Gizelly

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Por que não nós? A curta frase ficou ecoando em meus pensamentos enquanto Aline, minha aluna, declama seu poema inspirado em algum poeta, talvez a ver com algo que... eu sinceramente não sei dizer. Ao acordar nesta manhã pensei logo em deixar o dia na escola de lado, mas seria de muita irresponsabilidade abandonar meus afazeres a troco de absolutamente nada.

Minhas escolhas e ações ao longo desse mês tem sido no mínimo muito confusas. Por que não nós? Mais uma vez penso porque, porquê, por quê? O que espero? Nem sei dizer. Aline recebe aplausos da turma e me encara com um sorriso largo em seu rosto, totalmente orgulhosa de seu feito, ela deixa a folha decorada em minha mesa e ofereço-lhe um sorriso amigável. Deixo a balbúrdia continuar por um tempo enquanto releio aquilo que perdi por um tempo.

- É muito bonito Aline, muito obrigada por compartilhar com a turma. – A encorajei depois de um tempo, levantei meus olhos para a garota com seus cabelos presos no alto da cabeça que davam-lhe uma aparência ainda mais jovial, dar aula para essa turma era sempre uma surpresa. – O que te levou a escrevê-lo?

- Foi por isso mesmo que escrevi, - começou ela, Aline era aquele tipo de aluna que falava, mas se envergonha e em instantes suas bochechas estavam tomadas por uma coloração rosada. - Porque não tenho nada ainda, mas eu não quero ficar esperando alguém me encontrar, quero procurar, então, bom, acho que é isso...

- Mas eu to aqui chuchu, - completou um menino do fundo da sala tirando risos dos demais, até eu sorri com a fala. - Já pode parar de procurar, eu sou o seu homem. – Ele jogou um beijo no ar teatralmente.

Houve um uivo colossal da turma e a garota deitou a cabeça sobre os antebraços em cima da carteira, eu pude ver antes dela fazer isso que estava sorrindo. As batidas nas carteiras cessaram junto com o sino indicando o intervalo. Os alunos passaram por mim se despedindo, mesmo que após o intervalo nossa aula continuasse, eram dois tempos seguidos então logo estarei de volta.

O outro aluno, Vinícius, já estava de pé ao meu lado, era ele quem iria se apresentar depois, me deu um "tchauzinho" e saiu. Antes mesmo de me ver longe dali, li e reli o poema, algo que espero é algo que procuro, por que isso me parece familiar? Desde muito tempo eu espero; e espero e espero. Às vezes alguém vem; aparece de repente e fica tudo bem por um tempo; mas então desaparece; não dura, enfraquece e se perde. É difícil não associar isso à minha atual situação, não sei como, mas era possível.

Desde muito tempo eu espero

e espero e espero.

Às vezes alguém vem,

aparece de repente e

fica tudo bem por um tempo

então desaparece

não dura, enfraquece e se perde.

É só algo que penso,

algo que almejo,

algo que espero e desejo,

Por que não nós? Questiono em silêncio

e então eu espero e espero

Já que tem tanto tempo em que espero

e então eu espero

Procura-seOnde histórias criam vida. Descubra agora