O blog é meu jeito de esclarecer as coisas com as várias de mim. Às vezes me perco em minha irritabilidade e tristeza profunda, é confuso sair disso e é ainda mais confuso entrar. Uma vez dentro tudo vira de cabeça para baixo e você só se sente uma merda completa. Comecei há um tempo, a princípio seria como um blog de viagens e fotografias, paisagens urbanas de todo o globo, lugares que conhecia por conta do meu trabalho, já vi muitas coisas.
A sorte de ganhar em dólar me ajudou a fazer uma pausa agora. Ganhava um bom dinheiro e poderia dizer que ficaria bem por um tempo afastada de meus afazeres, mas não estava preocupada com isso agora, na verdade, quando decidi sair de casa e viver por mim mesma sabia onde estava me metendo e quanto a minha situação financeira, sempre fui muito responsável.
O blog virou muito mais do que isso, me sentia bem apenas de escrever o que não conseguia dizer em voz alta. Era libertador e seguro, não tinha muitos leitores, o que era perfeito, não falava sozinha e ainda sim, conseguia compartilhar minha vida sem me expor por completo. Não sei como as pessoas fazem, quando estão em situações semelhantes à minha, com todos esses sentimentos que transbordam.
Agora estou parada em frente a casa de uma moça que conheci a pouco mais de um ano, em um congresso internacional de cosméticos orgânicos, ou coisa do tipo. Na época estava a trabalho e não nos aproximamos muito, mas depois de alguns dias recebi seu e-mail, e passamos a nos corresponder desde então.
Me sentia bem com ela, Bianca Andrade era leve e despreocupada. Sabia que morava um pouco afastada da cidade, e por conta da correria de nossos dias nunca nos vimos pessoalmente desde o congresso. Às vezes suas palavras me confortaram, e era estranho como em pouco tempo já a chamava e a considerava uma amiga. É estranho, na verdade, chamar qualquer um, na 'internet' de amigo, porque você conhece essa pessoa, mas ela é real? Às vezes me perco em minhas inseguranças, e me preocupo a todo momento em estar sendo feita de idiota, ou ser enganada, ou até me apegar e me deixarem sem motivo nenhum. Você sabe, as pessoas têm dessas. Elas apenas somem da sua vida e é isso, você fica a ver navios e sem saber o que aconteceu, por isso, creio eu, ser assim, desconfiada e fechada para essa categoria de interação. Não que eu não acredite em criar laços assim, só estou dizendo ser difícil e às duas partes tem que estar dispostas a dançarem juntas e em sintonia.
Não avisei que viria, mas sei que às quintas-feiras ela está em casa pela manhã. Na verdade, não sei ao certo porque dirigi para cá logo que saí de casa. As poucas coisas que juntei eram visíveis no banco de trás. No caminho tive problemas na estrada, mas como desde cedo aprendi a me virar, não tive problemas muito alarmantes.
Encarei o número da casa preso na parede e o portão baixo e preto. Do lado esquerdo a grama verde era quase agressiva aos olhos, tamanha intensidade de sua cor. Do lado direito alguns bancos de praça e uma mesa de centro decorada com um vaso enorme de margaridas. A casa branca de dois andares, majestosa, enfeitava mais atrás. Era imensa e bela. Pensei em apertar a campainha, e em ir embora mais de uma vez. Seria um incômodo aparecer assim do nada. Irei embora.
Já de costas e encarando meu carro ouço uma voz doce e infantil em minhas costas. Franzi o cenho com o chamado e me virei para encarar a garota de meio metro. Seus cabelos presos em marias chiquinhas enfeitavam sua cabeça, seu vestido vermelho de bolinhas brancas balançavam pelo vento que estava fazendo. Ela segurou a grade do portão me olhando com curiosidade.
- Oi?! - Disse ela abrindo um sorriso e espremendo seu rosto contra a grade.
- Oi! - Respondi prontamente.
- Eu te vi dali, - ela apontou para trás de seu ombro, para a janela da casa -, como é o seu nome?
- Rafaella, - fiz uma pausa estudando seu rosto curioso. - E o seu?
![](https://img.wattpad.com/cover/271538920-288-k214623.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Procura-se
FanfictionO que fazer quando se encontra um celular no metrô? Gizelly, uma jovem professora de literatura, pensou que o dono logo apareceria, mas depois de semanas sem noticias sua curiosidade para encontra-lo falou mais alto. O que será que encontrará nessa...