A Mulher Dos Meus Sonhos

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14 de setembro de 2018

Não era uma tarefa fácil cuidar de tantos pacientes, manter-se com o psicológico estável e ainda cuidar do corpo. Na realidade era frustrante e até estranho para ele sentir as emoções que estava tendo, de tudo o que andava lhe ocorrendo a falta de respostas de uma única paciente era o que lhe deixava ansioso, o que era mínimo para explicar. Analisando as fichas daquela menina ele poderia dizer que tudo estava indo bem, havia respostas e pequenos sinais vitais ótimos para qualquer paciente em recuperação mas duas semanas haviam se passado e nenhum avanço. Ele não estava compreendendo o porquê. Foram dias de conversas e interações da parte dele, conversas sobre o dia a dia, o que estava havendo na cidade e até sobre o tratamento dela. No dia oito de novembro decidiu parar o coma induzido e deixar que ela acordasse por si só, a maioria dos pacientes retornavam dentro de vinte ou vinte e quatro horas, mas ela já estava à uma semana sem dar melhoras. Madara reconhecia o quão complexa era a área em que atuava e que tudo poderia acontecer, mas o tratamento e resultados daquela menina estavam indo perfeitamente bem, ela deveria ter acordado ou ao menos respostas mais claras de sua consciência.
Sua frustração se dava principalmente por crer que ela não teria as sequelas que imaginou e agora via que poderia ser o contrário, havia uma grande possibilidade daquela menina ficar em estado vegetativo por meses...

Já estava no fim do espediente, aquele dia havia feito outra cirurgia complexa e demorada tratando de uma glândula pituitária, cansado demais para quaisquer outra interações com o pessoal do trabalho, mas ainda disposto para passar ver sua última paciente. Adentrou no quarto que possuía apenas as luzes do abajur e dos aparelhos que a mantinham em segurança, naqueles casos tinha receio de que a pessoa inconsciente pudesse não conseguir respirar por si só ou que ocorresse uma parada cardíaca, ela já estava demorando demais para o gosto dele e mais um problema era tudo o que não queria.

- Como você está hoje? - perguntou arrumando o fino cobertor que a cobria, certo de que era insuficiente - Está um dia frio hoje, não acha?... Eu estive pensando no seu tratamento durante o dia todo, você já deveria estar acordada, não acha?... Eu não pretendo me desanimar tão cedo mas você tem parado de responder às minhas perguntas.

Madara analisou a TV de monitoramento e ainda que mínimos havia uma alteração, ela poderia estar apenas sonhando mas é claro que também poderia estar escutando o que ele dizia, e ele torcia para isso.

- Eu não sou de conversar muito e é ainda mais estranho quando ainda nem sei o seu nome então preciso que me dê um sinal de que está me ouvindo, e de que me dirá seu nome em breve! - ele pegou em sua mão novamente, dessa vez não para fazer sua circulação correr mas sim para sentir qualquer reação que ela pudesse ter - Sei que é forte o suficiente para fazer isso, então quero te pedir que se estiver me ouvindo tente mover os dedos!

Ele esperou por alguns segundos, imaginava que uma luta deveria estar sendo travada dentro do subconsciente dela e é claro que teria toda a paciência do mundo para esperá-la se fosse necessário. E um sorriso vitorioso apareceu em seus lábios quando sentiu o aperto fraco retribuído em sua mão. Ela o respondeu. Ela estava ali ainda.

- Oi pra você também! - sorriu. Foi um aperto breve, tão breve que outra pessoa que não desejasse o suficiente não sentiria, mas aquele pequeno sinal foi o suficiente para reanimar o seu restante de dia - É bom ter uma resposta sua, como se sente hoje? Está com frio? Aperta minha se a resposta for sim! - ele esperou alguns segundos e o aperto veio novamente, então ela estava com frio. Madara então foi até um dos armários e retirou mais um dos cobertores - Não imagino o que se passa em sua mente agora mas fique tranquila, irá acordar em breve com certeza e poderá ver que está recebendo o melhor tratamento que Seattle possa te oferecer.. - quando a palavra "seattle" ecoou os bipes da TV ecoaram mais alto, ela estava alterada - O que foi? Hm? Terá que acordar para me dizer o que te deixou agitada... O que acha?

Madara passou exatas duas horas dialogando com ela e tendo algumas respostas de que ela o estava ouvindo, os batimentos se alterando e os apertos de mão o deixaram mais animado para prosseguir a avaliação da garota. Até mesmo tentou descobrir o nome dela citando alguns dos mais populares mas errou todos, talvez fosse um nome um pouco diferente, ele adoraria descobrir.

- Eu já devo ir, mas estarei aqui amanhã e verei se estão cuidando bem da cicatriz na sua cabeça... Até mais tarde...

Aquele seria o momento em que diria o nome dela, qualquer um estaria bom para quem não tinha sequer ideia de qual seria. Outra coisa que o deixava pensativo era sobre a família dela. Por que ninguém a procurava ou até mesmo a polícia? Já deveriam ter encontrado algo dela, no mínimo um nome... Mas aquele não era um problema já que sua única função ali era monitorá-la.

Após sair do hospital passou na casa de seus pais, os visitava poucas vezes e ainda assim o pouco que ia já o deixava desconfortável. Sua mãe nunca tinha conversas além do quão boa foi para o futuro dos filhos e do quanto se orgulhava de Madara que seguiu a profissão da família, diferente de seu irmão que seguiu o sonho de estudar biologia marinha fora do país, Midory quis algemá-lo na cabeceira da cama para evitar aquilo mas não foi possível.

Naquela noite pensou que dormiria bem e sem preocupações mas bastou colocar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos para que o delírio se iniciasse.

Em seus sonhos ele via uma mulher de costas com os cabelos voando e ele se esforçava para ver a cor daqueles fios longos e suas feições mas a luminosidade do sol o impedia. Ela estava caminhando em direção a praia, seus pés piscavam nos pedriscos enquanto seguia rumo às águas claras. Ele tinha certeza de que ela estava rindo pela forma que sacudia as mãos e balançava a cabeça, foi então que colocando uma mexa atrás da orelha ela se virou lentamente para encará-lo. A luz tomou conta de suas vistas e a única visão que tinha era de dois olhos verdes atrás dos fios de cabelo que voavam frente ao rosto, um verde eslmeralda que o fez estremecer.

Ele devia ter passado horas sendo hipnotizado por aqueles olhos tão encantadores, e ao acordar com a respiração descompensada teve a certeza de que algo de estranho estava lhe ocorrendo. Jamais viu olhos como aquele em sua vida toda e sua curiosidade pareceu reinar durante o restante daquela noite.

 Jamais viu olhos como aquele em sua vida toda e sua curiosidade pareceu reinar durante o restante daquela noite

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