2 de janeiro de 2019
O sol ainda nem havia dado as caras e já estava dentro daquele avião voltando para Seattle, não estava em seus planos sair ainda no dia primeiro de janeiro mas foi necessário. Uma ligação urgente sobre Hideki o garotinho que cuidava o deixou aflito e estar mais de quinhentos quilômetros longe da clínica não fazia a situação melhorar.
Mito havia lhe informado que o garoto teve uma crise convulsiva na virada de ano após um estresse gigantesco e que nada o controlava, alegando que queria a presença do pai, infelizmente agora o menino ainda estava respirando pelo auxílio de uma máquina, completamente inconsciente.
Quando colocou os pés em Seattle não teve outras preocupações a não ser chegar logo à clínica, não se importou com mala ou se estava indisposto por ter ficado tantas horas sentado, só queria atender o menino o quanto antes.
Ele não esperava chegar na clínica e encontrar tanta comoção, havia repórters e dezenas de pessoas que com certeza não estavam precisando do apoio de um hospital. Caminhou por entre aquelas pessoas com pressa e foi chegar ao na recepção que viu Mito com os cotovelos apoiados no balcão, a cabeça baixa e mais duas enfermeiras a consolando. Quando Madara viu o olhar dela vir em sua direção ele quis negar o que aqueles olhos avermelhados e cheios de lágrimas lhe diziam.
- Onde ele está? - perguntou assim que tomou uma proximidade considerável, em seu âmago ele já sabia o que aquele olhar e a demora para a resposta significava - Mito?
- Estão na UTI 14, o pai dele está lá..
Um ódio tomou todo seu corpo quando ouviu aquilo. Há quanto tempo esse menino esperava pela presença dos pais ou dos parentes? O garoto morreu desejando uma única atenção!
Aquilo o revoltava da mesma maneira que o deixava desolado, como se as esperanças de que qualquer um pudesse melhorar sem riscos ou sequelas futuras, mas nunca era assim. Algo de ruim sempre ocorria no final mesmo que a garoto estivesse com o melhor neurocirurgião do mundo, seu único conforto era saber que ao menos deixou que o menino vivesse por mais um tempo sem a dor física.
Quando entrou na sala onde o pequeno estava, Takeshi se encontrava sentado numa poltrona de cabeça baixa, não ousou olhar para o neurocirurgião sentia vergonha por saber que poderia ter feito mais no entanto nunca admitiria isso para ninguém. Se fosse um pouquinho mais irracional Madara teria usado da violência ali, naquela exata hora, contra aquele homem estúpido e frigido; mas sabia que nenhum de seus problemas ou frustrações se resolveriam assim..
O corpo inconsciente de Hideki estava gélido sob a maca. Madara fechou os olhos instantaneamente quando o tocou, não era daquela maneira que imaginava que iria reencontrá-lo... Com a mente cheia de raiva e tristeza ele se despediu do garotinho por quem nutriu tanto carinho e afeto.
Aquela tarde inteira foi daquele jeito, mórbido e triste, não houve um funcionário que não sentiu o luto por aquele jovem garoto. Madara foi revisitar seus outros pacientes mas qualquer um poderia ver o quão ele estava abatido e por mais que não desejasse evidenciar para outros pacientes era quase impossível. Foi no fim da tarde que ele resolveu dar uma breve passada pelo quarto 202, deveria estar animado para reencontrá-la, não era aconselhável passar energia ruim para pessoas naquele estado. Mito havia lhe informado que ela seguiu não respondendo e havia passado por mais uma convulsão enquanto ele esteve fora, felizmente ela soube o que fazer.
- Olá, Cereja! - se aproximou e junto trouxe uma das cadeiras dali do quarto, se sentando próximo a cama dela - Cheguei hoje de viagem... Está com frio? - um suspiro pesado foi emitido por ele vendo que sequer os batimentos dela se alteravam, ela passou uma semana sem dar respostas, qualquer um estaria desanimado em vê-la e após tantos dias sendo persistente, Madara deveria admitir que também estava desapontado, até consigo mesmo - Precisa me dar algum sinal de que está ainda esta consciente, só... eu preciso saber que você está aí, Cereja..! - aproximou-se mais, tocando na mão dela, ele só deseja aquilo, um único sinal. Que fosse um aperto ou uma alteração leve, algo que dissesse que ela estava ali e que ele não conversava com um corpo sem vida - Eu só passei para te dar um oi, preciso desfazer minhas malas... Até amanhã..
Se levantou ainda mais chateado do que quando entrou, aquela garota já estava em coma há três meses e ele tinha consciência de que um coma de três meses era extremamente persistente.
Os funcionários da clínica nunca haviam visto o neurocirurgião daquela maneira, nem mesmo seu pai.
- Filho? - Tajima bateu na porta do quarto receoso, vendo que Madara já estava de saída ele o acompanhou juntamente para fora - Sei que a morte do filho de Takeshi o deixou mal, sei que realmente gosta de seus pacientes e por isto antes de assinar qualquer papel eu quis vir falar com você.. Sobre ela!
O mais novo já sabia sobre a quem seu pai se referia e no fundo também já imaginava o que ele queria dizer.
- Se passaram três meses, eu sei!
- Eu não quero que pense que é apenas pelo dinheiro que vim lhe dizer isso, mas você é o médico aqui e sabe que três meses é quase irreversível a menos que ela esteja te respondendo.. Ela está? - a pergunta já tinha sua resposta, ambos sabiam, Madara não podia continuar com aquela falsa esperança - Qualquer um nesse momento pensaria em desligar as máquinas, mas deixarei a decisão para você dessa vez!
De cabeça baixa Madara deixou o pai para trás, uma resposta inexpressiva foi o que Tajima recebeu antes do filho se dirigir para fora da clínica. O mais velho ficou ali parado vendo de longe o momento em que Mito o entragava alguns papéis. "Não há nada que eu possa fazer!" Tajima tinha de admitir, seu filho nunca se desanimava com os pacientes, e ele como pai entendia o quão abatido estava seu filho mais velho.
Foi quando o disparo ecoou pelo hall da clínica, não houve uma pessoa que não encarou o feixe de luz vermelha que piscava acelerada.
- Doutor Uchiha? - uma mulher corria gritante pelo corredor antes de encontrar Madara, aflita e agitada o Uchiha mais novo a olhou com estranheza. A enfermeira tomou fôlego antes de começar a falar novamente, ninguém conseguia distinguir se ela estava tendo uma crise respiratória ou sorrindo satisfeita.
- Vivian? Se acalme... - Mito a ajudou, também a olhava com certeza estranheza mas ela só conseguia encarar Madara com aquele olhar esperançoso.
- A sua paciente..! A paciente do 202 está acordada!
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Lapsos Memóriais
RomanceAquele seria apenas mais um dia, não como qualquer outro, na realidade aquela noite ele estava de folga e se preparava para estragar um pouco do físico invejável que possuía, já que não era sempre que sua profissão lhe permitia tais luxos. Iria com...