🎩 Capítulo 38 🎩

636 67 4
                                    

Por Luan

Quando Clara não emerge mais, meu coração dispara e eu paro de gritar por uma fração de segundos para então forçar meus pulmões a gritar com mais fervor. Cacete. O que ela estava fazendo? Começou a correr feito louca em direção a parte perigosa do rio, parou perto de uma pedra e, aparentemente, perdeu todas suas forças quando tentou voltar para a parte segura. Meu Deus, ela estava sendo carregada para o meio do rio, a parte que atravessa o coração da floresta. Sabe-se lá o que ela viu naquela hora que a assombrou, porém, uma coisa é certa, ela encontrará coisas piores para onde está indo. Ela não viu que correu e nadou em direção a uma área deserta? Ah, aquela mocinha... quando eu encontrá-la (porque eu irei), irá ouvir poucas e boas, não sou nada dela, mas farei o meu possível para não deixar com que faça outra estupidez como essa novamente. Continuo nadando e nadando, porém nada. Nenhum sinal de Clara. Grito seu nome. Começo a chegar numa parte mais perigosa ainda do rio, conhecida pelos locais como "a casa das pedras" ou "o paredão das pedras" é o local com mais... bem, acho que dá para desvendar. 

— Conseguiu encontrá-la? — ouço a voz do cacique e quando viro, o vejo em cima de um bote. — Vamos, Luan, suba. 

— O bote não passará bem pelas pedras.

— Vamos tentar. Melhor com ele do que sem. — obedeço. Ele está certo.

Por Maurício

— Vamos, Tara. Não encontrei nada. Apresse-se, temos que voltar rápido. Já devem ter se passado uns vinte minutos, não sabemos se a senhorita Clara ainda está conseguindo mantê-los longe daqui. — Me levanto e paro minhas buscas, indo em direção à entrada da cabana do pajé para olhar se alguém vem vindo. Resolvemos ir na do cacique primeiro e vasculhamos tudo. Não estava lá.

— Já teríamos sido descobertos, caso Clara não tivesse conseguido mantê-los lá, não é mesmo? — ela olha para mim como se fosse a rainha do óbvio e eu, o rei da idiotice. Eu amo essa mulher. 

— ACHEI! — grita Íris do outro lado. — Deve ser essa aqui, não? — Ela abre uma espécie de papiro e mostra para nós. — Está em latim, mas olhem o título. 

"prophetiae".

Eu não sei ler ou falar latim não, porém, vocês não acham promissor e bem revelador esse título? — conclui Íris com um sorriso na face e olha de mim para Tara.

— Vamos. — diz minha noiva. — Vamos chamar Clara.

— Não vão desconfiar, já que você está, supostamente, se sentindo mal? — questiono com um pequeno e atrevido sorriso.

— Nossa... Agora que você falou...— Ela tem uma expressão de afetação tamanha e exagerada. — Estou me sentindo muito bem. É um milagre! — Ela finge surpresa.

— É uma blasfêmia. — Digo. E ambos rimos.

Quando chegamos nas margens do rio, vemos uma aglomeração estranha. Um grupo em volta de algo na areia.

— O que será que está acontecendo? — Questiona Tara. 

— Não sei. — Responde Íris. — Que estranho. Vamos lá saber o que houve.

Nos aproximamos do grande grupo e percebo que ninguém está na água, algo sério deve ter acontecido.

— O que houve? — questiona Íris para ninguém em específico. Não dá para ver nada, graças às camadas e camadas de pessoas que rodeiam o que quer que esteja no centro do círculo. 

— Onde está Clara? Para aonde ela foi? — pergunto e olho para os lados. Talvez ela também saiba o que aconteceu. Talvez ela tenha causado isso para distrair a todos. Boa, Clara! Portanto, onde raios ela está? — Clara? — Dessa vez, grito. — Clara! — grito mais uma vez e meu coração se aperta. Essa ausência está começando a me assustar. Alguém começa a abrir caminho de dentro para fora das camadas e se aproxima de mim, a expressão desoladora.

— Senhorita Fernandes. — diz o pajé. — É melhor se sentar. — Ele deixa uma mão cair gentilmente em meu ombro. — Vamos. Chame seu noivo também. Venham se sentar.

— O que aconteceu? Onde está Clara? — Olho para ele. Seja lá o que tenha acontecido, agora minha certeza é de 99% que de alguma forma atingiu minha amiga. Não estou gostando do rumo disso. — Ela se feriu? — Ouço um grito gutural e sei que não é dela. É masculino. Isso faz com que eu me lance multidão adentro. Empurrando, chego, com muito sufoco, ao centro. Minha boca se abre ao ver que é Clara deitada na areia com Luan ao lado fazendo uma respiração boca a boca, enquanto, ela permanece estática e pálida, parecendo dormir o sono dos anjos, suas bochechas estão meio arroxeadas, assim como seu pescoço. Ela está encharcada e seus olhos não parecem prestes a abrir, quando menos percebo estou ao lado dela, ajoelhada, com lágrimas escorrendo silenciosas pela minha bochecha. Ai, meu Deus, o que eu fiz? É minha culpa. Eu matei Clara.

— Ela não está morta. — Diz Luan do nada, demonstrando que eu falei isso em voz alta, e volta a fazer boca a boca, para massagear o peito de minha amiga. Ele está fazendo isso há quanto tempo? Eu sei que isso pode não adiantar e... um soluço me escapa.

— Ce-certo, você tem toda razão, não está. — seguro a mão de Clara entre as minhas e mantenho perto da boca, enquanto sussurro ali. — Você vai ficar bem, está me ouvindo? Vai acordar e gritar comigo pelas minhas ideias malucas, vai discutir comigo sobre teorias absurdas, mas que tem um quê de suspeita acerca do mistério da nossa casa, vai rir comigo sobre os cavalheiros da temporada que provavelmente não veremos, pois sempre estamos trancafiadas. Vai...vai...Você vai viver porque você é minha família, você é minha irmãzinha do coração. — As lágrimas rolam desesperadas, meu coração está acelerado e partido, minhas mãos estão tão geladas quanto a dela. — Por favor — soluço novamente. Olho para a face dela que está coberta pela de Luan. — Por favor. — imploro. Alguns segundos depois, assim que Pari retira sua boca da dela, Clara começa a tossir e se vira para o lado para cuspir uma quantidade imensa de água. Parecendo exausta, ela volta a deitar a cabeça na areia, ao mesmo tempo que solto um suspiro final de alívio e volto a chorar copiosamente como se o mundo estivesse acabando.

— Graças a Deus. — ouço a voz de Maurício logo atrás.

Clara mantém os olhos abertos, mirados para o céu e vejo uma lágrima escorrer seu rosto. Depois de alguns segundos, ela olha para os lados, me vê, vê meu noivo e nota Luan, próximo a seus pés, que estava imóvel desde que ela recobrou os sentidos, sua respiração estava pesada, mas ele levantou no mesmo momento que Clara o mirou e saiu, abrindo passagem entre as pessoas que começavam a dispersar.

Contudo, quando Maurício e Íris começaram a se aproximar e eu pedi-lhes ajuda para levantar minha amiga, ele voltou, rápido e silencioso, pegou Clara nos braços, fazendo com que ela soltasse um gemido, provavelmente pela dor que devia estar consumindo-a, e seguiu em frente. Ele carregava Clara como se ela fosse feita de espuma ou porcelana, embalava como se sua vida dependesse disso. Sem pronunciar uma única palavra.
——————————————————————————
Um capítulo de quase morte... ufa! Tudo correu bem, mas até onde irão os percalços dessa trajetória? 🥵
Bem, só dá para saber pelos próximos capítulos!
Até amanhã, leitores assíduos!
E um feliz natal! ❤️
XoXo 💋

Amando o Visconde             (TRONNOS-2)Onde histórias criam vida. Descubra agora