(Por favor oiçam a musica que está abaixo)
Domingo. Este é um daqueles dias em que acordo lentamente, vazia, com dificuldade em abrir os olhos. Eu não quero acordar, a realidade é pior do que os pesadelos.
Eu mantenho-me na mesma posição em que acordei, olho para as paredes amarelas do meu quarto, e observo os poucos raios de luz que entram pela minha janela. Ainda estão todos a dormir.
Silenciosamente levanto-me da minha cama, mas com calma pois tenho medo que está ranja, tal como o chão que é de soalho, mas não o flutuante, porque senão faria muito mais barulho.
Ontem á noite já tinha tomado banho e lavado o cabelo, por isso com a pressa, lavo apenas a cara para dispertar, pego num livro, o único que tenho em inglês por sinal, intitulado de "wuthering heighs" e ponho-o numa mochila preta da eastpack. Eu tenho muitos livros, vários clássicos, adoro clássicos, mas este é o meu preferido, costumo lê-lo quando estou triste, ou sem emoções, e já o li vezes sem conta, dá para perceber devido á sua capa rasgada e dobrada.
Ponho na mala também um iPod e uma maçã, o meu telemóvel ,um caderno e um estojo. Eu gosto de desenhar.
Saio de casa com cuidado ao fechar a porta, o sol ainda está a nascer, eu tento andar o mais rápido possível para um descampado, que fica longe de tudo, eu fui para lá na esperança de conseguir fugir aos meus pais que hoje ficam em casa, como todos os domingos.Eu tenho uma regra: quando eles estão eu não estou, quando eu estou eles não estão.
Parece-me uma boa regra.. Pois eu não consigo ficar no mesmo espaço em que as pessoas só magoam as outras á sua volta.
#Flashback on#
Os meus pais estão outra vez a discutir, eu oiço a minha mãe a chorar, e portas a baterem.
Os seus estrondos forção-me a tapar os ouvidos com as minhas pequenas mãos, eu estou enrolada numa pequena bolinha num canto entre a parede e a minha escrivaninha, a porta do meu quarto está fechada, mas continuo a ouvir o meu pai a gritar, eu estou aterrorizada. Embora eu já esteja habituada, sempre foi assim, não sei porque o fazem, mas sempre penso que a culpa é minha. Eu não gosto que gritem, especialmente comigo, dá-me vontade de chorar, eu não queria estar aqui.. Eu não pedi para estar aqui... O que é que eu terei feito?
#Flashback off#Quando chego ao monte, que é como lhe chamo para além de descampado, retiro o iPod e desembaraço os fones. Seleciono a música da Ellie Goulding - "hearts without chains" e ponho a programada para repetir sempre que acabar. Retiro também da mochila preta o telemóvel, e começo a mandar-te sms, mesmo sabendo que não me vais responder por estares a jogar. Tu és a única pessoa com quem eu me sinto bem a desabafar sobre os meus problemas familiares, ironicamente és o único que não se porta muito comigo.
Depois de te escrever uma espécie de testamento em sms e de te enviar, ponho-me a ler o " monte dos vendavais" que é a tradução do nome do livro que estou a ler.
Mas não me consigo concentrar, e por isso tento comer a maçã pões ainda não comi nada. E penso naquela vaga lembrança em que eu tinha apenas 5 anos, e pela primeira vez a minha mãe olhou para mim e gritou: que ela deseja-vá nunca me ter tido.
Talvez eu não devesse mesmo ter nascido, o meu pai também sempre me disse que eu nunca seria ninguém, que sou demasiado preguiçosa. Burra e inútil, como a minha avó diz.Ás vezes queria que alguém me apoiasse, que fosse a família que eu nunca tive, eu não os considero como família de qualquer das maneiras, é uma maneira de eufemizar o que sinto. Não posso sofrer por pessoas que não se importam.
Infelizmente nem tu te importas.
E se tudo o que eu pedisse fosse um abraço, um pouco de atenção, eu sei que não me darias. Afinal.. Apenas o que tu queres te importa.Entretanto faço outra promessa a mim mesma: Eu nunca serei assim tão egoista, eu abdicarei do que puder para ajudar as pessoas que amo, por mais que me custe.