Ela me olhava com estranhamento e curiosidade. Pensei em dizer algo, a princípio seu olhar me atravessava, era quase invasivo. Ao mesmo tempo em que queria confortá-la, dizer-te que tudo ficaria bem, ou mesmo apenas dar-lhe um abraço apertado. Fiquei presa na imensidão de seus olhos, imersa em seu universo particular. Todo seu universo interno que desejava tanto conhecer, e ouvir. Tinha medo de fazer qualquer movimento e nós nos perdemos, pois agora estava aqui, e cada olhar me prendia. Poderia ser uma armadilha, mas me via seguindo aquele mesmo caminho, sendo guiada por seus olhos verdes esmeralda. Era notável que sua pele bronzeada contrastava com o vestido azul semelhante às águas do mar de maré mansa e suave, permitindo-me pensar se era do mesmo teor macio que sua pele. Era tudo real, ela era real. Passarei horas e horas, se me permitisse ficar.
Nós caminhamos, em silêncio, durante um tempo. Ela na frente olhando por cima do ombro para se certificar de que a estava seguindo, é claro que eu estava. Não me importei com caminho de terra e pedras, estávamos subindo para algum lugar e ela parecia não se importar em estar descalça.
Ela estendeu a mão num pedido silencioso, queria que eu a segurasse então assim o fiz. Eu quase podia ouvi-la dizer "você quer segurar minha mão?", mas não poderia dar a ela uma voz, já que nunca a escutei, anseio por esse dia. A corrente elétrica perpassou por todo meu corpo quando ela entrelaçou seus dedos nos meus, estávamos tão próximas agora, mas ela ainda guiava o caminho.
Já conseguia ver a grama do topo onde julguei ser nosso destino. Ela se desfez do nosso contato e percebi que era como tentar segurar água entre meus dedos, como um fantasma que te cerca por um momento e você sente a presença e depois já não existe mais nada, mas ela estava ali ainda, eu a via com meus olhos e a senti com minhas mãos, mesmo que por um momento, por um curto momento eu a senti.
Lá de cima conseguimos ver todo o chão a nossos pés. O mar denso quebrando suas ondas nas pedras e o vento afastando nossos cabelos para trás dos ombros. Suas feições serenas permaneciam em seu rosto enquanto, de olhos fechados, sentia a brisa a acariciar. Tentei acompanhar seus movimentos, mas não podia me dar ao luxo de fechar os olhos e perder a vista. Fitei o horizonte e as batidas de meu coração aceleravam em simultâneo, segui os pássaros que voavam formando um V no céu azul límpido com meus olhos.
Estava de costas agora, na beira do penhasco. Não notei quando me movi para essa posição, a distração dos pássaros deve ter me conduzido a isso. Inspiro profundamente quando seus olhos me pegam desprevenida, tão perto. Ela deitou levemente sua cabeça para o lado e imitei seus movimentos como uma cobra em transe pelo som da flauta. Senti suas mãos, como plumas, fechando em formato de concha as laterais de meu rosto, seus olhos se fecharam no momento em que se aproximava. Enquanto seus lábios tocavam gentilmente os meus, caímos.
Acordei suando ainda sentindo o efeito de estar em queda. Era cedo, e se fechasse meus olhos conseguia ver seu sorriso, mas não como vi em foto, um sorriso triste que chegava em seus olhos e transparecia toda sua dor. Não tentei voltar a dormir depois de olhar no relógio, ainda era cedo e o dia hoje seria longo. Prometia ser ainda mais longo que os anteriores pelo simples fato que se tornou óbvio, se passei horas da noite lendo suas palavras melancólicas eu poderia a ver em meus sonhos.
Acabou que não antes do despertador tocar já estava de pé. Resolvi prender o cabelo em uma trança de lado, só para não ficar totalmente preso e nem totalmente solto. Depois de ontem ponderei avidamente sobre o que fazer agora. Deslizei por sua galeria por algum tempo e descobri que ela não era a maior fã de fotografias de seu rosto, as famosas selfies, em sua maioria aparecem de costas, ou eram paisagens e passagens de livros com alguma edição com um comentário do lado. Logo percebi que seu senso crítico sobre as artes eram um toque a mais que compunha - o que estava criando de você em pensamentos - alguém irreal.
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Procura-se
FanfictionO que fazer quando se encontra um celular no metrô? Gizelly, uma jovem professora de literatura, pensou que o dono logo apareceria, mas depois de semanas sem noticias sua curiosidade para encontra-lo falou mais alto. O que será que encontrará nessa...