Prólogo

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Dois de abril de 1993, esse é o dia em que nasci. Foi em Campina Verde no triângulo mineiro de Minas Gerais. Apesar de ser mineira, morei em Goiânia por boa parte da minha vida. Percorri por várias cidades e Estados do nosso país, cheguei a morar fora por um ano e meio fazendo intercâmbio, Canadá, às vezes sinto falta, mas esse sentimento logo passa quando me dou conta de que não há nada como sentir o calor em minha pele, a paisagem vibrante e colorida, o humor das pessoas, a praia em dia escaldante e a areia entre meus dedos.

Muita coisa mudou desde que cheguei a esse mundo, para meus pais quero dizer. Hoje em dia já não nos vemos com a frequência que gostaria, nos distanciamos muito por conta do meu trabalho, sempre tenho que estar viajando e parar num lugar só, às vezes torna-se inviável. Isso mudou depois que o conheci, pensei que fosse o amor da minha vida, fazia-me sentir a mulher mais feliz do mundo. Ilusão, carência, ou talvez alguém desesperado para ficar em um lugar e criar raízes, algo como conhecer seus vizinhos e trocar algumas receitas, saber onde ficam os melhores e piores restaurantes, ter de cor o número daquela doceria a pronta entrega, coisas assim, pequenas, que me fez perceber o quanto queria isso. O quanto queria parar e desacelerar.

Não vemos quando ela chega, e nem como, ela só está ali, é como uma sombra indesejada e escura que suga suas energias e te impossibilita de aproveitar o que mais gosta na vida. As cores deixam de agradar seus olhos, a fome deixa de ser algo essencial, a higiene e a troca com as outras pessoas passa a se tornar tão irrelevante. Entende que o comportamento humano é resultado de uma complexa teia de dimensões inter-relacionadas que interagem para produzi-lo, mas se somos só nós por nós, quem realmente tem sido por mim? É como se eu já não fosse real, é como se estivesse invisível. O que eu gosto de fazer? Eu realmente já não sei dizer.

Meu carro alugado quebrou, por sorte eu acho, a algumas quadras ali da estação. E lendo um cartaz enquanto esperava a condução no metrô tomei consciência do meu problema, era por volta das dez da noite e não havia muitas pessoas ali. No cartaz dizia: crie uma rotina agradável, esteja em atividade e reserve um tempo para relaxar. Se você estiver cansado, lento e esgotado, lembre-se do que as companhias aéreas nos dizem toda vez que voamos: "Coloque sua própria máscara primeiro e depois ajude os outros".

Era isso, preciso colocar minha máscara primeiro, preciso de um lugar para respirar e voltar a ter cor, a me sentir viva, apenas me sentir. O visor do meu celular acendeu notificando algumas mensagens, nada de mais. O metrô já estava vindo, ainda tão longe e, em simultâneo, tão perto. As pessoas passavam no automático em minha visão periférica, tão aceleradas, como vários borrões, talvez todos devessem desacelerar, estava na hora como indicava no relógio da parede. Estava na hora de me desligar e desacelerar, só parar e me conhecer de novo. Foco em olhar para fora da janela, as pessoas não percebem, creio eu, o quanto estamos mal se não verbalizamos, e estou tão cansada de tudo, exausta de não pertencer nem a mim mesma. Está na hora de tomar uma atitude, por mim a partir de agora serei apenas gentil.

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