazer suas merdas comigo e depois culpar a bebida, pai? _Soltou em um tom debochado e cheio de raiva se arrependendo no minuto seguinte quando viu Fugaku levantar-se da mesa e avançar para si acertando-lhe um tapa forte no rosto com as costas da mão. Sasuke sentiu sua bochecha latejar e os olhos se encheram de lágrimas que se recusavam a cair.

_Olha o tom para falar comigo, moleque. _ o homem disse enquanto sua expressão de raiva transformou-se em algo semelhante ao de um limão azedo. _ Não sei a que você está se referindo.

Sasuke quis rir, e por mais que soubesse que aquilo não seria uma boa ideia ele deixou uma risada escapar antes de encarar novamente aquela abominação que se dizia seu pai.

_Você é mesmo um bastardo doente.

Outro tapa. Agora mais forte a ponto de sentir um filete de sangue formar-se em seus lábios e de fazê-lo perder o equilíbrio e cair. Mas, no segundo seguinte, seu tronco foi levantado por uma mão puxando violentamente seus cabelos até que ficasse com o rosto quase colado ao do mais velho.

_Escuta bem, Sasuke. _ O homem começou em um tom assustadoramente calmo. _ Só não termino de lavar essa sua boca imunda porque já estou atrasado. Preciso de você aqui hoje mais cedo porque teremos visitas, entendido?

Sasuke acenou em confirmação sem conseguir continuar o encarando.

_Responda com a boca. _Falou puxando um pouco mais os cabelos negros do menor e fazendo-o sentir uma dor flamejante em seu couro cabeludo.

_ Eu vou pai. Eu vou estar aqui. Me perdoa. _ disse sem conseguir conter as lágrimas que começaram a escorrer por seu rosto.

Fukagu o soltou com desgosto e saiu da casa levando consigo o bom humor de Sasuke.

Era sempre assim.

Sempre que a vida lhe dava um gostinho de felicidade aquele homem a suprimia. Às vezes nem era preciso que algo especifico ocorresse. As próprias lembranças do que ele já havia feito somado à angustia do que mais ele poderia fazer eram suficientes para o impedir de enxergar qualquer coisa boa ao seu redor.

Foi por isso que se afastou de todos. Quando saía com os antigos amigos e os via rir e se divertir ele simplesmente não conseguia acompanha-los. Sua mente estava sempre nublada e com medo. Com Sakura era ainda pior, os dois eram próximos demais e garota frequentava sua casa desde o primário. Ela o conhecia mais do que Itachi, ela percebia seu incomodo e o enxergava como ninguém. Mas ele não queria mais ser visto, não queria ser descoberto. Ele queria ser normal, e já que não podia, pelo menos poderia se esconder. Ele tinha que a afastar, tinha que ser rude e faze-la o odiar. E agora isso estava feito. Ele conseguiu afastar todos.

As cicatrizes dos nossos encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora