14. ensemble one

1.4K 197 136
                                    

É um dia ameno de inverno em Milão. A neve finalmente parou e permitiu que o mundo ao redor delas experimentasse a luz solar nutridora. Jennie está brincando ansiosamente com o zíper da jaqueta entre os dedos, com Manoban dirigindo ao lado dela. Elas não falaram muito hoje. Desde o despertar silencioso ao se preparar. Kim segue cada movimento de Lalisa, sem saber um único plano. Ambas ainda pensando nos acontecimentos da noite anterior.

— Você se move como se estivesse acima de nós. Com tanto poder e simplicidade. Acho que nunca quis nada mais do que você. Estou me apaixonando por você.

As palavras escaparam dos lábios de Manoban tão facilmente. Algo que teria levado Jennie a repetidas repetições em sua cabeça. Ela não respondeu. Ela não sabia o que dizer, sua voz perdida no túnel escuro de sua garganta. Elas se encararam até que seus olhos não pudessem mais ficar abertos.

Não é necessariamente estranho no carro, mas o ar está estagnado. A morena percebe que Lalisa está tão nervosa quanto ela pela maneira como seu dedo bate repetidamente no volante. Manoban está esperando que ela diga alguma coisa, qualquer coisa. A visão de Kim é tão focada no interior vermelho do Urus para abraçar totalmente a beleza de Milão, mas ela não sente que está perdendo nada.

Jennie nunca se considerou covarde, mas agora se sente muito fraca para responder. Amor. Isso raramente era dado a ela. Algo que ela sempre deu tão livremente. Kim sempre amou tão abertamente, mas com Lalisa é diferente. Ela tenta se convencer de que não ama Manoban, mas sempre fica aquém devido à dor em seu peito. A sensação é tão obscura que a morena fica nauseada toda vez que pensa a respeito. Ela sente isso a provocando. Ela quer estender a mão e abraçar o amor totalmente, mas teme que ele se afaste de suas mãos. Como sempre fez.

Eventualmente, Lalisa estaciona o carro no meio de um estacionamento vazio rodeado por árvores centenárias cobertas pela neve. Sem nenhuma palavra falada, Manoban sai do carro, seus pés esmagando a neve enquanto ela sai. Jennie a segue, parada junto à porta fechada enquanto a mulher de cabelos cinzas dá a volta no carro. Seu rosto está em branco quando ela passa pela morena, parando a uma pequena distância e estendendo a mão para trás.

Jennie captura seus dedos entre os dela e elas caminham em uníssono no caminho de terra parcialmente coberto de neve. Os únicos sons presentes são a respiração e os pés batendo no chão. Sua respiração soprando nuvens nebulosas enquanto elas caminham. Kim sente que cada passo se torna cada vez mais insuportável com o silêncio entre elas. Ela sente a necessidade de fazer algo para mudar isso.

Então, ela para. Sua mão se separa da desavisada Manoban. A mulher se vira com uma expressão confusa no rosto. Uma mão no bolso da jaqueta e outra deixada sozinha, pendurada ao lado dela. A longa jaqueta preta de feltro a envolve, seu cabelo exuberante solto e descuidadamente ao redor dos ombros. Jennie absorve toda a sua beleza.

— Você já ficou tão triste a ponto de sentir seu coração desabar?— Jennie pergunta. A coragem de falar vindo do nada.

A confusão de Lalisa aumenta, mas ela ainda pondera a questão. — Sim.

— Eu me sentia assim o tempo todo. Eu não tinha controle de mim mesma, me sentia como um cadáver ambulante.— A voz de Jennie ficando cada vez mais quebrada. — Eu não suportava viver, então tentei pintar meu próprio retrato na esperança de me trazer de volta à realidade. Quando terminei, não consegui suportar me olhar nos olhos. Então, eu o manchei.

Kim faz uma pausa para ganhar compostura. Seus olhos se fecharam, não sendo capaz de suportar o olhar de Manoban. Ela respira fundo para impedir que as lágrimas surjam e para controlar a ansiedade. Ela ouve passos perto dela, mas levanta as mãos para detê-los.

A tragédiaOnde histórias criam vida. Descubra agora