Estar à altura

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veio aí o tropecin que a gente precisava, não me xinguem nem me cancelem
amo vocês

Os dias passaram com tanta rapidez que Bianca mal teve tempo de sentir as mudanças leves ao seu redor. Sua rotina se adaptou à de Rafaella, e quase todas as noites dormia junto da mulher. Praticamente sua namorada. Praticamente, mas não oficialmente.

Não sabia muito bem o que eram, mas eram mais que amigas, isso era óbvio não só para elas como para toda a cidade. O que para Bianca era um mártir. Ser tachada de interesseira era terrível, mas saber que era assunto de fofoca tão maldosa quanto aquela incomodava a morena profundamente.

Entendia que havia uma dúvida sobre o porquê tinha dado uma chance à Rafaella depois de tantos anos, mas era sua vida e ninguém devia se intrometer.

Só que se intrometiam demais. Intrometiam à beça. Era horrível sair com Rafaella para qualquer lugar que fosse e sentir os olhares condenatórios não tão discretos. Na fazenda, era ainda pior. Os funcionários encaravam a morena como se ela fosse uma prostituta, o que não seria um problema se fosse, mas a questão era que Bianca não era uma.

E o incômodo foi se alastrando ainda mais cada vez que Rafaella parecia não dar a mínima para aquilo. Não precisava defendê-la, não esperava isso, mas ao menos queria algo do tipo "eu sei que o que temos é verdadeiro". Não veio, nem chegou próximo de vir.

Outro incômodo grande era Rodolffo.

Bianca o detestava. Sentia ódio e repulsa do amigo de Rafaella. Tudo isso intensificou quando percebeu que o rapaz estava se aproveitando da mulher.

O primeiro acontecimento foi quando Rafaella o presenteou com uma caminhonete caríssima. A desculpa foi que Vicente tinha uma grande coleção de carros, um entre vários outros não ia fazer diferença.

Bianca entendeu e achou aceitável, afinal, gostando ou não do homem, ele era alguém próximo de Rafaella.

Mas não parou por ali. Depois vieram os relógios, os colares de ouro, as roupas de marca. Rodolffo parecia um gigolo, usando Rafaella para conseguir o que queria. Estranhamente, ninguém achava aquilo esquisito. Nem mesmo quando ele mandou o jatinho de Rafaella buscar um bando de gente desconhecida em Goiânia para a festa que ele estava organizando na casa de Rafaella.

Agora a mulher morava sozinha na mansão deixada pelo o avô, uma vez que Genilda se recusava a usufruir de qualquer coisa que tinha sido deixada pelo pai. Continuava a trabalhar na prefeitura e morava na casa terrea do antigo bairro de Rafaella.

Bianca sentia falta do antigo quarto da mulher. Ele era aconchegante, com a cara de Rafaella. Os livros de cálculo da faculdade, as medalhas das olimpíadas de matemática que ela ganhou na época da escola e até mesmo da cama de madeira escura. O novo quarto de Rafaella era branco demais, sem personalidade, apenas um grande e espaçoso cômodo.

E não era como se Bianca recusasse luxo, porque ela não recusava, mas nada daquilo remetia a sua Rafinha. Sentia falta da mulher com camisa xadrez e a medalha no pescoço. Agora a medalhinha tinha sido substituída por uma corrente discreta de ouro puro. Recomendação do insuportável Rodolffo, é claro.

Bianca já estava farta daquele cara. Imaginava que um dia ele iria se intrometer até na vida sexual de Rafaella. Não duvidava de mais nada vindo de Rodolffo.

— Tá pronta, Bi?

A morena se encarou no espelho conferindo o biquíni mais uma vez. Era um conjunto vermelho simples, mas muito bonito. Vermelho porque era a cor favorita de Rafaella e porque ela gostava de ver Bianca usando a cor.

— Tô sim. E você?

— O que você acha? Uh?

— Dá uma voltinha pra eu ver.

Caso Indefinido - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora