Quase nada

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 a pedido de alguém, veio aí rsrs


Foram incontáveis vezes que Bianca abandonou um de seus amantes na penumbra da noite para evitar qualquer diálogo na manhã seguinte. Apesar da pequena cidade ser conhecida pela fofoca, Bianca conseguira manter seus casos de uma noite em segredo, ocultando de todos suas escapadas no meio da noite. Mas daquela vez, não se tratava de um caso qualquer. Não se tratava de uma foda apenas. Rafaella jamais entraria para esse grupo.

Sair ao amanhecer sem dizer para a fazendeira, fora um caso impensado e irresponsável. Bianca sentiu o peso da escolha ao chegar em casa e perceber que tinha tirado uma conclusão muito precipitada, sem dar qualquer chance de Rafaella lhe contar sua versão.

Ao mesmo tempo em que a ideia de sumir sem dizer nada veio num sopro, ela se foi em um piscar de olhos. Em casa, sem as peças íntimas e com um vestido amassado, Bianca sentiu o peso da escolha em suas costas. Tinha sido uma grande imbecil em sair sem avisar. Se Rafaella não aceitasse suas desculpas, a morena entenderia, afinal, sua falta de noção e seu excesso de ciúmes havia levado ela até ali: na casa vazia dos pais.

Se praguejou por ter agido por impulso daquela vez. Se praguejou ainda mais por se deixar levar pelo ciúmes. Tentou não remoer o assunto, mas quando percebeu, estava em uma ligação com as duas amigas para pedir conselhos. Já tinha cometido o erro de qualquer forma, só precisava escolher como consertá-lo.

Era final da tarde quando Rafaella terminou de carregar a caminhonete. Usava somente um roupão felpudo sobre a nudez. Estava sozinha de qualquer forma, não tinha com o que preocupar. No peito a dor de ter sido deixada por Bianca, e nas mãos as malas com as roupas que costumava a usar com mais frequência. Jogou a última mala na carroceria, batendo uma mão na outra sem esperar qualquer coisa daquele dia. Os amigos estavam cansados da farra da noite anterior, Bianca havia sumido e mãe ainda em viagem com o namorado. O que restou à Rafaella era cuidar de sua vida, e ela estava o fazendo, decidida a dar fim em seus problemas.

Mas então foi surpreendida.

Abrindo o portão da garagem, Bianca cruzou a entrada com o rosto livre de qualquer maquiagem, o que não acontecia com frequência, causando um pulo na fazendeira distraída. Não era como se Rafaella esperasse por algum milagre. Já tinha aceitado que Bianca tinha se precipitado e ido embora ao perceber isso, mas ali estava ela.

Rafaella fingiu não se atingir com a presença da morena. Bateu a porta da carroceria, dando por finalizado o trabalho exaustivo de jogar as malas ali. Se virou e fez o caminho para fora da garagem ainda sem dizer nada. Sentiu ser acompanhada por Bianca, mas manteve o silêncio e a indiferença mesmo que por dentro desejasse exigir explicações para o que tinha acontecido.

Continuou seu caminho em silêncio, que só não era ensurdecedor por conta da música alta que ecoava pela casa. A primeira coisa que Bianca fez ao entrar, foi dar fim aquele barulho insuportável. Não poderiam conversar com Zé Neto e Cristiano no último volume cantando se alguém beberia ou não beberia.

Automaticamente, Rafaella girou nos calcanhares pronta para soltar os cachorros na mais baixa, mas não teve tempo para começar seu discurso. Bianca tomou a frente, respirando profundamente antes de iniciar seu discurso.

— Eu fiz uma coisa horrível. — confessou tirando uma parte do peso das costas.

Rafaella riu sem humor. Tomou o celular das mãos de Bianca, dando play na música que estava próxima do refrão. Não se importou se estava sendo rude, o coração ainda estava machucado.

— Não me diga, Bi. — ironizou a mais alta, tendo das mãos o celular tomado. Bianca desligou a música novamente, devolvendo o aparelho como se ele queimasse.

Caso Indefinido - RabiaOnde histórias criam vida. Descubra agora