Capítulo 29

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POV ARTHUR

Terça-feira, Apartamento da Família Díaz

O silêncio era predominantemente em toda a casa e provavelmente todos estavam no sono tranquilo tal qual o da Carla do meu lado abraçada no meu ombro. Eu admirei aquela cena por horas sem conseguir pegar no sono. Apesar de nunca mais ter tido pesadelos eu ainda sofria por algumas noites com o medo deles voltarem e proporcionar essa experiência pra família Díaz logo na minha primeira noite aqui não estava nos meus planos, então preferi me manter acordado. Peguei o celular e vi que eram 04 da manhã e decidi ir na cozinha tomar água. Quando cheguei na cozinha vi que a Rebecca tava sentada na mesa da varanda e quando percebeu minha presença enxugou o rosto rapidamente.

Arthur: Desculpa, não vi que você tava aí, só vim pegar água. - disse erguendo o copo.

Rebecca: Tudo bem. Tá no clube da insônia também? - fez uma careta.

Arthur: É... Quase isso! - falei sentando na cadeira de frente pra ela.

Rebecca: Se você falar o seu eu falo o meu!

Arthur: Falar o que?

Rebecca: Qual o seu monstro... - disse cruzando os braços em cima da mesa apoiando os cotovelos na mesa e me olhando.

Arthur: Monstro? - franzi o cenho

Rebecca: Todos nós temos um! - deu os ombros.

Arthur: Eu tenho pesadelos... As vezes, eu tenho pesadelo às vezes. - falei rápido sem pensar muito.

Rebecca: Sobre o que são? - eu respirei fundo tentando me recuperar do que eu tinha acabado de confessar. Não precisa falar, se não quiser.

Arthur: Não, tudo bem. Eu falo o meu e você fala o seu né? - ela sorriu fraco concordando. A gente sofre muitos ataques e eu acabei concretizando alguns através dos sonhos. Alguns são comigo, outros com a minha família, com a Carla... - ela me olhava atentamente. Sua vez! - foi a minha vez de cruzar os braços e me deixar relaxar no encosto da cadeira pra ouvir.

Rebecca: Eu tenho um medo absurdo de fracassar... Todos depositam uma expectativa muito alta em cima de mim, e eu não sei se sou capaz de atende-la! - encolheu os ombros e respirou fundo.

Arthur: E o que te faz pensar isso?

Rebecca: Talvez o fato de fazer 4 horas que eu recebi o resultado que eu mais esperei em toda minha vida e ainda não ter conseguido ver... - falou colocando o celular em cima da mesa.

Arthur: Rebecca, pelo pouco que eu conheço de você, sei o quanto você é esforçada e determinada em tudo que faz e o quanto sua família te ama e tem orgulho de você. Não vai ser uma prova que vai mudar isso. A faculdade que você vai estudar não vai determinar a médica foda que você vai ser, você tem maior carão de médica foda!

Rebecca: Eu tenho cara de médica foda? - Ela riu.

Arthur: Claro que tem po! E eu acho que você devia deixar de bobeira e olhar logo esse resultado, você já tá cheia de aprovações, das duas uma, ou vai ser mais uma pra você comemorar ou você vai continuar com todas as outras pra comemorar... Isso ninguém pode mais tirar de você!

Rebecca: É, isso é... - puxou o celular que tava em cima da mesa e eu continuei olhando enquanto ela mexia, tentando decifrar o olhar dela se ela era de surpresa ou pavor. AAAAAAAA eu não consigo! - falou soltando o celular na mesa.

Arthur: Caralho Rebecca, você ainda vai me matar! Com certeza eu vou ser seu primeiro paciente de um acidente que você mesmo causou... - falei com as duas mãos no rosto tentando me recuperar do susto.

Rebecca: Ver você, ai você me fala... - jogou o celular por cima da mesa em minha direção.

Arthur:  Tem certeza? - perguntei pegando o celular na mesa.

Rebecca: Tenho! Curto e grosso, simples e prático: passou, não passou!

Arthur: Ok então! - cliquei no link.

Rebecca: E aí? Fala logo Arthur!!! - falou cobrindo o rosto com as duas mãos.

Arthur: Calma! Carregando... Carregando... Carregou! - falei e ela tirou as mãos do rosto e me olhou com a maior cara de choro. Rebecca, eu sinto muito... Mas agora vão ter que aceitar a mais nova caloura de Medicina da UFRJ! - falei soltando o celular na mesa e abrindo o maior sorrisão e ela permanecia imóvel.

Rebecca: Tá falando sério? - perguntou com a voz embargada.

Arthur: Tô porra! Vem cá me dá um abraço! - levantei ela da cadeira e pela sua falta de força ela definitivamente ela não tava acreditando ainda. É verdade mulher, pode comemorar, você conseguiu! - falei erguendo ela pela cintura ainda no abraço e chacoalhando pra ver se ela acordava pra vida.

Rebecca: Ar-arthurrrrrrrr me-eu Deus! - falou soluçando de tanto chorar.

Depois de alguns copos de água e no mínimo umas 25 atualizações no site da Universidade pra conferir o resultado ela enfim parecia tá acreditando. Ela me contou que queria muito ser Cardiologista e enquanto ela falava e os olhos dela pareciam luzinhas de árvore de natal. Por mim eu tinha acordado todo mundo pra ela poder contar a notícia, mas ela lembrou que a Mara tinha encomendado o café da manhã e teve a ideia de montarmos uma mesa pra contar pra elas. Realmente, ela era novinha, mas era muito madura e zero impulsiva, diferente de mim. O sol já tava nascendo e a gente começou a ajeitar a mesa, eu confesso que ajudei mais no apoio moral do que na mesa posta, não é meu local de fala. Mas consegui ligar pra padaria pra adiantarem a encomenda do café que logo chegou.

Arthur: Tá vendo? O clube da insônia também monstra serviço! - falei orgulhoso olhando a mesa lindona e de respeito que a gente conseguiu montar e erguendo a mão. 

Rebecca: Vencemos muito! - falou tocando na minha mão. Agora é só acordar as donzelas e partir pro abraço que eu tô é muito feliz e com muita fome! - falou enquanto íamos em direção aos quartos.

Arthur: Nossa, eu também! - rimos.

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