Rafaella

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Tem coisas nessa vida em que estamos preparados e tem coisas que nos pega totalmente desprevenida. Às vezes é uma surpresa boa, e outras nem tanto. São incontáveis momentos com o qual me deparei com o desconhecido, e era sempre uma aventura, acredito ser sempre assim para todos nós afinal.

No entanto, nesses últimos meses este evento em que atualmente estou chamando vida tem me colocado em situações imprevistas por mim em várias formas, é como estar em um zoológico e no momento em que cheguei me sentia na savana com os leões, em alerta com o sentimento de perigo eminente, mas o que queria mesmo era me aconchegar com os pinguins em suas calotas de gelo e iglus.

Estou em minha varanda, sentada num desses balanços suspensos, o notebook descansava em meu colo enquanto relia alguns emails e escrevia um rascunho para um post. Nessa manhã em particular estava esperando uma resposta e repensava diversas vezes se realmente fiz o certo. Minha mente vagou para meses atrás, antes de sair de São Paulo comprei um celular, o que me foi útil para avisar algumas pessoas que estaria de férias em algum lugar do globo e que não queria ser incomodada.

A primeira noite foi confusa, na verdade, o primeiro mês inteiro aqui foi confuso, penso que minha ficha ainda não tinha caído, ou coisa parecida. Estava em temporada de chuva e chovia o tempo todo, mas vou chegar nisso depois, por agora quero atualizá-los de como estou. Como disse, o primeiro mês foi confuso, mas encontrei pessoas maravilhosas aqui. Acho necessário voltar um pouco e apresentá-los que lugar é aqui.

Depois que entrei no carro, rodei mais um tempo por dentro da fúria tempestuosa da mãe natureza, isso até encontrar um hotel de beira de estrada e me instalar por lá mesmo sem me importar com a procedência duvidosa do lugar. Naquele momento não importava muito, sentia minha alma sendo lavada com a chuva e quando a água quente bateu contra meu corpo, um arrepio me percorreu por inteira. Sorri com a sensação oposta e com o aconchego que o calor estava me dando ali.

Permaneci apenas o suficiente para tomar um banho e tirar a sensação gelada do corpo, já era tarde quando me sentei ainda de toalha na cama e jantei o que tinha em minha bolsa, algo que comprei no posto de gasolina que parei anteriormente, quando ainda era cedo. Dormi com o cabelo enrolado numa toalha e com travesseiros altos, estava quase sentada na cama. Acordei na manhã seguinte relaxada e renovada. Nem de longe era o melhor hotel em que já estive, mas naquele momento foi a melhor coisa que me aconteceu.

Tive que esperar passar e meu banco secar para poder continuar, durou uns dois dias inteiros e nesse tempo apenas existia naquele quarto de hotel. Sai, mesmo na chuva para almoçar em um restaurante churrascaria que tinha ali perto e comprei um guarda-chuva e uma capa transparente. Era bom colocar algo caseiro e quente em meu estômago ao invés das porcarias que encontrava no caminho.

Talvez quando chegasse eu poderia adquirir este hábito de cozinhar, foi um pensamento que me ocorreu enquanto estava em meu quarto de hotel de número 3, comendo meu jantar embrulhado no almoço na churrascaria. Quando meu banco estava seco o suficiente para não me molhar mais, era por volta das onze da noite quando joguei fora as embalagens e deixei o quarto como se eu não estivesse lá por quase três dias.

Encarei o quarto limpo e senti meu coração se acelerar em simultâneo, a taquicardia me pegou com a lembrança de um poema do Manuel Bandeira intitulado de 'a morte absoluta' junto de meus pensamentos de não estar ali por quase três dias inteiros. Eu estive ali, eu ainda estou, então, por que apagar os rastros? Não era justo.

A Morte Absoluta

Morrer. // Morrer de corpo e de alma. // Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo da carne, // A exangue máscara de cera, // Cercada de flores, // Que apodrecerão - felizes! - num dia, // Banhada de lágrimas // Nascidas menos da saudade do que do espanto da morte.

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