Lembranças são traiçoeiras

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  Pérola e Pietro estavam a duas semanas sem se esbarrarem no bar, mas trocavam mensagens toda noite, perguntando sobre o dia um do outro e se apoiando, até que marcaram de se ver as dez da noite, no local de sempre.

- chegamos juntos. - disse Pietro Dolle ao ver a mulher na porta.

- quanto tempo. - Pérola disse e apertou a mão dele.

- vamos entrar madame ? - o homem falou abrindo a porta.

Eles se sentaram em uma mesa confortável que ficava perto do balcão .

- vocês juntos, que maravilha, o que irão pedir? - perguntou Will.

- vinho pra mim como de costume. - ela falou.

- eu quero um whisky.

- já entrego.

- o que tem feito ?

- estou quase enlouquecendo, mas ainda vivo.

- o que tá te afligindo?

- as lembranças Pietro, as malditas lembranças.

- suas bebidas. - Will os serviu e continuou a trabalhar.

- mas você não está pensando em voltar né ? - perguntou o senhor Dolle.

- jamais, ele era um bandido e uma pessoa sem caráter, mas eu não consigo pensar no mal que ele me fez quando estou sozinha.

- o que você pensa então?

- nos momentos que achei que estava sendo feliz, nos presentes e nas festas animadas que a gente ia, como nós éramos felizes, quando converso com você Pietro me sinto lúcida, lembro da dor que ele causou, mas sozinha, quando eu deito naquela cama enorme, só de pensar nele meu corpo estremece.

- então você ainda o deseja.

- mas não posso.

- desejar uma pessoa errada não é o problema, só vai ser problemático se você ceder a sua vontade.

- então eu preciso assumir isso pra mim mesma sabe.

- é tudo muito recente, suas lembranças são traiçoeiras, seu corpo sente vontades ainda, então só vai querer que se lembre das partes boas.

- você devia ser psiquiatra e não advogado. - Pérola riu e bebeu um gole do vinho.

- concordo, mas a advogacia também me permite estudar os comportamentos humanos.

- entendi, mas me diga, você tem alguma lembrança traiçoeira?

- claro, da minha antiga namorada.

- você nunca fala sobre você, me conte mais.

- ela me traiu também, por isso entendo parte do que você está sentindo.

- sinto muito Pietro, um homem como você não se encontra tão fácil.

- talvez, mas ela era imatura e eu uma pessoa ocupada, estava lutando pra conseguir ser o melhor advogado dessa cidade e eu consegui, mas não dei atenção a ela, isso não justifica a traição, porém me consola.

- então você mente pra si próprio?

- um pouco.

- mas a culpa não é sua e pensando bem nem minha, se nós fomos traídos e enganados, nós não erramos, mas eles sim.

- mas os traídos são sempre questionados já percebeu ?

- claro, quando terminei ficaram me perguntando se eu não fui mulher suficiente, devia ser o contrário, deveriam perguntar a ele porque enganou uma mulher e não fez o papel que um homem de verdade deve fazer.

- como sempre você esta certa.

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