RIZOMA - blog
Retrato
por Rafaella Freitas
16 de nov. de 2023
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
Dias atrás quando li este poema (Retrato) logo me peguei pensando no que ele transportava para mim. Talvez trata-se de uma imagem congelada, cristalizada, parada no tempo e no espaço. De fato que seus versos referem-se tanto à aparência física como também à angústia existencial interior, motivada pela noção da passagem do tempo, é tão claro isso... ao longo dos versos os sentimentos de melancolia, angústia e solidão... geram tanta identificação. Percebo também a tristeza manifestada pela consciência tardia da transitoriedade da vida, nos faz pensar não é?!
Nota-se a velhice a partir da degeneração do corpo, é algo inevitável de se pensar, ademais, sinto-me melancólica no momento, então já lhe peço perdão por meu pessimismo, hoje não é um daqueles dias bons. Ainda pensando, no entanto, no último verso, poderosíssimo por sinal, que me deixo levar pela crise e reflexão existencial profunda: em que espelho ficou perdida a minha face?
Ela se perdeu, e eu me perdi.
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Esse era um daqueles dias em que me sentia deprimida. Não queria ter que falar nada no grupo, marcado pontualmente para às exatas 14 horas. Poderia facilmente inventar desculpas bem elaboradas, mas é claro que ficaria evidente a minha mentira, sequer tinha energia para tal no momento.
Sinto que é somente quando estou triste que consigo decodificar o que estou pensando e sentindo, no entanto as coisas que me vinham não eram de fato muito claras. Não era uma manhã horrível, muito longe disso, o sol raiava no céu, tão brilhante e calorento que incomodava se ficasse tempo demais exposta. Nesse dia usava apenas um vestido solto, o tecido tão leve que quase não o sentia tocando em minha pele, o que era bom.
No momento, analisava o reflexo da copa das árvores na água, atenta a qualquer movimento de folhas caindo ou de pássaros alçando voos. Não fui muito longe, apenas alguns passos de casa, não achei que viriam atrás de mim, mas como já era a terceira falta seguida, Adélia me encontrou.
Ela se sentou e permaneceu ali compartilhando seu silêncio comigo. Meus olhos não a alcançavam completamente, apenas a percebia pelo canto de olho e por cima dos ombros. Não me esforcei nem um pouco para olhá-la. Estava sentindo que me questionaria a qualquer momento, porém não pretendia dizer nada. No entanto, o silêncio que nos abraçava logo começou a me incomodar.
- Não tenho nada para falar hoje, Adélia. - Confessei trocando a água pelo céu.
- Tudo bem. - Respondeu ela simplesmente.
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