Um dia já era bem tarde da noite, onze horas pra ser exato, senti a vontade imensa de beber um whisky, então fui ao bar, achei que estaria fechado, mas Will ainda estava lá e Pérola também, dessa vez a mulher se sentou em uma das mesas confortáveis do bar, fiz meu pedido e fiquei no balcão, ainda tinha dois clientes do outro lado do salão.
- como estar senhor Dolle?
- só um pouco cansado Will, dia difícil.
- imagino. - o garçom falou me entregando minha bebida.
Estava tão estressado com o trabalho, os casos dos meus clientes para resolver, mas sai de meus pensamentos ao ouvir um soluço da senhora Valente, fui até a mesa dela:
- O que houve?
- oh céus! Não tinha te visto chegar.
- deve estar distraída hoje, por que está chorando? - perguntei passando o polegar em seu rosto e lhe oferecendo um lenço.
- obrigada, eu não imaginei te encontrar mesmo, é horrível ver as pessoas chorarem.
- não é não.
- chorar demonstra fraqueza.
- de forma alguma Pérola, eu te vi por alguns dias aqui e por mais triste que estivesse não desabou nenhum momento, chorar lava a alma, é o que todos dizem.
- você é tão agradável Pietro, devia ter me casado com alguém assim, alguém que fosse gentil e demonstrasse , não alguém que apenas aparenta ser algo.
- então seu ex tem haver com suas lágrimas?
- sim com todas que derramei nós últimos anos.
- esse homem deve ser horrível.
- um pouco, mas eu também.
- você me parece boa.
- exatamente, pareço, assim como meu ex marido, nós somos apenas o que aparentamos, poucos sabem a verdade.
- qual verdade?
- quando você amadurece e se olha no espelho e descobre que é uma junção de todas as pessoas que conheceu com profundidade.
- tipo quando dizem que seus pais são um espelho pra você ?
- isso!
- acha que é real, a gente absorve os traços de personalidade dos outros ?
- talvez, o dos nossos pais esta implantado em nosso sangue e na nossa criação, temos algo parecidos com nosso grupo de amigos e nossos parceiros nós influenciam até sem perceber, mas meu marido queria me manipular para ser seu fantoche. - Pérola bebia e chorava e enquanto desabafava.
- mas existem pessoas de personalidade forte.
- será mesmo? Ou são apenas manipuladores das suas emoções e da emoção dos outros ?
- não sei, somos todos tão hipócritas.
- isso é verdade, todos errados.
- eu não consigo te imaginar sendo enganada.
- mas eu fui, pela coisa mais idiota, eu amei, me apaixonei por ele e parecia a coisa certa, um homem bom, na cama e nos negócios, mas aí ele me usou por anos pra tirar pequenas quantias de dinheiro da empresa e me traiu com uma vagabunda, que foi nossa madrinha de casamento.
- que horrível!
- sim Pietro, um canalha, eu demiti pessoas achando que elas tinham roubado minha empresa, mas estava errada, um dia eu vi minha madrinha de casamento e ele juntos, estavam no cinema, de mãos dadas e tudo, se beijando...
Pérola pareceu enjoada ao lembrar de tudo e bebeu mais pra aguentar o peso das lembranças.
- então eu fui pra casa, e queimei todas as roupas dele, tudo incendiou na lareira, ele chegou e me olhou como se nossa vida fosse perfeita...tentou me beijar e eu me afastei, disse pra ele sair, que não ia ter malas pra levar porque as roupas tinham sido queimadas.
- você foi bem forte, a traição é uma facada.
- é mesmo...foi como se tivessem me quebrado em pedaços.
Alguns minutos depois nós pedimos a conta e ajudamos Will a fechar o bar.
- vão direto pra casa senhores. - alertou o garçom por causa do horário.
- claro e muito obrigado. - agradeci.
Chamei um táxi para Pérola ir pra casa, ela tinha meu número, ligou pra dizer que chegou bem e agradeceu a noite.
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O QUÃO PROFUNDO NÓS SOMOS?
RomanceImagine uma estranha te contar que acabou de se divorciar em um bar, é isso que Pérola faz ao conhecer Pietro, então eles começam a ter conversar sinceras e melancólicas. O quão profundo nós somos relata a vida de dois personagens comuns, que tem p...