1936 O PRIMEIRO ANO

573 31 12
                                    

📍 Este é o quarto livro de Anne de Green Gables, porém estou postando ele somente agora por ter me confundido na ordem.

(Carta de Anne Shirley, Bacharela em Letras e Belas Artes, Diretora da Escola Secundária de Summerside, para Gilbert Blythe, estudante de medicina da Redmond College, em Kingsport.)

Windy Poplars
Rua do Fantasma
Summerside, Ilha do Príncipe Edward
Segunda-feira, 12 de setembro

QUERIDO,

Não é um endereço e tanto? Já ouviu algo mais delicioso? Windy Poplars é o nome do meu novo lar, e eu o adoro. Também adoro a "Rua do Fantasma", que não existe oficialmente. Deveria ser Rua Trent, mas ela só é chamada assim em raras ocasiões, quando é mencionada no periódico semanal Weekly Courier... e, nesses casos, as pessoas olham umas para as outras e dizem: "Onde será que fica isso?". É Rua do Fantasma, mesmo... embora eu não saiba dizer o motivo. Já perguntei para Rebecca Dew, mas tudo que ela disse foi que a rua sempre teve esse nome e que anos atrás surgiu uma história de que o lugar era assombrado, mas ela nunca viu nada de horrível lá além de si mesma.

Eu não deveria estar me precipitando, todavia. Você ainda não conhece Rebecca Dew, mas vai conhecê-la. Ah, com certeza. Prevejo que ela figurará amplamente nas minhas futuras correspondências.

É a hora do crepúsculo, meu querido. (Aliás, "crepúsculo não é uma palavra adorável? Acho melhor do que "entardecer". Soa como algo tão macio e misterioso e... e... crepuscular.) Durante o dia eu pertenço ao mundo... e à noite, ao sono e à eternidade. Porém, no crepúsculo, estou livre de ambos e pertenço somente a mim mesma... e a você. Assim, vou reservar esta hora sagrada para lhe escrever. Ainda que esta não seja uma carta de amor. Estou usando um bico de pena que borra, e não posso escrever cartas de amor com uma pena que borra... ou de ponta afiada... ou de ponta cega. De modo que você só receberá uma carta daquele tipo quando eu tiver exatamente a pena certa. Enquanto isso, contarei sobre meu novo domicílio e seus habitantes. Gilbert, eles são tão encantadores!

Eu vim ontem para Summerside à procura de uma pensão. A senhora Rachel Lynde me acompanhou, supostamente para fazer algumas compras, mas, na verdade, sei que veio para escolher uma pensão para mim. Apesar do meu diploma, a senhora Lynde ainda me considera uma jovenzinha inexperiente que precisa ser guiada, orientada e supervisionada.

Viemos de trem e, ah, Gilbert, tive uma aventura muito engraçada. Você sabe que sou do tipo de pessoa que sempre é encontrada pelas aventuras. Acho que eu as atraio, pelo visto.

Aconteceu quando o trem estava parando na estação. Eu me levantei e, ao inclinar-me para pegar a mala da senhora Lynde (ela planejava passar o domingo com uma amiga na cidade), apoiei os nós dos dedos com toda a força no que parecia ser o braço lustroso de um assento. Um segundo depois, recebi um golpe violento que quase me fez uivar. Gilbert, o que parecia ser o braço de um assento era a cabeça calva de um homem, que me encarava com raiva e era evidente que havia acabado de acordar. Eu me desculpe humildemente e desci do trem o mais rápido que pude. A última coisa que vi foi seu olhar fixo em mim. A senhora Lynde ficou mortificada, e meus dedos ainda estão doloridos!

Não imaginava que daria tanto trabalho encontrar uma pensão. Uma tal de senhora Pringle havia hospedado várias diretoras da Escola Secundária nos últimos quinze anos, mas, por algum motivo desconhecido, de uma hora para a outra ela decidira que estava cansada "do incômodo" e não me recebeu. Vários outros lugares adequados deram desculpas afáveis. Vários outros lugares não eram adequados. Nós andamos pela cidade a tarde toda e ficamos acaloradas, cansadas, desanimadas e com dor de cabeça... pelo menos eu fiquei assim. Já estava pronta para ceder ao desespero... e então, a Rua do Fantasma surgiu!

Anne de Windy PoplarsOnde histórias criam vida. Descubra agora