A Paciente Inconsciente

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2 de setembro de 2018

Pontual como sempre foi, Madara estava no hospital às nove. Não havia nenhuma cirurgia prevista para hoje por isso o uniforme era inteiramente branco, ainda que não apreciasse muito aquele uniforme em especial, o cabelo que estava quase sempre preso num coque, hoje estava apenas amarrado desleixadamente, não por vontade própria e sim por ter acordado em cima da hora sem a mínima coragem de se exercitar ou se arrumar para o trabalho — exausto, essa era a palavra. Passou pela secretária sem retirar os óculos escuros mesmo que já não os precisasse ali dentro, as saudações de bom dia vinham de todos os que passavam por ele, alguns sendo recíprocos outros apenas um breve aceno de cabeça, não era ignorante ou arrogante só não conseguia demonstrar a falsa empatia que a maioria dali fingia ter por ele; na realidade mais da metade dos outros funcionários dali não simpatizavam muito com o filho mais velho do diretor. O consideravam calado demais e esnobe o suficiente para sequer participar das interações ou das festividades que tinham no hospital.

- Bom dia, Madara! — Mito se aproximou já o entregando o costumeiro café macchiato que ela nunca esquecia de oferecê-lo depois que soube da preferência do médico — O paciente do 304 já está à sua espera, me disse que sentiu muitas dores de cabeça essa noite mas que não queria que eu lhe desse nenhum remédio,  apenas para você... Como sempre! — ela revirou os olhos ainda sorrindo, insatisfeita.

- Um dia você irá ser a preferida do Hideki, é apenas questão de tempo! — tentou reanimá-la. Hideki era apenas um garoto de seis anos que já estava na clínica desde os quatro, onde foi diagnósticado com um tumor maligno no cérebro. O menino filho de um dos maiores bancários de Washington optou por interná-lo na clínica mesmo que as recomendações fosse de que ele tivesse a companhia do pai ao seu lado naquele momento, mas Takeshi julgou um incômodo a mais em sua vida e prefiriu intervir apenas com o dinheiro.

- Fico feliz com o seu otimismo hoje! Já irá para a sala dele? É sempre o primeiro paciente que vê.. — argumentou notando que ele estava indo para a direção oposta ao 304.

- Preciso ir ver a paciente de ontem a noite! — olhou de soslaio para Mito que parecia ter uma expressão desgostosa — Pretendo assinar a alta da Alison Ross, faça um último checape completo e me avise de qualquer alteração!

- Sim.. — ela mexeu em mais alguns dos  papéis que estavam em sua planilha e o entregou  — Aqui está, as últimas informações que temos dela... Como passou a noite, alterações e etc.

- A polícia já esteve aqui?

- Não, acham que é apenas um acidente isolado, o que provavelmente deve ser, o estranho é ninguém procurando por ela mas está muito cedo para constatar qualquer coisa! — disse enquanto pararam frente ao quarto duzentos e um, o quarto da garota anônima — Talvez seja melhor tirá-la do coma para perguntarmos à ela, não acha?

- Sabe que é muito cedo!

- É claro, ideia estúpida... — ela sorriu sem jeito antes de voltar a caminhar.

Mito o deixou que seguisse em direção ao quarto onde estava sua última paciente, era estranho para ela vê-lo daquela maneira, independente de quantas horas ele dormia ou não Madara sempre estava com uma aparência impecável, médicos também precisam ser bons atores afinal. Os pacientes sempre deveriam vê-los sorrindo, como se tudo estivesse no controle quando na realidade nem sempre estava. Na madrugada pôde ver com ainda mais clareza o quão Madara era bom, não apenas bom ator mas um excelente cirurgião, vê-lo atuando a deixava ainda mais apaixonada e fascinada pelo homem que era — isso sem mencionar o porte físico que ele possuía, que não era nada fácil de olhar sem desejar. De fato, se Deus tivesse seus preferidos Madara e a família Uchiha estariam no topo da lista.

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