Deveriam nos avisar, sabe, para não haver surpresas. Há pouco mais de uma hora que o celular começou a vibrar e tocar em cima do descanso das chaves onde o tinha deixado. O som de uma música melodiosa e estranha da qual nunca tinha ouvido sequer falar do artista ecoava pelo apartamento. Andei até o aparelho iluminado no meio da madrugada, a princípio pensei ser alguém ligando, o que poderia ser ótimo, - no entanto, eram as quatro da manhã, pelo amor de Deus, cadê o bom senso? - devolveria o celular e tudo voltaria a ser o que era antes, mas não era, apesar das notificações que não paravam, era apenas uma música tocando no spotify, a dona, presumo que seja de uma mulher devido a capinha lilás e o bilhete escondido e escrito delicadamente em letra cursiva dentro dele. Era uma sequência de números estranhos com algumas abreviações, pensei ser um número de telefone, mas não, eram poucos para tal.
As Long As You Love Me, passava no aparelho, a bateria quase acabando, o nome do artista, Sleeping At Last, enchia o apartamento escuro. Era bonita e melancólica, diferente das que costumava ouvir no dia a dia. Pensei em apenas pausar, ou abaixar o volume e voltar a dormir, mas a sensação de estar ouvindo no som compartilhado o mesmo que a dona ouvia me deu uma agitação no estômago, antes mesmo de pensar no que fazer o spotify pausou e logo foi desconectado, a bateria tinha acabado e levou consigo aquela sensação. Estou nesse lugar desconhecido, talvez o que esteja vivendo aos olhos dos outros possa ser bizarro, bom, é meio bizarro.
Até agora não tive nenhuma notícia. Sempre o deixo comigo caso alguém ligue o querendo de volta. Me pergunto o que a moça está fazendo a essa hora da manhã, ou o porquê de estar acordada, será que sofria de insônia ou algum tipo de distúrbio do sono? Ou será que teve um pesadelo, poderia estar trabalhando até tarde também, o que me levou a fantasiar com o que ela trabalhava, no entanto, sem a senha era difícil dizer.
Os dias se seguiram, um após o outro e nada. Era completamente frustrante. Estou no metrô, e era estranho, quero dizer, a curiosidade estava me matando, poderia só deixar para lá, é claro, e seguir minha vida como se não houvesse encontrado nada, ou ao menos poderia vendê-lo, mas seria errado.
- Ansiosa para o date dessa noite? - Percebo que me distraí da conversa que estava tendo com Ivy.
A morena alta ao meu lado segurando seu tapete perfeitamente dobrado embaixo do braço, seus cabelos esticados e cheios de gel presos no alto da cabeça em um coque, não havia nenhum fio rebelde que ousava se rebelar. Ela me ofereceu um sorriso esperando a resposta.
- Acho que sim, um pouco, sim.
- Não me parece certa disso.
- Talvez só um pouco cansada, hoje foi um dia cheio.
- Você tem que parar de anotar as coisas em seu braço. - Observo os números ali, agora quase apagados pelo dia, solto o ar pelo nariz frustrada. Não é surpresa que anotei a sequência de números, não a mensagem inteira pois não sou maluca, só a primeira parte, é claro.
- Achei um celular aqui na semana passada. Tinha uns números dentro da capinha, estou esperando o dono aparecer ou ligar, mas até agora nada. Pensei que poderia resolver esse enigma, sei lá, algo assim.
- Talvez a pessoa não se importe o bastante para procurá-lo, é só um celular, já pensou nisso? - Acenei com a cabeça, mesmo discordando. Quero dizer, se fosse comigo eu ligaria para saber, teria um fio de esperança em encontrá-lo pelo menos. - Algumas coisas acabam se perdendo e isso é tudo.
- Hm.. - murmuro sem muita vontade de entrar nesse assunto, não gostei de saber que ela não se importa para procurá-lo, a curiosidade é realmente uma vadia. - Mas ainda sim queria ter a oportunidade de devolver.
- Tudo bem, mas não se encane com isso. - Afirmei com a cabeça. - Então... o professor de física hein, finalmente ele te convidou para sair.
- Não sei se estou muito animada para isso, para falar a verdade, estou cansada demais para ir ao teatro hoje.
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Procura-se
FanfictionO que fazer quando se encontra um celular no metrô? Gizelly, uma jovem professora de literatura, pensou que o dono logo apareceria, mas depois de semanas sem noticias sua curiosidade para encontra-lo falou mais alto. O que será que encontrará nessa...