A tragédia

20. saudade

O quadro Saudade faz parte daquele grupo de telas preciosas que te marcam sem você ao menos perceber. E é talvez o quadro de mais sentida expressão que o Brasil possui. Quando Jennie estava fazendo suas descobertas artísticas ela fez uma visita à Pinacoteca do Estado de São Paulo, e então se viu diante do que seria um dos seus quadros favoritos, essa obra de Almeida Júnior tem a estrutura padrão do século XIX, porém ele transgride quando mostra o sofrimento e os sentimentos de uma mulher simples. Nessa época as emoções não eram retratadas e ele valoriza os sentimentos de uma classe social que não pertencia à elite. Luz perpendicular, cores frias e a presença de uma ausência. Isso é saudade. Do latim solitatem, sentimento melancólico devido ao afastamento de uma pessoa, uma coisa ou um lugar, ou à ausência de experiências prazerosas já vividas. Saudade dói e lateja, e era tudo isso que Jennie sentia.

Ela não vai mais para a aula. Principalmente porque está no meio de março e ninguém mais vai à aula complementares. A morena está definitivamente passada em todas as aulas neste semestre. Ela raciocinou que não fazia sentido perder tempo com palestras quando ela mal prestava atenção de qualquer maneira. Jisoo ainda a força a ir para a universidade, onde ela passa seu tempo na biblioteca com Rosé ou Jisoo. Kim sempre agradece que as duas a incluem em tudo.

Depois das aulas, Jennie geralmente acaba o trabalho na galeria, todos os preparativos de pintura para a próxima exposição foram concluídos, então ela passa seu tempo na recepção. Às vezes, Jiwoo fica com ela e elas fazem companhia uma à outra enquanto fazem seus respectivos trabalhos. Outras vezes, sua tia sai mais cedo do trabalho para ficar com sua nova namorada.

Desde a noite na galeria, cada dia fica mais fácil para Jennie. Ela finalmente chegou à conclusão de que essa separação foi mais para Lalisa do que qualquer outra coisa. Ela sabe no fundo que Manoban ainda a ama. Ela ainda pensa constantemente na mulher de cabelos cinza, mas esses pensamentos não trazem mais lágrimas aos olhos ou fazem seu peito se contrair. A morena apenas sente muito a falta dela. Sentir. Uma palavra cheia de significado, e ela sente todos eles.

Esta noite, ela foi deixada sozinha na galeria. É uma noite de sexta-feira, então Jiwoo saiu com a sua namorada. Jennie está terminando de fechar a galeria quando seu celular toca. O barulho estridente preenche a sala silenciosa. Ela tira o telefone do bolso de trás, sem olhar para o identificador de chamadas enquanto atende. — Olá?

A outra linha tem uma música suave tocando na parte de trás e ela pode ouvir algumas risadas. — Ei, Jendeukie!— Jisoo grita ao telefone, com sua voz cheia de risos. — Você está pronta?

Jennie suspira. Ela esqueceu que Jisoo a está forçando a sair para uma boate esta noite. Kim esfrega a têmpora. Foi um dia exaustivo e a última coisa que ela quer é ficar bêbada e estar rodeada de pessoas suadas. Tudo o que ela quer é aninhar-se na cama com uma boa taça de vinho.

— Eu tenho que ir?— A morena pergunta. Sua voz ligeiramente chorosa.

Há risos do outro lado, Jennie sabe que Rosé está com sua amiga agora. Ela não pode deixar de rir das coisas que ela fala. A morena está surpresa que estar perto da mulher de cabelos lavanda não doeu tanto quanto ela pensava. Park nunca fala sobre Manoban, nem mesmo quando Jennie pergunta.

— Sim, você prometeu.— Rosé grita na parte de trás.

A mulher sorri levemente. Ela é grata por ter amigas como elas. Talvez esta noite seja divertida. Jennie respira fundo uma última vez antes de responder. — Tudo bem, estarei em casa em 30 minutos.

As meninas comemoram do outro lado antes de desligar. A galeria fica silenciosa novamente depois que Jennie guarda o celular. A tristeza que geralmente surge está longe de ser encontrada. Kim promete a si mesma naquele momento que fará desta noite a melhor noite que puder. Ela termina as últimas tarefas e começa a voltar para casa.