A primeira noite de muitas

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Dois dias após conhecer a mulher no bar fui lá de novo, no mesmo horário de sempre, nove e pouco da noite, eu sentei e o garçom já veio me receber:

- senhor Pietro, já estava o esperando por aqui, o que deseja ?

- o de sempre, Will.

- já lhe entrego sua cerveja.

- pode me responder algo?

- sim, estou sempre as ordens.

- sabe me dizer se Pérola Valente apareceu aqui de novo ?

- sim, hoje de tarde, você não foi o único que se interessou... ela perguntou pelo senhor também. - Will disse me entregando uma cerveja.

- ela me despertou uma curiosidade bizarra.

- a senhora Valente é encantadora.

- ela é mesmo.

- perdão, tenho que atender os outros clientes.

Will foi entregar alguns pedidos e anotar outros.

- me conte mais, fiquei interessado.

- ela vai te falar, se a conquistar. - o garçom disse e continuou a trabalhar.

Tomei apenas duas cervejas, já estava entendiado, até ver quem eu queria entrar pela porta, ela veio até mim sorrindo.

- olá senhor Dolle.

- olá senhora Pérola Valente.

- não precisamos ser tão formais.

- não mesmo, pode me chamar só pelo meu primeiro nome.

- faça o mesmo comigo, Will traga meu vinho.

- sim senhora.

Ela estava tão bela, não conseguia tirar meus olhos daquela mulher intrigante.

- tudo bem?

- sim, estava pensando um pouco.

- o que te atormenta Pietro?

- nada, só você.

- eu ??

- é que dá primeira vez que nos vimos você foi bem franca comigo e nem me conhecia.

- eu estava abalada, mil perdões por isso, mas olha pra mim agora, estou bem.

- está linda e não se desculpe eu queria ter te ajudado mais aquele dia.

- esse lugar sempre me deu uma sensação de ser um confessionário, Will sempre escuta meus dramas, ele é um anjo.

- obrigada senhora. - o garçom agradeceu de longe.

Realmente a mulher que estava na minha frente era bem diferente daqui havia visto a dois dias, estava no processo de superação, mas seu coração devia estar quebrado ainda.

- esse lugar me passa uma sensação boa, o bar é um confessionário, mas também é acolhedor, me lembra a casa do meu pai.

- ele bebe muito?

- bebia, mas era um homem muito divertido.-respondi ela um pouco triste por lembrar.

- sinto muito.

- já faz um tempo.

- mas a morte é difícil de ser superada.

- já perdeu alguém Pérola?

- sim, mas não pra morte, perdi pessoas pro destino mesmo.

Ela disse isso de uma forma tão intensa e dramática que me comoveu, foi quando percebi que a mulher já estava na metade da garrafa.

- as pessoas mudam muito.

- realmente Pietro, eu mesma estava pensando como vou me recuperar, você já sentiu que não se reconhece mais?

- claro! Quem nunca se perdeu de si própio?

- exatamente, eu era alguém diferente a umas semanas atrás e agora...não sei. Posso recomeçar e ser quem eu quiser, me sinto jovem de novo.

- nós podemos recomeçar quando quisermos.

- nem sempre, eu tenho privilégios ou seja dinheiro.

- perdão por perguntar, mas você faz o que ?

- eu nasci rica, meu pai tinha uma empresa bem sucedida, tenho ações.

- totalmente privilegiada. - eu debochei da situação e Pérola riu.

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