CAPÍTULO 7

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Terça-feira era um dia gris do fim de novembro. Pancadas ocasionais de chuva vinham das colinas. O mundo parecia um lugar desolado, visto através da garoa cinzenta.

"Não é um dia muito aprazível para a coitada da Dovie se casar", pensou Anne. "Digamos... digamos...", ela estremeceu. "Digamos que não dê certo, no fim das contas, seria culpa minha e Dovie jamais teria topado se eu não tivesse lhe aconselhado. E suponhamos que Franklin Westcott jamais a perdoe. Anne Shirley, pare com isso! Não se deixe levar pelo clima."

A chuva já havia cessado ao cair da noite, mas o ar estava gelado e cortante e o céu tormentoso. Anne estava no quarto da torre, corrigindo provas, com Dusty Miller encolhido embaixo do fogão. Foi quando uma batida trovejante soou na porta da frente.

Anne correu até lá embaixo. Rebecca Dew enfiou a cabeça para fora do quarto, alargada. Anne fez sinal para que ela não saísse.

- Tem alguém na porta da frente - disse Rebecca, horrorizada.

- Está tudo bem, querida. Na verdade, receio que nada esteja bem, mas, de qualquer forma, é só o Jarvis Morrow. Eu o avistei da janela da torre e sei que ele quer me ver.

- Jarvis Morrow! É o fim da picada! - Rebecca então fechou a porta do quarto.

- Jarvis, o que foi?

- Dovie não veio - respondeu Jarvis, aflito. - Esperamos por horas, o ministro está lá, meus amigos também, Julia preparou um jantar e Dovie não veio. Esperei por ela no fim da rua até quase enlouquecer. Não ousei ir até a casa dela por medo do que possa acontecer. Aquele brutamontes velho do Franklin Westcott pode ter voltado. A tia Maggie pode tê-la trancafiado, mas eu preciso saber o que aconteceu. Anne, você precisa ir até Elmcroft e descobrir por que ela não veio.

- Eu? - disse Anne, incrédula.

- Sim, você. Não posso confiar em mais ninguém... ninguém que saiba o que está se passando. Ah, Anne, não me abandone. Você nos apoiou desde o princípio. Dovie disse que você é a única amiga verdadeira que ela tem. Ainda não está tarde, são só nove da noite. Vá, por favor.

- Para levar uma mordida do buldogue? - disse Anne.

- Aquele cachorro velho! - disse Jarvis, com desdém. - Não assustaria nem um passarinho. Você não acha que tenho medo daquele cachorro, acha? Além disso, ele sempre fica preso de noite. Eu só não quero arranjar problemas para a Dovie, se eles descobriram tudo. Anne, por favor!

- Creio que não haja outro jeito - disse Anne com um dar de ombros desolado.

Jarvis a levou até a rua que levava a Elmcroft, mas ela não permitiu que ele se aproximasse mais.

- Como você disse, as coisas podem se complicar se o pai dela voltou para casa.

Anne se apressou pela estradinha bordeada por árvores. A lua surgia ocasionalmente por entre as nuvens escuras, mas a maior parte do trajeto foi feito na escuridão total e pensar no cachorro a inquietava ainda mais.

Parecia haver apenas uma luz acesa em Elmcroft, na janela da cozinha. A tia Maggie abriu a porta para Anne, ela era uma irmã muito mais velha de Franklin Westcott, uma senhora de idade enrugada e um pouco encurvada que nunca fora considerada muito esperta, embora fosse uma exímia dona de casa.

- Tia Maggie, Dovie está em casa?

- Ela está na cama - respondeu a tia Maggie, impassível.

- Na cama? Está doente?

- Não que eu saiba. Passou o dia muito nervosa. Depois do jantar, disse que estava cansada e subiu para o quarto.

- Preciso vê-la por um instante, tia Maggie. Eu só preciso de uma informaçãozinha importante.

Anne de Windy PoplarsOnde histórias criam vida. Descubra agora