Andorinhas

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Sasuke saiu da sala se condenando por ter sido desnecessariamente rude com o novato, mas não queria pensar nisso, não queria voltar a lembrar de quão desprezível ele era. Procurou Sakura na cantina do colégio mas não a avistou recebendo uma mensagem logo em seguida.

"Mudanças de planos Sasuke kun... Hinata terminou com Kiba e preciso estar ao lado dela hoje. Nós vamos almoçar juntas no shopping e depois iremos ao cinema com o pessoal, não vou te chamar porque já sei qual será sua resposta. Desculpa não ter avisado antes, não fique bravo. Se cuida."

Sasuke sentiu seu punho tremer ao apertar o celular com mais força. Por que estava chateado? Ele não tinha o direito de cobrar nada de Sakura, na verdade ainda não entendia porquê ela andava com ele depois das tantas vezes que a tratou mal. E claro, se ela tivesse o chamado para ir junto ele com certeza teria recusado, portanto, não tinha razoes para ficar com raiva. Apenas respirou fundo e saiu da cantina, não havia tomado café mais cedo mas não estava com vontade de almoçar agora, na verdade vinha se alimentando muito mal ultimamente.

Seguiu rumo a um parque que ficava entre sua escola e sua casa e deitou-se sobre a grama tendo uma visão nítida da imensidão do céu. Seus olhos de carvão não piscavam, como se tentassem penetrar a atmosfera. Vez ou outra ele pode observar um grupo de andorinhas em voos sincronizados formando desenhos divertidos na tela azul acima de si. Se olhasse com quimera poderia dizer que elas estavam em uma espécie de dança muito bem ensaiada onde cada membro do grupo sabia exatamente sua posição e quando deveria muda-la.

Sasuke lera sobre isso uma vez. Muitos pássaros quando voam em grupo formam uma espécie de "V" no céu, trata-se de uma questão de aerodinâmica, a ave que encabeça o bando bate as asas e vence a resistência do ar, e atrás dela, forma-se um vácuo que ajuda as outras a planarem por mais tempo e com menos esforço. Para manter o equilíbrio no grupo, os pássaros se revezam na liderança, assim, na medida que as da frente se cansam elas se deslocam para trás e outras tomam seu lugar. Em outras palavras, elas poupam energia e dividem o trabalho pesado para que possam chegar ao seu destino inteiras e com o bando completo. Não à toa que os filósofos do "boca a boca" dizem que uma andorinha só não faz verão.

Era divertido perceber como os animais podiam se mostrar mais inteligentes do que os humanos e talvez até mais "humanizados" em alguns momentos. Sasuke estreitou os olhos pensando que o espetáculo acima de si merecia uma música para compor a obra. Ele lembrou-se do som que sua mãe costumava cantar para ele e seu irmão quando crianças. A melodia foi de seus pensamentos para sua boca em um murmúrio que tentava imitar o que escutara tantas noites da mulher. Pensando bem a música não tinha letra, ou era ele que não se lembrava mais?

Os minutos foram passando e aos poucos suas pálpebras ficaram mais pesadas, a melodia saía baixa pelos lábios cerrados e as memórias dos tempos em que fora feliz começavam a nublar suas ideias. Poderia se sentir da mesma forma novamente? Sentiu duas lagrimas enxeridas escorrerem pela esquina dos olhos e seu peito pesou como se estivesse sendo pisoteado. Estava prestes a perder o controle da própria respiração e então mordeu o lábio inferior com força até um filete de sangue escapar. Ele precisava se controlar, de que adiantava aquilo? Era patético. Colocou um braço sobre o rosto limpando os resquícios de sua fraqueza e assim permaneceu.

(...)

Quando Sasuke acordou já eram quase 18 horas, ele havia pegado no sono e, seu corpo, que há tempos pedia por descanso, parecia agradecido. Ele esfregou os olhos e viu que o movimento do parque havia aumentado. Algumas senhoras passeando com seus cães, crianças brincando no parquinho, casais apreciando o lago e trocando caricias leves. Definitivamente era hora de sair. Sasuke pegou sua mochila e se levantou sentindo uma leve tontura, lembrou-se que ainda estava sem se alimentar, comeria qualquer coisa quando chegasse em casa. Ele começou a andar quando uma voz conhecida gritou seu nome.

As cicatrizes dos nossos encontrosOnde histórias criam vida. Descubra agora